Neste sábado (12), em clima de despedidas, o Flamengo perdeu por 2 a 1 para o Avaí no Maracanã, na última rodada da Série A do Campeonato Brasileiro. A partida marcou a emocionante despedida de dois grandes jogadores que passaram pelo Rubro Negro, o goleiro Diego Alves e o meia Diego Ribas.

Os dois foram aclamados pelos torcedores presentes no Maracanã quando foram substituídos. Primeiro foi o meia, que saiu aos 12 minutos do segundo tempo e foi aplaudido por todos os presentes no estádio, e depois aos 20, foi a vez do goleiro. Após a partida, os Diegos participaram de uma coletiva de imprensa.

"Realização de um sonho"

O primeiro a falar com a imprensa sobre sua última partida foi o meia Diego Ribas, o camisa 10 que chegou no Flamengo em 2016 e desde lá foram 288 jogos com o camisa rubro negra, marcando 44 gols e conquistando duas Libertadores, dois Brasileiros, uma Copa do Brasil, uma Recopa Sul-Americana, duas Supercopas do Brasil e quatro Estaduais. Foi o período que o meia mais foi campeão por um clube.

"O que vivi hoje foi a realização de um sonho. Sonhei com esse dia e se concretizou. Também me preocupei, também tive dificuldades, mas fica a certeza de que o esforço valeu a pena. Agora não tem faixa de capitão, não tem a camisa do jogador do Flamengo. Fica a pessoa que eu sou. E eu consegui me manter fiel aos meus valores e fazer a coisa certa. E fazer a coisa certa nem sempre é fácil. E eu consegui, junto com meus companheiros. Cada detalhe foi perfeito".

Recém campeão da Libertadores, Flamengo será o representante da América do Sul no Mundial que será disputado em 2023 (sem data oficial ainda). Justamente um título que o Diego não conquistou com o rubro negro e disse que estará presente no campeonato.

"Em relação a estar no Mundial, eu vou estar, sim. Já falei com o presidente e quero estar lá e ele falou que faz questão. Estarei lá com meus companheiros. Eu faço parte disso e vou me sentir parte disso. Então, dando tudo certo, quero estar ali, entregar o troféu nas mãos dos jogadores. Eu acho que a melhor decisão foi esta. Eu cheguei nesse clube em 2016. A missão era classificar o clube naquele momento. Hoje saio com o escudo de campeão no peito e prestes a disputar o Mundial. Tudo isto fez com que terminasse de forma perfeita", revelou o jogador.

Com 37 anos, o meia falou sobre o motivo de encerrar a carreira como jogador, apesar de achar que ainda tem condições que continuar jogando. Diego disse que recebeu proposta de clubes do Brasil e do exterior, mas não se viu em outros projetos como o do Flamengo.

"De todas as propostas que eu tive não despertou aquela paixão. Eu não consigo ir para outro clube e não entregar aquilo que eu sou. Portanto, eu não seria correto. Então essa foi a decisão e decidi que era hora de parar. Fisicamente e estou muito bem. Foi uma temporada com quase 40 jogos sem lesões. Só tenho a agradecer a Deus pela minha vitalidade. Mas essa sensação não. E se ela não veio foi a resposta que eu precisava. Mas é uma decisão difícil, o momento de desconectar como atleta é difícil, mas estou certo disso e vou seguir",

Diego Ribas ainda falou sobre o futuro, do novo ciclo, sobre as palestrar que dará pelo Brasil e pelo mundo, passar seu conhecimento, liderança e experiência para outras pessoas. E ainda disse estar à disposição do Flamengo.

Sobre a decisão de encerrar a carreira no rubro-negro, Diego disse que foi por toda sua trajetória e identificação com o clube nesses anos.

"A decisão de ser no Flamengo foi a questão de ser um clube que me completou em todos os aspectos. Eu vivo de entusiasmo, vivo de paixão, de dedicação, de desafios e o Flamengo me deu tudo isto. O Flamengo me fez usar tudo que eu aprendi, que eu colocasse em prática. Aqui eu vivi tudo que sonhei. A decisão de ser aqui no Flamengo foi porque eu me identifiquei com o clube. Porque as dificuldades me dão propriedade para falar que amo este clube. Coloquei essa camisa nos meus filhos quando chegaram aqui com 3 e 5 anos. Hoje estão com 9 e 11 e hoje são flamenguistas. Veem no estádio, se emocionam, vivem o Flamengo. Nossa família virou flamenguista e vamos viver no Rio de Janeiro. Então foi essa decisão de colocar esse ponto final aqui no Flamengo como jogador de futebol".

O meia finalizou lembrando início da sua trajetória do futebol e falou sobre sua história do clube formador, o Santos.

"Sempre que eu posso falar do Santos eu falo. É um clube que faz parte da minha história. Muitas pessoas me encontram na rua e falam daquele momento. O Gabi hoje deu uma entrevista emblemática também falando desse momento. Só tenho a agradecer. Foi onde o menino chegou, o garoto chegou cheio de sonhos para morar no alojamento, para enfrentar a dificuldade de morar longe da família. Lá fui muito bem recebido, me adaptei à cidade, conheci minha esposa. Sou casado com ela e formamos uma família. O Santos faz parte da minha história e eu tenho muito orgulho".

Foto: Marcelos Cortes/Flamengo
Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Diego Alves despista sobre futuro

Depois foi a vez do Diego Alves falar, o goleiro de 37 anos, conhecido por defender pênaltis, chegou em 2017 e coleciona 216 jogos vestindo o manto rubro-negro, conquistou duas Libertadores, dois Brasileiros, uma Copa do Brasil, uma Recopa Sul-Americana, duas Supercopas do Brasil e três Campeonatos Cariocas. Agora o goleiro não terá seu contrato renovado no Flamengo e a mantém seu futuro em aberto.

Diego Alves recebeu sondagens de outros clubes, mas ainda não decidiu se continuará com a carreira de jogador. Ao ser perguntado sobre os próximos passos, disse que irá aproveitar as férias em família e depois tomar uma decisão.

"No momento eu penso em desfrutar com minha família. Foi um ano puxado. Ainda não decidi, quero decidir com bastante calma. Às vezes posso tomar uma decisão antecipada e não ser a decisão correta. Então, vou curtir minha família. Provavelmente para final de janeiro e começo de fevereiro eu tomarei uma decisão. Mas o momento é de curtir e relaxar. Foram anos intensos".

Em um momento nostálgico por conta da despedida, o goleiro lembrou de sua trajetória no clube, desde sua chegada, lesão, até a construção do elenco do Flamengo em 2019.

"Eu cheguei no meio de 2017. No final do ano tive uma lesão na clavícula e fiquei fora da Sul-Americana. Aquele ano estávamos começando uma construção. Em 2017 acho que eu, o Diego, o Rodinei, o Everton Ribeiro. Claro que todos ficam tristes com derrotas, mas para você se tornar vencedor você tem que perder, saber o que fez de errado. No ano de 2018 eu acho que a primeira grande contratação foi o Vitinho. E você começava a ver o esboço que ali começaria um divisor de águas. Batemos de novo na trave. E uma frase que o Dorival sempre fala, que quando saiu da etapa naquela época ele disse que o Flamengo, estava preparado para ganhar títulos. Em 2019, começaram as contratações de peso que participaram dessa construção. Isso tudo faz com que a história recente seja contada".

Conhecidos desde a infância, o Diego Alves falou da parceria com o Ribas. "Eu conheço o Diego desde uns 10, 12 anos de idade. Uma carreira brilhante na Europa. Eu acho que mais do que merecida essa despedida. Conheço a família dele e sei o quanto ele se doeu para deixar esse legado. Desejo sorte no próximo ciclo. Somos assim. Terminamos um ciclo pensando no outro. Temos que estar preparados para terminar e dar um passo. O Diego tomou essa decisão. E a minha vai ser tomada com calma".

O goleiro  falou sobre como a despedida de hoje no Maracanã não tem preço e que foi um dos dias mais especiais de sua vida. Relembrando de tudo que passou no Flamengo, Diego fala sobre o momento mais importante e emocionante que passou durante esses cinco anos.

"Na Supercopa eu me emocionei bastante. A gente vai ficando mais velho e se emociona. Hoje foi um dia especial. Até falei no vestiário. Por mais que você programe, é impossível não se emocionar. É impossível. Quando você está se arrumando, vem a lembrança. Como foi um ciclo muito vitorioso, os jogadores também estavam emocionados. Cada um sente da maneira que está acostumado. O dia a dia do jogador é muito difícil. Todo mundo acha que é fácil. Somos muito exigentes. Vivemos um momento de muita pressão. Ou você presta ou não presta. Não tem meio termo. E quando vivi tudo isto, você começa a se emocionar. Me senti acolhido pelos 42 milhões de torcedores. Tenho certeza que são gratos e eu também sou muito grato de poder me tornar um jogador importante na história do clube".

Por fim, não poderia deixar de falar do carinho da nação rubro-negra e como o Flamengo mexe com a torcida.

"O Flamengo é um clube que mexe com a emoção do torcedor. Hoje existe um poder muito grande nas redes sociais. O que não pode acontecer é a mentira ser transformada em verdade. E pode ser criada uma mentira que irá rodar o mundo todo e ninguém quer saber. Às vezes, o que machucava eram as invenções, que existiam grupo, panela... Todos respeitam, se gostam. E a mentira não pode se tornar verdade. Imaginem no trabalho de vocês receberem mentiras que se tornam verdade. E a mentira toma proporção. E nós, jogadores, sempre tratamos com caráter e verdade. Eu levo o carinho da torcida. O que recebo na rua, as pessoas agradecendo, o carinho. Fica o reconhecimento. Quando olho para trás vejo que valeu a pena deixar 10 anos na Europa e ter vindo. Valeu muito a pena".

Foto: Marcelos Cortes/Flamengo
Foto: Marcelos Cortes/Flamengo