Há quem pense que no futebol brasileiro existe desorganização, falcatruas, nível de amadorismo e coisas piores. A partida entre Juazeirense e Sport, vencida pela equipe baiana por 3 a 2, no Estádio Adauto Moraes, em Juazeiro/BA, pode exemplificar bem este pensamento. O resultado e a classificação "heroica" dos mandantes acabou ficando de lado em razão do que aconteceu durante os 90 minutos de jogo (ou o que deveria ser 90, mas acabou sendo bem mais do que isso).

A história da partida, viradas e a classificação

Para começar a contar o que foi este duelo, precisamos dizer que a Juazeirense começou bem. Logo aos 2', abriu o placar com Kesley, mas não aguentou a pressão do Leão que foi para cima e virou apenas 20 minutos depois, com Ronaldo, aos 12', e Mikael, aos 21'. O primeiro tempo não teve muito mais além disso e a partida parecia controlada.

Na segunda etapa, no entanto, a equipe de Juazeiro foi pra cima e empatou no primeiro minuto, com Clébson, de cabeça. Também em uma cabeçada veio a virada do Cancão, com Dedé, aos 21 e o jogo pode ser dado encerrado por aí. O resultado dava a classificação para a equipe baiana, que seria histórico e heróico, mas... Depois disso, o que se viu não foi futebol, mas sim uma série de acontecimentos bizarros e estranhos.

A bizarrice da noite

Divulgação/Sport
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Aos 24', o amadorismo que retratou a parte final do jogo e que vai ficar marcado também nos tribunais começou. O sistema de irrigação do estádio ativou misteriosamente e deu um banho nos jogadores, paralisando a partida. Sete minutos depois, após um lateral a ser cobrado pelo Sport, as bolas sumiram. Os gandulas também desapareceram e o capitão do Recife, Patric, teve que ir buscar. Aos 32', novamente o sistema de irrigação ligou sozinho e mais uma paralisação.

No meio disso, o Sport partia para tentar o gol de empate, que lhe daria a classificação. Aos 40', um choque entre Mikael e Dedé deixou o zagueiro da Juazeirense desacordado. A ambulância precisou entrar em campo e retirar o atleta. A atitude foi duramente criticada pelo diretor de futebol do Sport, Augusto Caldas. Após os 45', o juiz ainda acrescentou 11 minutos ao tempo regulamentar diante de todo o ocorrido.

11 minutos que duraram duas horas

Divulgação/Sport
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Nos acréscimos, aos 48', parte dos refletores do estádio se apagaram, mas a partida seguiu até que aos 54' foi paralisada a pedido dos jogadores. O motivo da falta de luz: "um problema no transformador". A partida seguiu sem bola rolando por cerca de 25 minutos, até que os refletores começaram a ligar aos poucos.

Engana-se quem pensou que aí seria o fim. 50 segundos depois da bola voltar a rolar, os refletores novamente se apagaram e o jogo parou novamente, desta vez para não voltar mais. O árbitro aguardou 30 minutos, como manda a regra, depois mais 30 e deveria ter tomado uma decisão — o que não aconteceu. Depois de muita conversa, quase duas horas de paralisação, contando o tempo total, e a intervenção do delegado da partida, a decisão foi: "vamos recomeçar o jogo e jogar os quatro minutos finais de acréscimos".

O Sport se recusou a voltar ao campo, alegando que não havia iluminação suficiente para o retorno da partida, então o árbitro Ramon Abatti Abel decidiu por encerrar a partida — pelo menos a primeira parte, já que o resultado deve ir ao tribunal e ter uma decisão judicial.

O que diz a regra

De acordo com o regulamento geral das competições (RGC), a partida pode ter um julgamento junto ao STJD - Superior Tribunal de Justiça Desportiva. O Sport inclusive já solicitou à CBF que faça uma perícia no estádio para verificar sobre o ocorrido na partida com os refletores.

O artigo 20 do RGC afirma que quando a partida for suspensa por quaisquer dos motivos previstos no artigo 19, que inclui a falta de iluminação, o clube que deu causa à suspensão da partida pode ser declarado perdedor pelo placar de 3 a 0. Confira:

Reprodução/CBF

Sendo assim, é provável que a decisão acabe acontecendo mesmo nos tribunais. Com o resultado da noite, a Juazeirense está classificada para a segunda fase da Copa do Brasil.

Desabafo da diretoria

Durante a confusão, o diretor de futebol do Sport, Augusto Caldas, foi ouvido pela equipe do Premiere que estava transmitindo a partida e declarou:

"Estamos incrédulos com tudo que está acontecendo. A partir do momento que a Juazeirense virou o jogo, começou água no campo, depois jogador teve choque no alto, a ambulância entrou de forma completamenta louca. Depois começou apaga apaga de luz. Isso não é futebol. É uma apelação. Como pode a Juazeirense usar isso para ganhar jogo. Isso é absurdo."

E completou dizendo que o goleiro adversário havia conversado com Jair Ventura, técnico do Leão:

"Rodrigo Calaça conversou com meu treinador e disse: 'me desculpa, nós não compartilhamos disso, isso é coisa do diretor e do presidente'. Futebol não precisa disso. Ficamos estarrecidos como isso está acontecendo."

Em defesa, o presidente da equipe baiana, Roberto Carlos, respondeu:

"Infelizmente o diretor do Sport disse uma inverdade. Infelizmente a informação é que um dos geradores teve uma entrada de ar e não conseguiria voltar. Autorizei meu time a voltar da forma que está, conversei com meu goleiro Rodrigo Calaça e disse que deve autorizar. Energia ou sem energia nós vamos ganhar do Sport. Não adianta o Sport apelar".

Como ficam as coisas...

A princípio, a Juazeirense está classificada e aguarda o vencedor de Castanhal-PA e Volta Redonda, na quarta-feira (17), para saber o confronto da segunda fase. No entanto, devido às circunstâncias do confronto, a tendência é de que a história ainda tenha desdobramentos no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

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