A Bélgica acordou ontem à noite os Estados Unidos da América do seu «sonho americano»: a vitória belga, por 2-1, no estádio Arena Fonte Nova, colocou termo à ambição estadunidense e deu impulsão à caminhada belga neste Mundial 2014. O triunfo da selecção orientada por Marc Wilmots corrobora assim uma suspeita que pairava sobre os «Diables Rouges» - a de que esta formação seria uma das melhores desde a década de 80, altura em que nomes como Eric Gerets, Jean-Marie Pfaff, Jan Celeumans e Enzo Scifo, pontificavam no onze belga. Com golos de De Bruyne e Lukaku, a selecção da Bélgica segue para os quartos-de-final onde irá encontrar a Argentina.

Ascendente belga foi registo constante

Logo aos trinta segundos, a Bélgica ameaçou a calmaria norte-americana com um remate do jovem Origi: Tim Howard sacudiu o perigo com os pés e abria assim um longo capítulo de defesas que seriam o grande obstáculo à goleada belga. Dempsey respondeu à tentativa de golo belga, aos 21 minutos, mas Courtois retorquiu na mesma moeda com que Howard dera troco a Origi. Ascendente belga a pautar o rumo do jogo, meio-campo dos diabos vermelhos a dominar as acções de circulação de bola e construção de jogadas de ataque, com Fellaini e Witsel a cobrirem as costas de De Bryune, o mais ofensivo do tridente do meio-campo.

Entrando numa lógica de parada e reposta, a partida cresceu de intensidade. Dois minutos depois da chance de Dempsey, De Bruyne causou perigo na área norte-americana - Vertonghen assistiu o antigo médio do Chelsea mas a direcção do disparo foi a errada. Com Dempsey rodeado por marcações apertadas e Johnson fora de combate (saiu lesionado a meio da primeira parte), os EUA deparavam-se com dificuldades para dar fluídez ao seu espraiamento em campo. Bradley, sem zona de acção livre, tardava em pegar no jogo americano.

«Howard Saves» Show manteve EUA na esperança

Na segunda parte o ascendente belga acentuou-se e teve na figura de Tim Howard um oponente à altura: aliás, o único oponente capaz de travar a qualificação belga. Origiu voltou a ser o primeiro a dar o mote atacante, com um cabeceamento à barra, aos 56 minutos de jogo. Um minuto depois, Vertonghen rematava para defesa de Howard, e, aos 71 minutos, Origiu voltou a enfrentar o guarda-redes do Everton, vontando a perder no duelo com o gigante de 35 anos - defesa crucial de Howard muito aplaudida pelos fãs norte-americanos, Origi, desalentado, tinha tempo e espaço para fazer melhor.

Cinco minutos depois (Howard mal podia suspirar de alívio entre lances...) foi a vez de Mirallas, acabado de entrar, testar os reflexos de Tim Howard. A passe de Origi, Mirallas, isolado, permitiu a defesa crítica do norte-americano. Aos 79 minutos, outro calafrio na área dos EUA, outra defesa do imparável «keeper», que parecia ser intransponível: Hazard nem queria acreditar. Aos 83 minutos, Besler salvou a sua selecção, substituindo o guarda-redes na tarefa de manter as esperanças intactas. O gigante Van Buyten quase festejava o golo decisivo, mas o central Besler interceptou o passe de Kompany e impediu o remate do central belga.

Wondolwski não premiou exibição de Howard

Até final dos 90 minutos, Howard continuou a ser grande demais para o tamanho da baliza e para a pontaria dos belgas. Aos 85 minutos voltou a negar o golo a Origi, e aos 90 segurou o remate enrolado de Kompany, numa altura em que a sua baliza era sitiada pelas subidas em bloco da formação de Wilmots. Apesar da avalanche ofensiva dos belgas, tempo houve ainda para o falhanço do jogo: em cima do fim, Wondolowski desperdiçava uma oportunidade de ouro para qualificar os EUA, já perto da pequena área e com espaço para desfeitear Courtois, o estadunidense atirava escandalosamente para fora - Jurgen Klinsmann nem queria acreditar na negação do milagre.

Prolongamento trouxe os golos

Foi no prolongamento que os golos desaguaram no Arena Fonte Nova. Depois de 90 minutos de sede de golo, De Bruyne fez o 1-0, aos 93, acabando finalmente com a intransponibilidade do grande Howard: remate cruzado do jovem médio, beneficiando da assistência do recém-entrado Lukaku. O avançado possante de 21 anos aumentou para 2-0 à passagem dos 105 minutos, com um tiro na passada a passe de De Bruyne, que devolveu com gentileza a assistência feita anteriormente pelo colega. A entrada do avançado foi essencial para a descoberta do caminho para o golo, já que o seu poderio físico fez a diferença no seio de uma defesa estadunidense cansada.

Mesmo destroçados pela rajada de golos da Bélgica, os homens de Klinsmann reagiram, marcando o 2-1 por intermédio do novato Julian Green, que rematou um vólei feito por Bradley. O golo deu energia aos estadunidenses, pelo menos, a suficiente para que mais tentativas se sucedessem: Dempsey aos 114 minutos poderia ter empatado o jogo mas Courtois defendeu o remate do capitão. Aos 117 minutos, os EUA inundavam a área belga mas as tentativas caíram saco roto. Omar González esteve perto do 2-2 mas o triunfo acabou por ser dos belgas.

Preterido Donovan criticou a selecção após eliminação

Amargurado por ter ficado fora da convocatória de Klinsmann, Landon Donovan, melhor marcador da História dos EUA (136 golos), não escondeu a tristeza ao saber da sua ausência no Mundial 2014. Ontem, depois da eliminação da selecção estadunidense, Donovan criticou as exibições dos EUA, exceptuando o do empate frente a Portugal:«Os Estados Unidos jogaram três jogos medíocres e um em que mereceram a vitória, contra Portugal», afirmou à ESPN. «Só uma grande actuação de Tim Howard evitou que a Alemanha nos goleasse, bem como a Bélgica», declarou Donovan, que expressou, ainda assim, orgulho nos colegas.

«Diables Rouges» perseguem melhor classificação num Mundial

A selecção belga, uma das mais bem apetrechadas de sempre, continuará a perseguir, neste Mundial 2014, a melhor classificação de sempre na prova. Tal feito aconteceu no Mundial de 1986, quando a Bélgica conseguiu um meritoso quarto lugar. Na tentativa de igualar esse feito, a Bélgica encontrará a poderosa Argentina nos quartos-de-final: esse será o maior teste de ambas as congéneres neste Mundial do Brasil.