A hora do maior e mais importante torneio do Brasil está chegando. Entre o longo período dos meses de maio e dezembro, a bola vai rolar no país inteiro pelo Campeonato Brasileiro 2016. E o atual campeão, o Corinthians, entrará novamente muito forte, para provar que o tumultuado começo de temporada ficou para trás e a realidade é novamente de briga pelo topo.

Isso porque o time vai defender o título com muitas mudanças em relação ao time base que entrou em campo durante 2015. Com problemas financeiros e sem poder de concorrer com o dinheiro asiático, a Fiel viu seus principais jogadores da irretocável campanha do hexa irem para a China. Em poucas semanas, ainda no começo deste ano, o Timão foi de favorito aos títulos que disputaria à uma incógnita.

Só que o maior ídolo desse atual elenco não entra em campo. No banco de reservas, Adenor Leonardo Bacchi, ou Tite, mostra constantemente o porque de todos confiarem e de ser o mais aplaudido em todas partidas em casa. Ele reformou o time, renovou o elenco e, mesmo ainda com peças por se encaixar melhor, trouxe de volta aquela solidez tática, aquela forma de atuar com muita obediência e objetividade, tornando assim, novamente um dos concorrentes ao título do Brasileiro.

A reconstrução que ainda seguirá no Brasileiro

Para o corinthiano, nada é fácil. E Tite sabe mais do que ninguém sobre essa frase. Seu retorno foi no ano passado e logo de uma vez, viu o mundo desmoronar de forma impressionante. Quase que da noite pro dia, viu o Corinthians ser eliminado, em casa, no Paulista e Libertadores, além de ver suas maiores forças do elenco saírem. Foram Fábio Santos, Petros, Emerson Sheik e Paolo Guerrero. O peruano, autor do gol no Mundial de 2012, saiu sem muita satisfação e criou um clima nada agradável na torcida, que o tinha como ídolo.

Ficou na mão de Tite transformar o time alvinegro. Desacreditado e sem muitas esperanças, sofria para ganhar seus jogos, muitos de forma feia e pelo placar mínimo. Ainda assim, a Fiel lotava sua casa, como vem sendo desde sua inauguração. O novo Corinthians não tinha novos jogadores, mas um padrão e um encaixe dentro de atletas que estavam no elenco. E o resultado foi um magnífico meio campo com Jádson, Elias, Renato Augusto e Malcom, alimentando Vágner Love no ataque.

O favorito para tudo em 2016 se viu em pane quando a China pairou sobre Itaquera. Numa só pancada, equipes chinesas levaram Gil, Ralf, Jádson e Renato. A base já não era mais a mesma e ainda teve mais perdas, como de Malcom e Vágner Love para a França.

Novo ano, novas desconfianças. Como Tite montaria uma equipe para brigar por Libertadores e Brasileiro? A resposta veio durante o Paulistão e a primeira fase do torneio internacional. Com novos e interessantes nomes, como Guilherme, André e Giovanni Augusto, o padrão tática se manteve e a equipe foi se encontrando. Ainda que alternasse grandes jogos, como goleada contra o Cobresal, com partidas apagadas, como nos clássicos ante Santos e Palmeiras, se notava um desenho tático, um padrão técnico e jogadores importantes dentro do time que cresciam, como Fágner, Yago e Rodriguinho.

A missão ainda não acabou. Encaixes individuais, como Guilherme no meio e um melhor trabalho de André, precisam ser feitos. Mudanças ainda são cogitadas e o time pode formar um bom meio com peças diferentes e com características diferentes da que encantou em 2015, mas com enorme potencial.

As novas esperanças

É sempre difícil prever performance. Muitas variáveis podem influenciar no rendimento do jogador numa partida e numa temporada. Do time que encantou em 2015, apenas Elias permanece (levando em conta base titular do meio pra frente). Neste ano, a força ofensiva é totalmente nova e Tite sempre repete que é preciso tempo.

Das mudanças no 11 titular, Gil deu lugar o garoto da base Yago. Ralf, volante que dava enorme segurança à zaga, saiu e Bruno Henrique ocupou o setor. Na linha de quatro, mudanças. Jádson saiu e Giovanni Augusto foi contratado. Mais atlético, habilidoso e incisivo do que Jádson, vem sendo o maior destaque dentre as caras novas, mesmo tendo menos eficiência no passe, bola parada e criação. Elias segue, mas Renato Augusto deu lugar a Guilherme, que se esforça na nova função, mas não tem boas atuações. Na esquerda, Malcom saiu e Lucca vem ocupando o setor. O criticado Vágner Love deixou a 9 para o mesmo criticado André.

Ainda assim, mudanças ocorrem. Rodriguinho e Maycon atuam como volante na equipe na vaga de Elias e foram bem. Marlone chegou e logo se contundiu, mas já mostrou que pode ocupar a faixa esquerda. E o mais recente das contratações pode ser a maior das esperanças. Desejo antigo, Marquinhos Gabriel pode ser o meia que mais se aproxima de Jádson, isso porque tem a criação, criatividade, o passe final e a bola parada. No ataque, Romero vem com impressionante faro de gol se tornando artilheiro do ano do time, mas costuma ser reserva. Luciano voltou de lesão, mas sem o ritmo e a sequencia que teve no ano passado.

TIME BASE:

O time ainda pode variar muito dentro do padrão proposto por Tite. Atuando no 4-1-4-1, com muita compactação, atuação em bloco, triangulações, posses, trocas de passes e chegada forte dos laterais e meias, a base de jogo é a mesma do ano passado, mas ainda sem os 11 fechados. O mais provável, com todos saudáveis, seja Cássio; Fágner, Felipe, Yago, Uendel; Bruno Henrique; Giovanni Augusto, Elias, Guilherme, Marquinhos Gabriel; André.

Se a China deixar, briga pelo título

É inegável a força coletiva que o time de Tite tem. A maior demonstração é o padrão que a equipe demonstra, mesmo com um ataque novo e contratações ainda se adaptando.

E é se baseando no poder que o técnico tem, de fazer um elenco de operários, um conjunto pronto para brigar por conquistas. O campeonato será de afirmação e altos e baixos, mas tudo com um planejamento e inteligência tática que pode fazer do Corinthians, candidato ao título.

Conexão time-torcida supera erros diretivos

Tem quem diga que uma equipe não precisa cair de divisão para voltar melhor. Mas o Corinthians é a prova de as lições foram aprendidas e a volta por cima foi melhor do que o previsto.

Em poucos anos, o salto da Série B para o Bi do mundo foi exponencial. A torcida sentiu isso e, desde então, criou uma sintonia ainda maior. Mesmo que no meio do percurso incidentes tenha acontecido, a menor pressão por conquistas - principalmente a Libertadores - uma belíssima casa pra chamar de sua e um treinador tão identificado, tem superado erros da diretoria, que teima em erros infantis.

Se em campo sobram motivos para a Fiel comemorar, fora dele, a pressão e a cobrança tem sido cada vez maior. Isso porque a dívida do clube tem aumentado e os investimentos não tem aparecidos. As contas da Arena Corinthians não estão tão claras e a promessa da venda dos Naming Rights - direito do nome da arena - que daria um enorme alívio financeiro, ainda não chegou. Pode ser que surja neste Brasileirão, finalmente, mas a pressão da torcida por melhores jogadores, ingressos mais baratos, diretoria transparente e base independente, sem presença de empresários, acontecem em todo jogo em Itaquera.

Bem-vindo ao hospício

Uma das mais famosas músicas de estádio no Brasil começa com "Aqui tem um bando de loucos", chamando toda loucura da Fiel para apoiar o Corinthians. E é nessa frase que a Arena Corinthians surge como um dos mais temidos estádios do Brasil e do mundo.

Inaugurada em 2014 para a Copa do Mundo, sediou a abertura e fez o Timão suar muito pela primeira vitória. Veio apenas no terceiro jogo em casa. Mas a desconfiança pela adaptação em casa logo se foi e uma outra frase se tornava jargão: "Caiu em Itaquera, já era."

Líder em média de público e renda desde a inauguração, a arena é um sucesso total e tem mais de 30 mil pessoas no geral. A Fiel tem uma casa para chamar de sua e que é um dos maiores orgulhos dos mais de 30 milhões de loucos.

Durante o Brasileiro, dois anos serão completados. Os números são fantásticos. Até o momento (01/05) , são 66 jogos, com impressionantes 50 vitórias, 12 empates e apenas 4 derrotas! São 139 gols em seu favor, contra apenas 39 contra. Uma média de quase 77% dos pontos. Fantástica!

Só que nem tudo são flores. Dois fatos tiram o sono da Fiel. A enorme dívida está sendo difícil de ser paga e a promessa da venda dos Naming Rights pode aliviar e muito a questão. Há a chance do nome mudar para "Arena do Povo" ou "Arena da Fiel", mas enquanto o dia não chega, a descrença segue.

O outro motivo é mais grave. Recentemente foi divulgado documentos que comprovam envolvimento da construção da arena na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Propinas, dinheiro ilícito, caixa-dois e lavagem de dinheiro são as acusações que levaram até um dos diretores à delegacia para prestar esclarecimentos. As chances do clube ter sido lesado são altas e que as pessoas responsáveis sejam punidas.

Em 26 anos, seis estrelas

Em sua história, o Timão alternou elencos dentro de seus seis títulos. Em 1990, a primeira conquista veio nas costas de seu camisa 10. Neto foi decisivo e contou com o talismã Tupãzinho para carimbar a primeira estrela. Em 1998 e 1999, o Bi veio com elencos recheados, estrelados e sob a batuta de Marcelinho Carioca. O "Pé de Anjo" orquestrou o meio campo ao lado de Vampeta, Rincón e Ricardinho, batendo Cruzeiro e Atlético MG, respectivamente, fechando o século com três títulos.

Novamente com dinheiro estrangeiro, foi a vez de Carlitos Tevez dominar o Brasil e fazer a Fiel dançar cumbia, comemorando o tetra em 2005. O penta veio um ano após o centenário, com Tite usando um elenco de operários e vencendo na raça apenas na rodada final. Já a sexta conquista veio no ano passado, novamente com Tite, novamente apostando na força do elenco e batendo o Atlético MG, sem dó e piedade, fazendo a Fiel lavar a alma.

Ficha completa

Nome: Sport Club Corinthians Paulista
Fundação: 01/09/1910
Mascote: Mosqueteiro
Estádio: Arena Corinthians (48.234 pessoas)
Principais títulos: Mundial de Clubes (2000/2012), Libertadores da América (2012), Campeonato Brasileiro (1990/1998/1999/2005/2011/2015), Copa do Brasil (1995/2002/2009), Recopa Sul-Americana (2013)
Principais ídolos: Baltazar, Cláudio, Teleco, Domingos da Guia, Rivellino, Casagrande, Sócrates, Basílio, Biro-Biro, Wladimir, Zé Maria, Dida, Neto, Tupãzinho, Gamarra, Marcelinho Carioca, Luisão, Vampeta, Ronaldo, Paulinho, Guerrero
Técnico: Tite
Destaques: Cássio, Fágner, Giovanni Augusto, Elias, Marquinhos Gabriel

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Sobre o autor
Diego Luz
De video game à política. Lendo tudo,ouvindo bastante e vivendo com base naquilo que acho certo. Muito prazer.