Mudou o paradigma táctico da selecção portuguesa e o França x Portugal do passado fim-de-semana serviu para, pela primeira vez, testar essa mudança e analisar a reacção mecânica dos jogadores aos primeiros estímulos do novo 4-4-2 losango - uma das preocupações mais prementes prendeu-se com as conclusões tiradas quanto à actuação defensiva da equipa: afinal, como deve defender uma formação que actue num 4-4-2 com o meio-campo definido por um losango?

A pergunta surge na sequência da péssima exibição de Portugal no plano defensivo: os jogadores lusos foram trucidados pela dinâmica gaulesa, apoiada nas transições rápidas de Pogba e Matuidi e das incorporações ofensivas de Sagna e Evra, que afundaram a nível qualitativo as exibições de Eliseu e Cédric, dois laterais desapoiados pelos médios interiores, por sua vez desapoiados pelos avançados (Ronaldo, Nani e Danny), que foram ineficazes e displicentes na pressão à saída de bola francesa. Para que as mesmas deficiências não se repitam no jogo a doer, hoje, frente à Dinamarca, quais os consertos tácticos que deve fazer Fernando Santos?

Ajustes tácticos para suster a Dinamarca

Tudo começará por uma nova atitude pressionante do ataque luso: Cristiano Ronaldo e Nani deverão ligar-se mais ao jogo, já que na partida contra a França foram autênticas miragens para os seus colegas de meio-campo. Sempre demasiadamente avançados no terreno, desconectados dos médios interiores e sem um efectivo trabalho de pressão coordenada à saída de bola gaulesa, Portugal começou aí por fazer ruir o edifício táctico do seu 4-4-2 losango: a ausência de pressão não permitiu aos médios (Moutinho e Gomes) anular metros na zona média, o que cedeu espaços para uma tranquila progressão ofensiva da França.

Assim, e a par da inadaptação de João Moutinho e André Gomes às tarefas exigidas, o que vimos nos primeiros 30 minutos de jogo foi uma selecção passiva quando sem bola, incapaz de se opôr à dinâmica forte e intensa de jogadores como Matuidi, Pogba, Griezmann ou Benzema. No miolo nevrálgico que antecede a zona defensiva, Tiago, sem rotação motora nem intensidade de jogo, também sentiu na pele a falta de protecção global apresentada pela equipa - Cédric e Eliseu foram mais vítimas da avassaladora entrada francesa do que propriamente réus. Constantemente apanhados em situações de inferioridade numérica na faixa, ambos foram facilmente ultrapassados pelas inteligentes subidas dos defesas laterais da França, subidas essas que permitiram penetrações interiores, quer de Benzema, quer de Valbuena ou mesmo de Griezmann.

Para apresentar-se forte e coeso contra a Dinamarca, Portugal terá de estudar melhor as obrigações tácticas do 4-4-2 losango: pressão inteligente (posicional e coordenada) dos jogadores da frente, subida dos médios centrais com o intuito de roubar espaço de progressão (Danny terá de pressionar mais e de apoiar mais eficazmente os colegas atrás de si) e de cortar linhas de passe, maior intensidade e ritmo de jogo dos quatro médios que compõem o losango e uma adaptação dos médios laterais ao novo papel táctico, que pressupõe maior ajuda defensiva (até nas dobras aos laterais), já que o 4-4-2 losango é uma táctica bastante ofensiva e apenas ganha largura com a subida dos defesas laterais.

Dinamarca apresentará o seu 4-3-3 focado em Bendtner

A Dinamarca contará hoje com o público a seu favor, num Estádio Parken que se espera lotado. Nas suas fileiras, Portugal poderá esperar encontrar jogadores reputados como Simon Kjaer, defesa central do Lille, Daniel Agger, central do Brondby, Michael Krohn-Dehli, médio experiente do Celta de Vigo, Nicklas Bendtner, goleador do Wolsburgo, ou Christian Eriksen, médio criativo do Tottenham, o «abre-latas» da selecção treinada por Morten Olsen. Variando entre o 4-3-3 e o 4-2-3-1, a Dinamarca irá tentar municiar Bendtner através da capacidade de passe visionária de Eriksen e do promissor Pierre-Emile Hojbjerg, de 19 anos; nas alas, Dehli e Vibe poderão ser as opções que darão largura ao jogo escandinavo.

Portugal introduzirá William Carvalho no onze titular

Com o intuito de reforçar a combatividade do meio-campo, Fernando Santos deverá lançar William Carvalho directamente no onze, subindo Tiago (jogará de perfil com Moutinho) e sacrificando André Gomes. Essa deverá ser a única alteração que o seleccionador irá efectuar; na defesa, Bruno Alves deverá manter-se ao lado de Pepe (esteve em grande nível contra a França) no eixo defensivo e o tridente de ataque deverá voltar a ser composto por Danny, Cristiano Ronaldo e Nani. Os defesas laterais serão os mesmos: Cédric e Eliseu. João Mário, médio que esteve em destaque no Stade de France, será um joker que poderá entrar e mexer com o jogo.

Atenção ao terror do costume: Nicklas Bendtner

Portugal deverá ter atenção ao grande terror dinamarquês que vem do frio. Ele é alto, ele é possante, ele é gélido e cortante: Nicklas Bendtner é um autêntico pesadelo para Portugal, já que, nas últimas seis partidas entre lusitanos e escandinavos, o ponta-de-lança de 31 anos marcou por seis vezes, apenas tendo ficado em branco numa partida. O jogador da Bundesliga bisou na última vez que dinamarqueses e portugueses mediram forças: no Euro 2012, num duelo que sorriu aos lusos, 2-3.

Fernando Santos poderá sentar-se no banco

O seleccionador português estava a contar ver o jogo a partir da bancada, dada a suspensão de oito jogos nascida no Mundial 2014, mas, ontem ficou a saber que poderá afinal sentar-se no banco de suplentes de Portugal, já que o recurso apresentado pela FPF anulou, temporariamente, a decisão do castigo. Assim, a setença definitiva será apenas conhecida em meados de Novembro.

Onzes prováveis