Numa fase em que o FC Porto se apresenta num nível abaixo daquele a que tem habituado os seus adeptos, Sérgio Oliveira tem conseguido aproveitar as oportunidades que lhe são concedidas na equipa principal para impressionar e procurar a afirmação.

Regressar do empréstimo e esperar para brilhar

Blindado com uma cláusula de 30 milhões de euros, com contrato até até junho de 2020 e apenas 23 anos de idade, o médio de 1,81 metros de altura, que esteve emprestado ao Paços de Ferreira nas passadas duas épocas, já conta com 13 jogos na equipa principal dos «dragões» (335 minutos em campo), com um total de 2 golos marcados.

Ainda que estes números se possam revelar pouco entusiasmantes quando comparados com os que o médio obteve nas últimas 3 épocas (em 2012/13, no FC Porto B), onde disputou mais partidas e marcou mais golos, a verdade é que as estatísticas parecem revelar uma consolidação do papel do jogador nos quadros azuis e brancos.

Na realidade, depois do regresso ao clube, o atleta demorou algum tempo a ganhar espaço no plantel dos «dragões», quando este era orientado por Júlen Lopetegui - no que respeita à Liga NOS 2015/16, Sérgio só atuou por cinco vezes e nenhuma delas foi com o treinador espanhol.

De facto, se não considerarmos o jogo em casa frente ao Vitória de Guimarães no dia 17 de Janeiro, onde entrou aos 86' lançado por Rui Barros (no pós Lopetegui), os restantes quatro jogos como titular correspondem, precisamente, às últimas quatro jornadas.

FC Porto x União da Madeira: a “rampa de lançamento"

Quando se exibisse ao melhor nível, Sérgio Oliveira poderia aproveitar um FC Porto frágil e algumas ausências no meio-campo azul e branco para merecer a aposta contínua de José Peseiro: foi o que aconteceu na jornada 26, em casa, diante do União da Madeira.

O clube do norte vinha de uma derrota em Braga, por 3-1, e Peseiro apostou no médio, concedendo-lhe a primeira titularidade da temporada e colhendo, posteriormente, os frutos desse risco, com o jogador a disputar os 90 minutos e a ser considerado o melhor em campo pelos adeptos presentes no Estádio do Dragão.

«É sempre importante sentirmos o apoio e os elogios de quem nos vê, mas este prémio só se torna verdadeiramente importante porque, todos juntos, conseguimos os três pontos. Depois de um jogo menos conseguido e de uma derrota em Braga, um pouco pesada para aquilo que fizemos, voltámos na máxima força e conseguimos o que queríamos, a vitória», referiu, na altura.

A partir desse momento, Sérgio Oliveira fez o que pôde para agarrar a oportunidade: na ronda seguinte, foi titular, marcou o golo da vitória arrancada a ferros em Setúbal e voltou a merecer o destaque da imprensa desportiva.

Ainda que o rumo da equipa se tenha revelado desastroso no campeonato - seguiram-se duas derrotas, a primeira em casa, frente ao Tondela, num jogo em que o médio saiu aos 61' e a segunda em Paços de Ferreira, onde jogou até ao final da partida -, o jovem continuou a merecer a confiança do técnico português, foi somando jogos como titular e tendo um papel cada vez mais preponderante no emblema liderado por Pinto da Costa.

Henrique Calisto e antigos colegas já confirmaram a qualidade

Não faltam testemunhos da qualidade de Sérgio Oliveira: desde o ex-treinador, no Paços de Ferreira, Henrique Calisto, a ex-colegas de equipa, Manuel José e João Costa.

Descrito, aliás, como um «dragão» de coração, todos lhe reconhecem a qualidade para ser uma figura do FC Porto e, até, da seleção nacional.

Sérgio Oliveira a capitanear no EURO Sub-21

«Extremamente determinado, muito certo naquilo que quer e com o foco sempre direcionado para a direção que pretende», começou por referir Calisto. «Dragão é quase como o seu relvado de sonho, nunca escondeu o desejo que tinha de singrar com a camisola do FC Porto e claramente merece», acrescentou o ex-técnico do jovem jogador.

De resto, quando foi anunciado o seu regresso, Henrique já projetava a afirmação que, agora, o jovem vai conquistando silenciosamente. «Tem condições para se afirmar. Bom colega, excelentes atributos técnicos, grande leitura de jogo, muito boa ocupação dos espaços e fantástico pontapé, em bola corrida ou bola parada. E encaixa neste esquema do FC Porto, tem perfeitas condições para ser o 8 da equipa», finalizou.

Do mesmo modo, João Costa, ex-colega de equipa, reconhecia essa capacidade ao médio, criticando, simultaneamente, alguns casos de reduzido espaço para a formação nos «grandes», em Portugal.

«O Sérgio tem tudo para agarrar esta oportunidade, é um jogador muito determinado, muito forte mentalmente e que, já na altura em que jogávamos juntos, sobressaía aos olhos de toda a gente, todos diziam que ali estava um jogador com futuro», afirmou o atual jogador do Vitória de Setúbal.

«Pelo que conheço dele, tenho a certeza que é tudo uma questão de oportunidade. Ao ires de júnior para sénior é preciso um período de adaptação e de habituação a um futebol diferente. O Sérgio nunca teve esse tempo, tal como tantos outros casos em Portugal, onde os grandes precisam de ganhar e não sabem formar, não dando esse tempo para que o jogador consiga essa adaptação», concluiu.

Outro ex-colega que também reconheceu em Sérgio o carácter necessário para vingar nos azuis e brancos (e, recentemente, exigido por Pinto da Costa aos jogadores como condição necessária para continuarem a treinar no centro do Olival) foi Manuel José, jogador dos pacenses.

«O Sérgio passou dois anos no Paços em que as coisas lhe correram bem. O Sérgio conhece o FC Porto e sabe o que é o FC Porto. Acho que não haverá ninguém como ele a sentir a camisola do FC Porto, como ele sente. É um prazer enorme ver antigos colegas a conseguirem uma afirmação no FC Porto. Fico satisfeito por ver o Sérgio a conseguir a afirmação num clube como o FC Porto», disse o médio pacense.

Pinto da Costa deu-lhe uma oportunidade de ouro, os ex-colegas acreditam e o ex-treinador garante que Sérgio Oliveira tem o que é preciso para vingar no futebol nacional: agora, resta esperar que o desempenho do número 13 continue a confirmar uma afirmação que parece já ter começado em definitivo.