O arranque do Mundial 2014 começou de modo aziago para Portugal e rapidamente a euforia, típica dos prólogos competitivos, deu lugar às críticas. A retumbante derrota, aos pés da Mannschaft, despoletou um mar de ataques ao planeamento de estágio da selecção portuguesa e também à aparente falta de preparação física do conjunto português - a derrota inaugural mostrou, de facto, um Portugal desligado, desconcentrado e mole. 

No programa desportivo«Tempo Extra», emitido na SIC às segundas-feiras, o jornalista Rui Santos levantou o véu das críticas e aprofundou o tema, fazendo uma explanação global daquilo que acha ser o principal problema da selecção nacional: «Não estamos perante a melhor selecção portuguesa», introduziu. «Há uma lógica de um clã aburguesado (...) que no fundo defende interesses específicos que não têm a ver com o rendimento desportivo», explicou, colocando a mira em Jorge Mendes e na sua influência empresarial dentro do colectivo luso.

Atacando a falta de renovação e de caras novas na formação lusitana, Rui Santos aludiu às «alterações meramente pontuais» que foram feitas desde 2012 até ao presente, concluindo que dentro do grupo da selecção existe uma espécie de socialização restrita, reservada àqueles que constituem o núcleo do colectivo português e cuja presença no lote de seleccionados é praticamente um dado adquirido, independentemente do rendimento apresentado. «É muito estranho que em dois anos (...) não tenham surgido outros jogadores», apontou, chamando também 'à pedra' a Federação Portuguesa de Futebol e as responsabilidades que a ela lhe cabem.

Sublinhando essa dinâmica de auto-preservação, o jornalista (que isentou Ronaldo desta situação) ilustrou o seu raciocínio com uma objecção veemente: «Era o que faltava, que, para se jogar na selecção nacional, tenha que se pedir licença ao Cristiano Ronaldo». A crítica prosseguiu, com Rui Santos a mencionar a existência de «um clã aburguesado que está a defender o seu interesse (...) o seu contrato, os patrocionadores, o super-agente...é isto que esta selecção nacional está a fazer», referindo-se a Jorge Mendes.

Preparação descuidada?

A selecção portuguesa foi das últimas a aterrar no Brasil, tendo chegado a solo «canarinho» no dia 11 de Junho, dois dias antes do começo da competição. Mais tarde que os portugueses, apenas os ganeses. O tempo de adaptação ao clima terá sido, portanto, menor que a grande maioria das congéneres presentes - a rival directa Alemanha chegara quatro dias antes do arranque da prova.

Apenas um treino entremeou a chegada (dia 11) e o início da Copa (dia 12), treino esse aberto ao público e com direito a autógrafos e até presença de adeptos no espaço reservado ao trabalho do colectivo das quinas. O jogo inicial ocorrereu a 16 de Junho, cinco dias depois da chegada - a rival directa Alemanha começara o seu plano de treinos no dia 8, enquanto que Portugal corria já com quatro dias de atraso em relação à Mannschaft. O primeiro treinamento português apenas ocorreu no dia 12 à tarde, com 10 mil aficionados nas bancadas.

Lesões são tiros no porta-aviões

Cristiano Ronaldo chegou ao Brasil com recatos físicos e um programa de treino especializado desenhado para curar a mazela no joelho. Apesar das palavras confiantes do capitão, Ronaldo não aparentou (frente à Alemanha) estar nas condições ideais. Meireles, que também chegara lesionado (fez trabalho específico de recuperação), mostrou-se igualmente fora de forma. Fábio Coentrão lesionou-se sozinho, assim como Hugo Almeida, ambos diante dos germânicos. O lateral do Real Madrid já abandonou o Brasil, ao passo que Almeida enfrentará não menos de 10/12 dias de paragem. 

A estes junta-se Patrício, também lesionado. O guarda-redes do Sporting contraíu uma lesão, detectada pelo departamento luso após a partida com a Alemanha. Falhará os restantes jogos da fase de grupos.