Depois do defraudador empate de ontem entre Portugal e a modesta selecção de Israel – servido de bandeja pelo pior pé de Patrício mas protagonizado, na verdade, pela fraca prestação colectiva lusitana – e da folgada vitória russa sobre a formação luxemburguesa, Portugal confirma de novo, tristemente, uma realidade habitual que vem acompanhando os trajectos da selecção das quinas rumo às fases finais: a provação adicional do «play-off», uma espécie de última chamada avaliativa destinada àqueles que ficaram no limbo da qualificação. Nem dentro nem fora, mas sim a meio caminho de algo. Ora Portugal voltou, de novo, a ficar a meio caminho da entrada directa.

«Play-off»: uma espécie de sintoma?

Os percursos de Portugal têm passado, invariavelmente, longe das lideranças dos grupos de qualificação para as fases finais, já que, desde 2005, que a selecção das quinas não consegue finalizar uma fase de apuramento no primeiro lugar: essa última vez, a contar para o Mundial de 2006, na Alemanha, viu Portugal qualificar-se na liderança, sobrepondo-se à Eslováquia e à Rússia (2º e 3º classificadas, respectivamente) com uma larga margem de sete pontos. A partir daí, não mais Portugal logrou obter o lugar mais cimeiro: para o Europeu de 2008, na Suíca na Áustria, o segundo lugar (atrás da Polónia) bastou para conduzir-nos à fase final; para o Mundial da África do Sul, em 2010, o «play-off» frente à Bósnia resolveu a contenda; para o Euro 2012, organizado em conjunto entre Polónia e Ucrânia, de novo o «play-off», e de novo frente à mesma Bósnia.  Agora, à beira de enfrentar a terceira derradeira eliminatória consecutiva, uma questão quer, timidamente, colocar-se – serão estes recorrentes «play-offs» um sinal dos tempos? Estará Portugal ficando mais enfraquecido com o passar dos anos e, consequentemente, com o vaivém natural dos seus intérpretes, que não são imunes à chegada da idade da reforma?

A resposta será sempre sinuosa e presa a inúmeras variáveis. Não poderemos, no entanto, dissociar-nos do onze que alinhou frente a Israel: jogadores como Ricardo Costa, Antunes, André Almeida, Rúben Micael, Hugo Almeida, Josué ou Nélson Oliveira, parecem estar, ainda, longe da qualidade média de selecções portuguesas de outrora onde militavam Rui Costa, Figo, Paulo Sousa, João Vieira Pinto, Deco, Maniche, Pauleta, Nuno Gomes, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade ou Costinha. Mesmo com titulares habituais como Meireles (em fase descendente da carreira), Nani (em clara má forma crónica) ou Coentrão (grande dinamizador do corredor esquerdo) a formação lusitana parece, a espaços, ficar longe do acerto estrutural que possuiu, por exemplo, até 2006. Apesar deste prisma, Portugal tem logrado obter boas classificações internacionais mesmo depois desse período: basta recordar que, no ano passado, a selecção capitaneada por Cristiano Ronaldo só caiu aos pés da poderosíssima Espanha, nas grandes penalidades, em plena meia-final.

Heróis e artistas – falta o resto

A Portugal não têm faltado jogadores de calibre espectacular: Figo era mágico e um vencedor nato, coroado melhor do mundo. Ronaldo seguiu as pisadas e afigura-se como uma lenda futebolística extraordinária. Depois seguem os artistas: Futre, Rui Costa, Paulo Sousa, João Vieira Pinto, Deco...e por aí adiante. Hoje em dia, se contarmos os milhões que foram necessários para resgatar os talentos actuais que dão corpo ao onze da selecção, ascenderemos certamente às boas centenas de milhões. Qualidade existiu e existe, mas, o que vem faltando a esta selecção para se tornar, por fim, memorável? A resposta poderá bem estar na fraqueza competitiva da liga portuguesa, onde o jogador português é cada vez mais um espécime em extinção, relegado para terceiro plano pelos emergentes mercados sul-americano e do leste europeu.

A falta de ritmo internacional nos clubes, o adiamento na confirmação do talento, a fraqueza financeira do sector e a própria contracção económica do país poderão, também, influir directamente no rendimento geral de uma selecção que, apesar de possuir sempre grandes monstros do futebol, mantém-se afastada dos troféus e da glória internacional: exceptuando a final (em terreno próprio) do Euro 2004, tragicamente perdida para os «underdogs» gregos, no ponto mais alto de Portugal no futebol permanece ainda o terceiro lugar no Mundial de 66, quando Eusébio liderava a armada lusitana, marcando 9 golos e sendo o melhor artilheiro da competição.