Qualquer conhecedor básico de futebol tem noção de que pouco serve a uma equipa ter um desenho tático "perfeito" no papel se no campo os jogadores não têm capacidade de pô-la em prática.
Depois de ter estado à beira de conquistar o campeonato nacional na época passada, certamente que não seria de esperar que Jorge Jesus fosse alterar o desenho tático que tão bons resultados trouxe ao Sporting no ano passado.

Todavia, a grande diferença esteve, essencialmente nos jogadores. As saídas de João Mário e Slimani, duas peças nucleares na dinâmica leonina, acabaram por ter um impacto maior do que certamente se estaria à espera. O ponta-de-lança argelino, com a sua garra e espírito de luta, era a primeira barreira defensiva do Sporting, cumprindo assim na perfeição a ideia de Jesus onde os avançados são os primeiros defesas.

Para o lugar do argelino foi contratado o gigante Bas Dost. Apesar da sua apuradíssima capacidade de finalização e instinto matador, o holandêrs não apresenta carcaterísticas que lhe permitam pressionar a defesa adversária à saída da sua grande área, dando assim mais liberdade para que o portador da bola construa o jogo a partir de trás.

No desenho de 4-4-2 de Jesus, também a posição de segundo avançado sofreu alterações. Teo Gutierrez foi para a Argentina e o técnico leonino viu-se e desejou-se para encontrar uma alternativa viável. Muitas foram as experiências até que se encontrou Alan Ruiz já adaptado ao futebol português. Todavia, Ruiz será sempre mais um organizador de jogo do que propriamente um segundo avançado...

No meio-campo da temporada passada, João Mário actuava como falso ala direito, flectindo quase sempre para terrenos interiores à procura de desiquilibrios e combinações com a dupla atacante. Este ano, e após a saída do internacional português, foi Gelson Martins a garantir o lugar. Trata-se aqui de um jogador mais vertical, de explosão, e que procura primordialmente a linha de fundo. Com o tempo, e consequente trabalho com Jesus, o jovem leão começou a ganhar outras rotinas, procurando também espaços centrais para fazer aquilo que João Mário fazia (e faz)como ninguém.

Não será totalmente descabido referir que estas alterações, experiências e adaptações acabaram por influenciar a dinâmica e comportamento dos elementos do onze que permaneceram. O caso mais flagrante será mesmo o do sector defensivo; um quarteto que demonstrava grande solidez no ano passado, esta época passou por muitas mais dificuldades. Aqui deve-se referir o caso dos laterais (Schelotto, Marvin, Jefferson, etc), jogadores com alto rendimento na época transacta e que este ano, como que por magia, parece terem desaprendido tudo aquilo que adquiriram em 2015/2016.

Em jeito de conclusão pode-se dizer que, por mais que Jorge Jesus não o quisesse, a verdade é que o mercado de verão acabou por desmontar o desenho tático que o técnico desenhou no ano passado. Foram os jogadores, e as suas características, que alteraram, quase por completo, a forma de jogar do Sporting, levando assim a resultados muito abaixo dos alcançados anteriormente. Os grandes treinadores costumam ver nos problemas as soluções para os mesmos; é de esperar que Jorge Jesus consiga transformar os obstáculos no próprio caminho a seguir.