A Copa Rio Internacional foi um torneio realizado precisamente nos anos de 1951 e 1952, tendo Palmeiras e Fluminense como seus respectivos campeões. Mas, apesar da história lhe gabaritar como o torneio à nível mundial da época, a Fifa não reconhece os títulos no mesmo nível da Copa Intercontinental ou da Copa do Mundo de Clubes. E então, surge a grande discussão: Mundial ou não?

A Copa Rio seguiu moldes idênticos ao primeiro Mundial de Clubes realizado sob chancela da Fifa, em 2000. Sem a existência da Liga dos Campeões ou da Taça Libertadores, as equipes participantes eram escolhidas pelas federações mais fortes dos principais continentes.

Apesar dos pesares, a Fifa autorizou a realização dos torneios sob comando da extinta CBD, que viria a se tornar a CBF no futuro. Vale destacar que a Copa Intercontinental também não carregava o selo da entidade em sua organização, mas passou a ser reconhecida como 'Mundial de Clubes' anos depois.

"Imagine a Fifa decidindo mudar o regulamento da Copa do Mundo. Então, todos os campeões perdem seus méritos e os títulos passam a contar a partir do novo torneio. Assim foi com a Copa Rio. Na época, todos comemoramos como título mundial, pois era o campeonato mundial de clubes daquele tempo", disse Roberto Neves, 89, torcedor do Palmeiras.

Pontos positivos para a Copa Rio Internacional

A Copa Rio Internacional tem a sua importância histórica em virtude de ser a primeira tentativa de organização de um Mundial de Clubes. A mesma foi criada para curar a cicatriz da Copa do Mundo de 1950 e fazer com que o público não perdesse o interesse no esporte.

Apesar da Seleção Brasileira ter amargado o vice-campeonato em 50, o Brasil ainda engativanha para o futebol e a Copa Rio foi fundamental para o desenvolvimento de uma Liga Nacional no país. Além disso, Conmebol e UEFA relatam que o torneio foi o pontapé inicial para criação da Copa Libertadores e da Liga dos Campeões.

Oficialmente chamado de Torneio Mundial do Campeões, o Palmeiras tornou-se campeão em 1951 após vencer a Juventus na decisão. Giampiero Boniperti, artiheiro da competição, afirmou à imprensa que a Copa Rio foi entendida como Mundial de Clubes por ele e seus companheiros no clube italiano.

Após fracasso da Seleção Brasileira, coube aos heróis Fábio, Salvador, Juvenal, Túlio, Villa, Dema, Lima, Ponce de León, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues levar o Palmeiras ao topo do mundo, conforme as capas de jornais da época mostravam. O Última Hora afirmava que "não se podia comparar a Copa Rio, que era um verdadeiro Campeonato Mundial de Clubes Campeões, com qualquer turnê de pré-temporada".

O "projeto impressionante" teve uma recepção entusiástica dos dirigentes da cúpula da FIFA, sobretudo de Ottorino Barassi, Jules Rimet e Stanley Rous, três dos principais representantes da entidade. O Uruguai - maior campeão mundial da época - se candidatou para sediar a segunda edição do torneio, mas o Brasil manteve a preferência.

Em 1952, foi a vez do Fluminense conquistar o mundo após vencer o Corinthians por 4 a 2 no placar agregado. O histórico 11 inicial Tricolor era formado por Castilho, Píndaro, Pinheiro, Jair, Édson, Bigode, Telê, Didi, Marinho, Orlando e Quincas. E as manchetes novamente tratavam a conquista como um título mundial (abaixo).

Conclusão: com ou sem o selo da Fifa, imprensa, torcedores e jogadores consideravam a Copa Rio como o torneio Mundial de Clubes da época. Não faltam registros para sua comprovação.

O que pesa contra a Copa Rio Internacional

A corrida pelo reconhecimento da Copa Rio começou nos anos 2000, logo após o Corinthians faturar seu primeiro título mundial. Buscando se igualar ao seu principal rival, o Palmeiras tomou a iniciativa e foi apoiado pelo Fluminense, também campeão.

Na época, Jules Rimet, presidente da Fifa, afirmou que "a Copa Rio não era submetida à FIFA, sendo de total competência da CBD durante sua realização". Ou seja, apesar da autorização da entidade, a mesma não quis se vincular diretamente ao torneio.

Os vice-campeões nacionais (Libertad, Saarbrücken, Austria Viena) e a ausência de grandes potências como Estrela Vermelha, base da seleção iugoslava, Rapid Viena, campeão austríaco, e Barcelona, bicampeão espanhol, se destacavam. O Real Madrid foi convidado, mas não houve acordo financeiro para sua participação.

Existe também o temor por parte dos dirigentes para reconhecer os Mundiais de 51/52 pois isso poderia acarretar em pedidos legais de outras competições similares. O Pequeno Mundial de Clubes, realizado na Venezuela, é o mais conhecido entre eles. O Corinthians tentou o reconhecimento do título de 1954, mas foi recusado. Hoje, é visto apenas como torneio de pré-temporada.

Por fim, vale lembrar mais uma vez que apesar da Copa Intercontinetal/Toyota não ter carregado o selo Fifa durante sua execução, a mesma foi reconhecida oficialmente pela sua identidade por meio de um documento oficial (abaixo), disponível em seu site.

Concluímos que: é impossível ter uma conclusão 

A Copa Rio é - com certeza - um dos torneios de maior importância histórica que já existiu. Mais que uma simples competição, sua realização acarretou em evoluções significativas para o futebol nacional e internacional.

A criação de uma Liga Nacional, o desenvolvimento da Copa Libertadores e da Liga dos Campeões, a 'cura' para o povo brasileiro após o fracasso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950 são frutos colhidos até hoje. 

Porém, entretanto, todavia, a briga eterna para seu reconhecimento permanecerá. É nítido e comprovado que todos os atletas e equipes que participaram da Copa Rio, a consideravam como o Mundial de Clubes da época. Registros não faltam.

Porém, o temor da Fifa não se deve nem pela sua legitimidade, mas sim pelas brechas legais que a Copa Rio deixou passar. Brechas essas que, por exemplo, não são tão facilmente encontradas na Copa Internacional e colocam as decisões da entidade em xeque.

Por fim, apesar dos pesares, não será um fax que irá apagar o valor das conquistas de Palmeiras e Fluminense. São título internacionais dignos de honraria e comemoração, considerado Mundial ou não. E, convenhamos, a aceitação de uma entidade nunca apagará a história.

Bibliografia:  GALUPPO, Fernando Razzo - Palmeiras Campeão do Mundo 1951; COELHO, Eduardo - 1952: Fluminense Campeão do Mundo; DUARTE, Orlando - O alviverde imponente; Acervo: O Globo, O Diário, A Gazeta Esportiva, Jornal do Brasil; Mídia digital: Futeblog, Flu Memória, Trivela.com, História - Palmeiras Todo Dia. Fotos: Bruno Haddad/Fluminense FC, Reprodução/Fifa.