Estreia horrenda para a selecção portuguesa, primeira ronda do Mundial 2014 para a turma de Bento, primeira goleada sofrida: quatro golos germânicos sem resposta, autêntico K.O. que deixou Portugal sem sentidos. Em Manaus, entrada péssima repleta de percalços, azares e uma exibição que desiludiu em larga escala. Paulo Bento manteve a postura conservadora, apostando num onze previsível sem adições novas. William Carvalho ficou no banco, Éder também, assim como Neto. O virtuosismo colectivo da Mannschaft começou a fazer estragos logo aos 11 minutos: Muller encarregou-se de marcar a grande penalidade e logo aí se pressentiu um prenúncio receoso. O pior estava para vir.

Penalidade desbravou caminho no Arena Fonte Nova

Depois de uma jogada genial, feita ao primeiro toque, a selecção alemã furou a barreira média de Portugal, chegando com imenso perigo ao coração da área lusa na sequência de um movimento que deixou Mario Gotze perto do remate. João Pereira, em dificuldades para parar o médio criativo, cometeu grande penalidade, no entender do juiz Milorad Mazic. Castigo marcado por Muller, 1-0 aos 12 minutos de jogo, mau começo luso depois de um susto enorme provocado por um atraso descuidado e um pontapé descabido de Rui Patrício terem semeado o pânico na área portuguesa. Antes já Portugal ameaçara, por Ronaldo, as redes de Neuer (logo aos 7 minutos), quando ainda havia pressão do meio-campo luso.

Diagonais sustentaram jogo interior

O 4-2-3-1 do seleccionador Joachim Low tinha como objectivo povoar o meio-campo com a disponibilidade defensiva de Khedira e Lahm (adaptação vinda do Bayern de Guardiola), duas peças que, além de taparem os caminhos da progressão lusa, tinham como função rodar a bola pelas linhas laterais, basculando a posse de bola, na espera por uma brecha que possibilitasse o passe profundo para as alas, onde Gotze e Ozil se fixavam, prontos para conduzir a bola em velocidade. O balanceamento ofensivo da Alemanha permitia, depois de lançado o ataque, abrir linhas de passe para o desenrolar o jogo interior - neste plano, Gotze surgia várias vezes perto da meia-lua, em incursões diagonais, bem no espaço cego entre Meireles e Veloso.

Mobilidade de Muller

Depois da tranquila posse de bola, a Alemanha saia com segurança, percorrendo o meio-campo com trocas de bola curtas até ao passe para os flancos. Aí, nos corredores laterais, pontificavam dois jogadores com elevada capacidade de organização de jogo e de último passe: Ozil e Gotze, ambos elementos com facilidade em penetrar na zona central do oponente, esperando por linhas de passe, na construção de ziguezagues difíceis de serem monitorizados pelos adversários. A mobilidade de Muller (caiu nos flancos e no centro da área) foi outro dos trunfos da Mannschaft: o alemão do Bayern vagabundeou pelas imediações da área, qual falso avançado de ligação, pronto a combinar com os extremos.

Laterais cautelosos e a muralha de Khedira e Lahm  

A Alemanha alinhou com quatro centrais no seu último reduto, Howedes e Boateng nas faixas, numa clara demonstração de cautela: Ronaldo e Nani eram ameaças graves para as aspirações germânicas. Mertesacker, possante e lento central, poderia ter sido uma pecha 'agradável' para o estilo dinâmico e veloz da selecção portuguesa. Ainda assim, a solidez defensiva da Alemanha (que demorou a engrenar, verdade seja dita) e o curso positivo do jogo ajudaram a debelar tais medos. Mais à frente, a muralha de Khedira e Lahm controlava o meio-campo, trocando a bola na linha média e fazendo o adversário correr atrás do prejuízo (à imagem do Bayern de Pep Guardiola). 

Meireles e Veloso sem fôlego para combater

O triângulo do 4-3-3 português apenas funcionou nos escassos sete ou oito minutos iniciais - Veloso chega até a recuperar uma bola no meio-campo, lançando Ronaldo, que rematou para defesa de Manuel Neuer. Depois desse ímpeto inicial, o meio-campo das quinas desapareceu, cavando-se uma grande distância entre João Moutinho e a linha de Veloso e Meireles. Lentos, pouco combativos e tacticamente desatentos, Veloso e Meireles deram mostras de não ter o ritmo competitivo necessário para duelar com um meio-campo ágil e resistente como o da Alemanha. Com um miolo desintegrado, tanto na pressão como na saída de bola (ora lenta ora descompensada, por falta de velocidade global), Portugal foi assistindo ao domínio alemão.

Nani desinspirado, Cristiano Ronaldo desaparecido em combate

Nani colocou os alemães em sentido com um potente remate, aos 24 minutos: a bola passou perto da barra e nas bancadas os adeptos empolgaram-se. Mas, infelizmente para a turma de Paulo Bento, Nani apagou-se daí em diante. Orfão de boas mudanças de flanco capazes de abanar o bloco defensivo dos alemães, Nani foi abandonando o jogo, progressivamente. A desconcentração do extremo (própria do momento da equipa) chegou ao ponto de 'tramar' o colega Coentrão, numa jogada em que ambos chocaram, perdendo um prometedor lance de ataque. Cristiano Ronaldo também começou por castigar as mãos de Neuer, mas, depois dos 10 minutos de jogo, foi desaparecendo da partida, tentando remates de longe, ineficientes.

Cabeça de Pepe é inimigo que vem de dentro

No seguimento de uma disputa entre Pepe e Muller, o central luso-brasileiro perdeu a cabeça e cometeu um erro crasso que matou as esperanças lusas e boicotou qualquer chance de se voltar à discussão do desafio. O jogador do Real Madrid encostou a sua cabeça à de Muller, num claro acto de provocação que lhe valeu um vermelho directo. Uma expulsão ridícula que sentenciou, logo aos 37 minutos, Portugal à inferioridade numérica e a um sofrimento ainda maior, em pleno calor ardente brasileiro. O central, reincidente em casos de indisciplina, desiludiu a equipa e deverá falhar os próximos dois jogos.