Notável pela rampa de lançamento que personificou durante os mandatos técnicos deJesualdo FerreiraJorge Jesus e Domingos Paciência, o SC Braga, «outsider» de responsa do nosso futebol português, criou as condições ideais para potenciar o talento dos seus emergentes treinadores: plantéis equilibrados, polvilhados de talento significativo, aliados a uma flexível hierarquia de objectivos desportivos, com pouca pressão atrelada. Hoje em dia, o paradigma alterou-se: António Salvador, presidente do clube minhoto, elevou a fasquia e devotou a formação arsenalista a patamares onde a pressão é substancialmente mais forte. Por que luta, actualmente, o SC Braga? Perdido entre a ânsia de se afirmar enquanto clube grande e a volatilidade própria de quem ainda está longe desse horizonte, o Braga de Salvador despediu, de 2011 para cá, Leonardo Jardim, José Peseiro e Jesualdo Ferreira, por, de um modo ou de outro, terem ficado aquém da meta a que o clube se propora. 

O despedimento do catedrático e experiente Jesualdo Ferreira, treinador com provas dadas no futebol nacional, veio confirmar a tendência: o Braga quer mais. Mais vitórias, melhores classificações, maior ambição. Quer tudo isso e quer imediatamente, esquecendo que a sua intrínseca condição está longe de se enquadrar num caso crónico de candidato ao título. As excelentes épocas de Jesualdo, Jorge Jesus e Domingos Paciência, este último corolário de uma ascensão sustentada e excitante, solidificaram o clube em termos financeiros e desportivos, passando a ideia de que a formação bracarense poderia descolar para outros voos. Mas tal visão, redutora, esquece as diferentes dinâmicas competitivas que, ao longo das décadas de História, consolidam verdadeiramente as relações de domínio e manutenção do estatuto. Nem o Braga será o único clube emergente na janela da próxima década (vejam-se os casos de Boavista na viragem do milénio, o histórico terceiro lugar do Paços de Ferreira ou as duas últimas épocas vistosas do Estoril) nem o estruturalismo competitivo da modalidade permite uma tal ascenção directa e ininterrupta, qual avião em plena e inevitável descolagem. O domínio desportivo e económico de Porto, Sporting e Benfica é princípio base na configuração do nosso futebol, factor que, com mais ou menos oscilações (período de decadência do Sporting, por exemplo) continua a repelir a concorrência que parta fora dessa esfera tripartida.

Correndo por fora mas despedindo como quem quer estar dentro

Depois da época inesquecível de Domingos Paciência, que conduziu o clube minhoto ao segundo lugar da Liga, em 2009/2010, o SC Braga passou a encarar-se de outra maneira: espevitado pelo sucesso nacional e internacional, o clube chamou a si maiores responsabilidades e encetou novo nível de exigência na avaliação dos seus resultados. O resultado está à vista: maior pressão com cariz negativo, resultados flutuantes (o que não deixa de ser normal num clube que não luta para o título em Portugal) e maiores exigências financeiras para corresponder às necessidades de um plantel 'obrigado' a jogar sempre para ganhar.  Depois da saída de Jardim e do despedimento de Peseiro (que conseguiu um quarto lugar na Liga e ergueu uma Taça da Liga na época transacta), que não atingiu o patamar exigido pela direcção, também o sucessor, Jesualdo, não foi capaz de satisfazer as necessidades de António Salvador: o técnico, que já dera muitas alegrias ao clube, (treinou os minhotos entre 2003 e 2006) rescindiu e deu lugar a Jorge Paixão.

Paixão para alimentar uma espécie de «obsessão»

No oitavo lugar do campeonato, o Braga orientado pelo professor Jesualdo resolveu escolher um novo rumo técnico, nomeando Jorge Paixão como novo treinador dos arsenalistas. O técnico ex-Farense terá pela frente o grande desafio de alimentar o foco evolutivo defendido pela direcção do clube, que pretende colocar a equipa no topo da tabela classificativa. Contemplando um imediatismo desportivo exigente, Paixão tem a difícil tarefa de conseguir aquilo que nem Jardim, Peseiro ou Jesualdo conseguiram: estar à altura das expectativas de António Salvador e da SAD bracarense. Nos últimos anos, a exigência superou a real dimensão do clube: Salvador deposita em Paixão uma esperança exacerbada que coloca, imediatamente, uma pressão imensa sobre os ombros do novato treinador. 

Caso a abordagem directiva não se altere, a pergunta ecoará na mente do novo treinador bracarense: «O que terá de atingir Paixão para satisfazer o critério directivo do clube?» Se o talento não está em questão aqui (Jardim não é claramente um falhanço, Jesualdo tem uma reputação imaculada e Peseiro alcançou um 4º lugar acompanhado da conquista de uma Taça da Liga...) que feitos terá Jorge Paixão de alcançar para preencher a vontade bracarense? A resposta, implícita, torna-se afinal translúcida. Este Braga quer lugar pelos três primeiros lugar da tabela. Tem a palavra Paixão.