Numa partida inacreditavelmente decepcionante para os portistas, o Sánchez Pizjuán foi palco do jogo da 2ª mão dos quartos-de-final da Liga Europa. Em solo espanhol, os dragões foram massacrados por 4-1 diante do Sevilha. Os sevilhanos chegaram à tão famosa remontada e, depois de terem perdido no Dragão, com um golo de Mangala, não baixaram os braços, com Rakitic, Vitolo, Bacca e Gameiro a darem cor a uma exibição que, para os dragões, foi em tudo cinzenta. Apesar do descalabro, os azuis e brancos apontaram o golo da noite, com um tiro brilhante de Quaresma que, ainda assim, não foi suficiente para evitar o desastre desta que foi a 2ª derrota mais pesada do Porto nas competições da UEFA. Termina assim a caminhada dos invictos que falham a presença nas meias-finais, onde o Benfica já tem lugar garantido.

Trinta minutos de descalabro que impediram o Dragão de sonhar

Com o Ramón Sánchez Pizjuán repleto de aficionados esperançosos na remontada, o Porto apresentou-se irreconhecível e as baixas de Fernando e Jackson fizeram-se sentir, no meio-campo e no ataque azul e branco. A fazer lembrar a humilhação sofrida, há dois anos, diante do Manchester City, esta desastrosa noite europeia ficará, infelizmente, na memória dos portugueses como uma das exibições mais apagadas de uma equipa lusa nas competições do Velho Continente.

Os primeiros 30 minutos em Sevilha dificilmente serão esquecidos para os portistas com a defesa azul e branca a tremer desde o 1º minuto, em parte devido à falta de consistência que o meio-campo dos dragões oferecia dentro das 4 linhas. Aos 4 minutos, o árbitro da partida assinala grande penalidade a favor do Sevilha, numa decisão que, em tudo, prejudicou o Porto, por se tratar de um erro colossal do juiz da partida. Chamado a converter, Rakitic não tremeu diante de Fabiano e, em sintonia com os adeptos sevilhanos, colocou todo o estádio em êxtase e começava assim o pesadelo para os comandados de Luís Castro. Depois do golo, o Porto acusou em demasia a pressão exercida pelos espanhóis e, não fosse Fabiano a negar o golo a Bacca, o Porto poderia ter uma desvantagem enorme, só nos primeiros 15 minutos da partida.

Com uma desconexão inacreditável entre os sectores dos azuis e brancos, o Porto falhou vários passes e apenas aos 23 minutos tivemos a primeira aparição do Porto na área contrária, com uma trivela de Ricardo Quaresma que Beto resolveu com uma defesa fantástica. Apesar da tímida resposta dos dragões, pouco depois foi o Sevilha a aumentar a vantagem com uma jogada rápida que apanhou desprevenida a desamparada defesa azul e branca. O autor do golo foi Vitolo que consumou a reviravolta que os espanhóis tanto proclamaram. Sem discernimento e sem organização, o Porto não soube aguentar a pressão alta movida pelos centro-campistas sevilhanos, com Rakitic em grande plano, a controlar o miolo. Sem surpresa, o desastre continuou e o internacional colombiano Bacca ampliou para 3-0 o marcador. Os últimos 10 minutos da 1ª parte foram controlados pelos dragões, com Herrera e Quaresma a desperdiçar duas oportunidades que, ainda assim, não deixaram de dar esperança para os segundos 45 minutos.

Com o apito do árbitro a fazer-se ouvir para o reinício da partida, os invictos pareciam voltar da cabine com outra identidade e, com uma bola ao poste, e com a expulsão de Coke, a presença nas meias-finais era ainda um objectivo ao alcance dos azuis e brancos. Os primeiros 25 minutos deste 2º tempo foram dominados pelos ainda campeões nacionais, com o Harry Potter a ser o foco de perigo para a baliza de Beto. O guarda redes português travou um duelo particular com Quaresma e, com a ajuda do poste, evitaram os festejos dos poucos portugueses no Sánchez Pizjuán. O Porto não conseguiu aproveitar a vantagem numérica e contar com a inspiração de Quaresma não foi suficiente, tendo em conta tamanha ineficácia do colectivo, que não permitiu ao meio-campo portista construir lances criteriosos que fizessem balançar as redes de Beto. Acabado de entrar, Kevin Gameiro deu a machadada final na eliminatória e o terror abateu-se definitivamente sobre as hostes portistas, com o 4-0.

Com os andaluzes já a pensar no sorteio desta Sexta Feira, o estádio, que certamente aprecia o bom espectáculo do desporto-rei foi ainda a tempo de assistir ao melhor golo da eliminatória e, quiçá, desta edição da Liga Europa. Quem mais do que Ricardo Quaresma para brindar os apaixonados do futebol, com mais um lance de génio que, inevitavelmente, acabou com um tiro fulminante ao ângulo da baliza do incrédulo Beto. Perante tanta qualidade técnica de Quaresma e com um golo astronómico, fica a ideia que o Porto tinha condições para ultrapassar este rival mas, com a garra demonstrada pelos sevilhanos, a passagem às meias-finais acaba por ser inteiramente justa, diante dum dragão que apenas se pode queixar dos seus próprios erros.

Quaresma agitou a varinha tarde demais

Com este desaire europeu, os dragões deitam por terra a ambição de salvar a época com uma possível vitória na UEFA e acentuam a péssima temporada que tem sido cada vez mais para esquecer. Numa semana, o Porto perde matematicamente todas as hipóteses de revalidar o título e de marcar presença em mais uma final europeia.

A defender as redes azuis e brancas nesta partida, esteve o sempre seguro Fabiano que, apesar da goleada, evitou o colapso total, com 3/4 intervenções de grande nível. A defesa composta por Danilo, Mangala, Reyes e Alex Sandro, teve uma tarde/noite terrível, com uma apatia tal que o último reduto azul e branco foi presa fácil, diante de um Sevilha personalizado na frente, com Rakitic, Vitolo, Reyes e Bacca a serem os rostos da remontada que o sector defensivo azul e branco não conseguiu evitar.

Para perceber a inoperância defensiva dos dragões é essencial ter em conta a ausência de Fernando no centro do terreno. O luso-brasileiro que cumpriu castigo foi uma baixa de vulto e mexeu com toda a organização de jogo dos invictos: na pressão alta ao adversário, na primeira fase de construção, bem como nas saídas rápidas com Defour. Com esta indisponibilidade na convocatória, foi Defour a alinhar a número 6 e, nestas funções, o belga perde o seu poder de construir jogo um pouco mais à frente no terreno. Com as adaptações no miolo, foi o Sevilha a pressionar os azuis e brancos e, balanceado para a frente, Rakitic deu classe e garra à sua equipa.

Ao contrário da 1ª mão no Dragão, o croata teve, nesta partida, todo o espaço entre linhas para servir criteriosamente os dianteiros sevilhanos e a marcação que Fernando tinha exercido há uma semana contrastou com as facilidades que a estrela dos espanhóis teve no encontro. Neste embate frente ao Sevilha, o meio-campo dos dragões não esteve ao nível do que costuma apresentar com Luís Castro e, com esta instabilidade, foi o sector mais recuado a sofrer quando era essencial segurar a vantagem mínima trazida da Invicta. Com Defour, Herrera e Carlos Eduardo, o miolo não soube tratar o esférico como costume e, desde que o técnico Luís Castro assumiu o cargo de treinador, esta foi a pior exibição dos azuis e brancos.

No ataque, Quaresma foi o melhor da equipa e a sua classe e magia mereciam as meias-finais. O internacional português que ambiciona chegar ao Mundial apontou o melhor tento da eliminatória, no entanto, foi inútil perante tanta supremacia espanhola. Para a história fica este golo, pela sua espectacularidade e estética, com o mágico a não dar qualquer chance ao ex-portista Beto. Em sentido contrário, Varela e Ghilas foram espectadores sem pagarem ingresso e faltaram repentismo e habilidade para ajudar o desamparado Quaresma.

No futebol não existem suposições mas, com Fernando e Jackson, o desfecho poderia ter sido seguramente outro. Em termos técnico-tácticos, o Porto mostrou ser claramente superior na 1ª mão mas, para a eternidade do desporto-rei, fica a remontada que humilhou os invictos no Sánchez Pizjuán.

Rakitic acertou o passo sevilhano

A equipa do Sevilha soube aproveitar as ausências do Porto e, depois de estudar minuciosamente a formação azul e branca, conseguiu acertar marcações para esta 2ª mão e, apesar de ter um sector recuado frágil, soube compensar essa fraqueza, com um meio-campo que conseguiu conciliar poder de choque e pressão, com a genialidade de Rakitic.

O internacional português Beto repetiu a boa exibição do 1º encontro e levou, claramente, a melhor no duelo que travou com Quaresma. O central de origem, Daniel Carriço, que jogou condicionado alinhou no meio-campo defensivo e, com os seus conhecimentos da equipa do Porto, ajudou a travar as tímidas investidas azuis e brancas. O grande destaque vai, no entanto, para o croata Rakitic que mostrou mais uma vez o porquê de ser o maior craque do seu conjunto, com uma técnica inconfundível e com uma capacidade de passe acima da média. Para além do médio, também Bacca, Gameiro e Vitolo fizeram Fabiano recolher o esférico do fundo das redes e desenharam, assim, um ataque que, quando bem acompanhado pelo meio-campo, cria estragos aos seus opositores.

O adeus de Castro na estreia europeia

O inconsolável Luís Castro, em declarações à comunicação social afirmou: «O lance do primeiro golo foi precedido de fora de jogo e há simulação no penálti. O Sevilha igualou logo ali o marcador e as coisas complicaram-se um pouco. Depois um erro individual dá o segundo golo, a equipa desacreditou e teve um período de grande instabilidade. Só nos 10 minutos finais da primeira parte é que a equipa conseguiu equibrar o jogo. A segunda parte foi claramente nossa, o Sevilha atuou em ataque rápido e podiamos ter feito mais um golo.

A instabilidade tomou conta da equipa no início do jogo. A equipa não conseguiu reagir no momento que devia e só conseguiu ao longo da segunda parte. Se tivéssemos chegado ao 3-1, ainda íamos atrás do apuramento, mas com o quarto golo a equipa deixou nitidamente de acreditar, embora nunca deixasse de se entregar com muita dedicação e muito trabalho.»

Foto 1: RTP
Foto 2: A bola
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