O dia 19 de setembro de 1993 ficou marcado na história da Seleção Brasileira e também na carreira de um dos maiores jogadores de todos os tempos. Foi neste dia que Romário fez chover no Maracanã e deu o primeiro passo para sua consagração como campeão mundial pelo Brasil, no ano seguinte. Disputando as Eliminatórias da Copa do Mundo, justamente contra o Uruguai, a Seleção precisava de pelo menos um empate para ir aos Estados Unidos, mas Romário não se contentou com apenas um ponto.

Na época, o atacante tinha acabado de chegar ao Barcelona, depois de passagem espetacular pelo PSV Eindhoven, e vivia a melhor fase de sua carreira. No entanto, não era convocado para a Seleção desde o fim do ano de 1992, por conta de uma briga com a comissão técnica, comandada por Carlos Alberto Parreira, o treinador daquela equipe, e Zagallo. No entanto, precisando da vaga, o técnico acabou cedendo à pressão popular e convocou novamente o Baixinho para a partida contra o Uruguai, em decisão que se provou acertada.

Com mais de 100 mil torcedores presentes num Maracanã que ainda preservava suas formas originais, incluindo a famosa "geral", onde todos os torcedores assistiam à partida em pé, Romário teve uma de suas melhores atuações, como se provasse para Parreira que não podia deixar de vestir a camisa amarela da Seleção. Ainda que o goleiro Robert Siboldi tenha adiado a consagração do centroavante, não foi possível resistir à grande partida brasileira naquele 19 de setembro.

A briga de Romário com Parreira e volta à Seleção

Um elemento que tornou o jogo contra o Uruguai em 1993 ainda mais importante foi a volta de Romário à Seleção Brasileira justamente nesta partida, depois de não atuar em nenhum jogo das Eliminatórias para a Copa de 1994 por conta de uma declaração que não repercutiu bem entre a comissão técnica. Após um amistoso contra a Alemanha, o atacante, reserva de Careca na ocasião, reclamou publicamente e afirmou que preferia não ser convocado se fosse reserva.

Sem Romário, a Seleção Brasileira não conseguiu fazer boas atuações e correu sérios riscos de não se classificar à Copa do Mundo de 1994, o que seria o maior vexame de sua história. Emplacando apenas uma vitória nos primeiros quatro jogos, o Brasil conseguiu se recuperar no returno, vencendo Equador, Bolívia e Venezuela, mas ainda precisava de um empate contra o Uruguai para ir ao Mundial. Caso perdesse, estaria fora. A decisão seria no Maracanã e Romário, que fazia pré-temporada sensacional com o Barcelona, foi convocado.

No Maracanã lotado, brilhava a estrela do goleiro Robert Siboldi

A expectativa para a partida era grande. Com Romário confirmado no time titular, o Brasil partiu para cima do Uruguai desde o começo do jogo, buscando fazer o resultado que precisava. Logo no começo, o Baixinho mostrava disposição, buscava jogo, dava lindos dribles. Ainda nos primeiros minutos, após bela tabela com Raí, o centroavante brasileiro saiu cara a cara com o goleiro adversário e tentou tocar por cobertura, acertando o travessão.

Neste momento, o grande nome da partida não era nenhum brasileiro, mas sim o goleiro Robert Siboldi. O arqueiro uruguaio foi fundamental para que sua seleção não fosse goleada naquele jogo, fazendo grandes defesas em chutes de Branco, Bebeto e Jorginho. Romário tentava e ia dando show, mas faltava o gol. A melhor chance após o chute no travessão aconteceu em grande jogada do camisa 11, que recebeu, tocou entre as pernas do zagueiro e tentou chutar de bico, mas mandou para fora. Mesmo finalizando onze vezes, a Seleção não conseguiu abrir o placar na primeira etapa.

Romário desencanta no segundo tempo e leva o Brasil aos EUA

A pressão brasileira era enorme, mas a bola teimava em não entrar. Siboldi fez grande defesa em cabeçada de Ricardo Gomes, após escanteio, e parou Romário, após mais uma tabela com Raí. Foi só aos 26 do segundo tempo que o placar se alterou. Jorginho lançou Bebeto pela ponta-direita e o camisa 7, com espaço, acertou cruzamento na medida para que o Baixinho, completamente livre, testasse para o fundo do gol, fazendo a redonda passar entre as pernas do goleiro uruguaio.

Como que para coroar uma partida espetacular, Romário ainda teve mais uma oportunidade, já aos 41 da segunda etapa, e marcou um gol que foi repetido centenas de vezes nos anos seguintes. Mauro Silva roubou bola no meio de campo e lançou Romário. No mano a mano contra Siboldi, o atacante brasileiro foi frio, deu um tapa na bola, se desvencilhou do goleiro adversário, que tentou se jogar em cima do camisa 11, venceu na velocidade e completou para o gol vazio.

Romário deixa Siboldi para trás antes de marcar o segundo gol do Brasil (Foto: Agência AFP)
Romário deixa Siboldi para trás antes de marcar o segundo gol do Brasil (Foto: Agência AFP)

A classificação para a Copa do Mundo foi confirmada e, no ano seguinte, Romário fez história novamente, liderando a Seleção rumo ao tetracampeonato mundial, justamente ao lado de Bebeto. Além disso, fazendo dupla de ataque com Hristo Stoichkov no Barcelona, o brasileiro venceu o Campeonato Espanhol, sagrando-se artilheiro da competição e credenciando-se para o prêmio de melhor jogador do mundo, que venceu com grande vantagem para o búlgaro, segundo colocado.

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Sobre o autor
Gabriel Menezes  e Marcello Neves
Jornalismo na UFRJ. Coordenador e setorista de Botafogo; Coordenador de Futebol Americano e Italiano