Em meio à desordem coletiva vivida pelos países da América Latina, vê-se uma luz do fim do túnel: O Uruguai. O país, que sempre construiu, moldou e hoje preserva a imagem de "Suíça das Américas", cria em seus domínios uma área livre. Livre de preconceitos, poluição e descrença. País de um povo otimista, liberal e hospedeiro. E, para os amantes de futebol, um berço de grandes histórias.

Futebol: Uma história centenária

Desde a instauração da Copa do Mundo, ficou decidido que a primeira sede do torneio seria a capital do país, Montevidéu. Devido ao grande sucesso da seleção olímpica celeste, que conquistara a medalha de ouro nas Olimpíadas nos anos anteriores, começava em 1930 uma história colossal, de grandeza inversamente proporcional ao tamanho do país em questão. Nascia ali a primeira grande seleção do futebol.

Aos olhos da orgulhosa torcida uruguaia, a equipe que hoje desfila pelos campos do mundo afora com duas estrelas no peito traz a mesma garra e determinação que surgira logo nos primeiros anos da globalização do esporte bretão. A importância do futebol para o Uruguai diz mais sobre seu povo do que qualquer outro fator. Os uruguaios são, acima de tudo, patriotas, que fazem questão de lembrar das glórias alcançadas em 1930 e 1950.

A histórica seleção do primeiro título mundial. (Foto: Getty Images)

O povo, que recorda até hoje os herois das conquistas, como o artilheiro Pedro Cea, autor de cinco gols no título de 1930, homenageia constantemente o recém falecido Alcides Ghiggia, craque do time de 1950, que venceu o Brasil na final por três tentos a dois, de virada, no episódio que ficou conhecido como o "Maracanazo". Para Ghiggia, a VAVEL Brasil abre aspas: 

"Apenas três pessoas silenciaram o Maracanã: o papa, Frank Sinatra e eu. Isso foi o que aconteceu."

Apesar das conquistas da Copa América, a partir do ano de 1950, a equipe celeste encontraria uma fase decadente, fazendo muitas campanhas fracas desde os anos de 1974 até 2006, onde nem sequer classificou-se para a Copa do Mundo em todas as ocasiões, e, quando conseguia, caía em participações pífias e desacreditadas. A época não era boa, mas nem isso era capaz de afastar a torcida dos estádios. Os dois clubes mais tradicionais do país, Nacional Peñarol, mantinham viva a tradição de viver o futebol a cada domingo, a cada fim de semana, a cada ano. A torcida uruguaia tinha e sempre tivera o espírito coletivo de seus times: não importa o quão ruim esteja a situação, desistir jamais seria uma opção. Os tempos de melhora haveriam de chegar.

Política e futebol: Um desenvolvimento coletivo

A partir do ano de 2010, juntamente com a chegada do 40° presidente do país, José Alberto Mujica Cordano, a chama futebolística carregada pela equipe celeste reacendeu para o mundo. Prisioneiro da ditadura, "Pepe" Mujica parecia querer libertar seu país de todas as proibições e costumes que escravizam o homem no século XXI. 

O país chocou o mundo ao chegar nas semifinais da Copa do Mundo da África do Sul (2010), que teve Diego Forlán como craque. O futebol uruguaio, liderado pela aguerrida figura do zagueiro e capitão Diego Lugano, parecia entrar em completa transformação e renovação, trazendo ânimo e positividade para o povo. A equipe que terminara a Copa em quarto lugar traria, no ano seguinte, o título da Copa América, após vencer o Paraguai na final da competição. 

"Pepe" Mujica e Diego Lugano, figuras essenciais para a transformação do país. (Foto: AFP)

Se no futebol as coisas estavam finalmente melhorando, a política acompanhava o ritmo de um país que via seus dias de restrições acabarem: em 2012, a descriminalização do aborto. Em 2013, a lei do matrimônio igualitário e, em 2014, a legalização da maconha foram assuntos que colocaram o Uruguai nas primeiras páginas de renomados jornais que impressionavam-se cada vez mais com a formação de um novo país, um país liberal.

Os dias atuais

Hoje em dia, o Uruguai é considerado pelos latino-americanos como o país mais consiente do continente. Suas novas leis, em grande maioria, recebem mais elogios do que críticas. Renomados escritores do mundo todo afirmam que "os uruguaios tem muito a nos ensinar".

De passo em passo, o país que surpreendeu o mundo do futebol em 2010 mostra que tem muito mais a oferecer do que apenas os novos ídolos Edinson Cavani e o craque Luis Suárez. A nova geração acaba de ganhar a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2015, no Canadá. A celeste, com a habitual garra, da exemplos de que um país sempre poderá se renovar e proporcionar novas esperanças.

Além do sentimento, o Uruguai é hoje um exemplo de mudança: o país oferece também um novo estilo de vida. Não necessariamente o certo, correto. Mas um modo inovador de pensar, que abre as mentes de diversos pensadores que antes não consideravam todas as possibilidades. 

“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.”  (Eduardo Galeano (1940-2015)