Notícias VAVEL

Análise Táctica: Argentina

A selecção das Pampas chega a mais uma final do Mundial, sem o brilho de outrora, mas com uma eficiência tremenda.

Análise Táctica: Argentina
francisco-fontes
Por Francisco Fontes

A Argentina chega a mais uma final de um Campeonato do Mundo, a quinta da sua história. Nas quatro anteriores partidas derradeiras, venceu duas, em 1978 e 1986 e perderam outras duas, em 1930 e 1990.

Outrora liderada pelos míticos Kempes ou Maradona, esta selecção Alvi Celeste é comandada por Leo Messi, astro do Barcelona. No entanto, o futebol apresentado, tanto pelo nº10 como pela própria selecção, não convece os mais cépticos. Com esta Argentina, não vemos um jogo tão bonito, mas sim um jogo mais táctico e concentrado muito no músculo presente no meio campo, com um 4.3.3 que tem resultado na perfeição.

A defesa das Pampas

O sector defensivo da Argentina tem demonstrado grande solidez neste Mundial. Romero, que tem estado em destaque depois das boas exibições nas fases a eliminar, apenas consentiu três golos, todos eles na fase de grupos. O guarda-redes suplente do AS Monaco, que esta época apenas realizou 2 jogos pelo clube francês, tem estado irrepreensível e é um dos responsáveis pela boa prestação defensiva da equipa.

O quarteto defensivo também se tem revelado bastante competente. Depois de no primeiro jogo frente à Bosnia (sem dúvida dos mais fracos da Argentina neste Mundial), Sabella ter feito alinhar uma defesa com 3 centrais e 2 laterais, o seleccionador voltou a utilizar o seu sistema predilecto e durante o resto da campanha, optou por um sistema de 2 centrais e 2 laterais.

À esquerda, Marcos Rojo tem estado irrepreensível. Muito forte a defender, o lateral conseguiu anular quase sempre as ofensivas dos seus adversários. Esteve muito forte, no último confronto com a Holanda, ao conseguir diminuir o impacto de Robben na partida. Por vezes, o central do Sporting, que na selecção é lateral, aborda os lances de forma pouco própria, com agressividade em demasia, o que lhe custa pontos no capítulo disciplinar. No entanto, tem sido um dos jogadores mais importantes da defesa argentina.

A atacar, o jovem não se sente tão à vontade, e muitas vezes (principalmente no ínicio da competição), precipita-se a tirar cruzamentos descabidos. Não obstante, tem se verificado uma grande evolução do jogador a actuar como lateral. Nos jogos em que alinhou na fase a eliminar, subiu com mais confiança e conseguiu criar algumas jogadas de perigo pela esquerda. Outro ponto forte são as bolas paradas. Marcos Rojo é um perigo a jogar de cabeça e conseguiu fazer balançar as redes adversárias por uma vez neste Mundial.

Para resumir, Rojo é dono e senhor do lugar de lateral esquerdo, muito por culpa das boas exibições que tem vindo a fazer. No jogo contra a Bélgica, em que Basanta foi chamado a suprir a ausência de Rojo, deu para perceber que este primeiro não é alternativa ao jogador do Sporting e que Rojo é, actualmente, o melhor lateral esquerdo argentino.

Na direita, reside o titular indiscutível Pablo Zabaleta. O jogador do Manchester City , tem desempenhado o seu papel na perfeição. Zaba é uma autêntica locomotiva. Um jogador que não desiste de nenhum lance e que é tão competente no plano defensivo como no ofensivo. Na defesa, o jogador raramente comete erros e à semelhança de Rojo, a única coisa que se lhe pode apontar é o facto de, por vezes, não reflectir antes de abordar os lances de forma muito agressiva. No ataque, o lateral é mais forte do que Rojo, e funciona como que um rolo compressor, sempre disposto a carregar sobre a defesa contrária e a criar bastante perigo sobre a ala direita.

No centro da defesa residem dois centrais muito competentes. Se no ínicio da competição Sabella apostou muito em Campagnaro/Fernandez e Garay, agora as escolhas recaem sempre sobre El Negro e Demichelis. O experiente defesa do City traz à equipa muita segurança. Apesar de estar mais lento do que há 4/5 anos, o central compensa com mais veterânia e um maior acerto nas abordagens aos lances. Muito forte no jogo aéreo, o central do City é também muito competente a jogar com os pés.

No outro eixo do centro da defesa está Ezequiel Garay. O central ex-Benfica tem sido um dos melhores centrais da competição. Garay raramente comete erros e tem sido muito forte na marcação. O central raramente compromete o espaço nas suas costas e consegue, com maior ou menor facilidade anular os avançados dos opositores. Se repararmos, no último jogo, Van Persie quase não teve oportunidades de ter impacto na partida, muito por culpa de Garay. Apesar de ser muito forte a jogar pelo ar, é sobretudo o seu "toque de bola" que impressiona. El Negro joga muito bem com os pés e muitas vezes, consegue fazer passes longos exímios, a explorar as costas da defesa adversária.

Van Persie teve a sua tarefa muito dificultada por Garay. (Fonte: FIFA)

Em termos tácticos, notamos que a defesa da Argentina é uma defesa que gosta de jogar subida, mas também sabe recuar no terreno quando as situações da partida assim o exigem. Igualmente, é uma defesa que gosta de ter bola no pé e prefere tentar construir jogo desde trás, em vez de despejar bolas para a frente. Por fim, notamos também que é uma defesa muito forte a colocar os adversários em fora de jogo. Toda a defesa consegue movimentar-se, coordenadamente para assim deixar os adversários em posição ilegal. Este tem sido um dos sectores mais fortes da equipa das Pampas e da competição.

Defensivamente, a Argentina tem uma forma de marcação muito compacto, tentando sempre que possível reduzir os espaços para o portador de bola. Com esta pressão, este último não consegue ter linhas de passe, o que dificulta muito a verticalização do jogo, obrigando as equipas adversárias a lateralizar muito, ou então a estender demasiado o seu jogo, tentando explorar as costas dos defesas argentinos, muitas vezes sem sucesso.

Se a Argentina é muito forte defensivamente, isto também se deve muito ao tridente centro-campista que Sabella usa.

Um meio campo musculado e com criatividade

O meio campo Argentino tem ajudado a manter os níveis elevados a que a defesa se tem apresentado. No 4-3-3 de Sabella, o meio campo tem um papel fundamental e com muito músculo.

No plano mais recuado do meio campo está Mascherano. O jogador do Barcelona é uma das peças fundamentais da equipe da Argentina. É ele quem segura todo o meio campo, tanto no aspecto ofensivo como defensivo. No processo defensivo, Javier Mascherano é muito importante. É ele quem coordena todo o meio campo defensivo das Pampas e é ele o responsável por grande parte das dobras, como se viu neste último jogo frente à Holanda, a dobrar um dos centrais Argentinos e a negar um golo certo a Robben. No plano ofensivo, é por ele que a bola passa sempre. O médio defensivo recua perto dos centrais para ir recolher a bola e assim iniciar o processo ofensivo argentino. É sem dúvida um dos elementos preponderantes desta equipa.

Mascherano tem estado exímio. (Fonte: Getty Images)

Do lado esquerdo do tridente centro-campista, costumava estar Di Maria. El Fideo deverá perder a final deste Domingo por lesão e será uma baixa de peso. Era ele quem agitava todo o jogo, com a sua criatividade e sucessivas arrancadas pela esquerda que desiquilibravam a defensiva opositora. Igualmente, embora que num plano menos, Di Maria tinha alguma importância no aspecto defensivo. Era ele quem fechava sobre o lado esquerdo do meio campo e trazia alguma ajuda a Marcos Rojo.

No entanto, no seu lugar deverá surgir Enzo Pérez (talvez jogando pela direita). Embora não tenha a mesma qualidade que Di Maria para ligar defesa e ataque, Enzo também é forte na condução de bola. Será certamente ele que tentará aproximar os sectores defensivos e atacantes da Argentina. Por outro lado, Enzo Pérez ajuda mais na defesa do que Di Maria e isso é uma vantagem para a Argentina, que precisará de muito músculo e espírito de sacrifício para fazer frente ao meio campo alemão.

Na ausência de Di Maria, Enzo deverá ser chamado para a titularidade. (Fonte: Getty Images)

No lado direito do meio campo, estará, muito provavelmente Lucas Biglia. O médio da Lazio funciona mais como um complemente a Mascherano. O ex-Anderlecht participa pouco no jogo ofensivo, pois não tem as característica de Di Maria ou Enzo Perez. No entanto, no plano defensivo, recua para formar com Javier Mascherano um duplo pivot, cujo objectivo passa por destruir rapidamente o jogo do adversário e tentar o contra-golpe. É aqui que Biglia é mais forte. Aquando da recuperação de bola, Biglia tem capacidade para de imediato inicar um contra ataque, com lançamentos rápidos para os alas. Será com certeza isso que Sabella pretende ao colocar o médio da Lazio em campo.

Um ataque de magia

No ataque argentino é onde reside a maior magia da selecção Argentina. No entanto, este 4-3-3 de Sabella difere dos habituais, em que temos 2 jogadores colados às linhas e um ponta de lança fixo. Aqui, apenas existe um ponta de lança fixo, um ala e um "vagabundo".

Tanto à esquerda, como à direita pode estar Lavezzi/Kun Aguero. Por exemplo, no processo ofensivo, quando Lavezzi ataca pela direita, Di Maria/Enzo sobem pelo outro corredor, e vice-versa. Tanto Lavezzi como Aguero dão garantias nas alas e garantem uma maior profundidade ao ataque Argentino. Já no processo defensivo, Lavezzi tem um papel muito mais importante; Aguero quase não tem preponderância no processo defensivo. Lavezzi é bastante batalhador e presta um auxílio importante ao meio campo, fazendo muitas "piscinas" e recuando bastante, o que limita bastante a acção dos laterais da equipe adversária. Isto poderá ser importante para limitar as incursões de Lahm.

Lavezzi tem sido um fiel ajudante de La Pulga. (Fonte: Reuters)

No centro do ataque, reside Gonzalo Higuain. O jogador do Nápoles tem estado em evidência, com movimentações sempre perigosas. Este é um avançado ideal para jogar neste estilo de jogo. Um avançado muito móvel, que está sempre à procura de espaços para receber a bola e que jogar muito bem no limite do fora de jogo e que na altura de finalizar, não costuma perdoar. O nº9 argentino tem estado muito bem a arrastar defesas e a tentar libertar um pouco mais os seus companheiros e tem estado com faro goleador, sempre muito incisivo em todas as suas acções. No processo defensivo, é também o primeiro a tentar incomodar os defesar adversários a efectuar lançamentos longos e a não deixar que o jogo dos opositores se construa pelo chão. Tem sido um dos elementos em maior destaque na Argentina.

O outro elemento deste ataque frenético é Leo Messi. O astro do Barcelona não tem uma posição definida em campo e joga como se fosse um "vagabundo", ocupando muitas vezes posições mais centrais no terreno. É por ele que passa grande parte do jogo da Argentina e se Messi não está bem, a sua selecção ressente-se. Messi não se tem exibido ao nível que mais nos habituou no Barcelona, muito por causa da marcação implacável dos seus adversários (está constantemente a ser vigiado por três ou quatro jogadores adversários). A Alvi Celeste ressente-se, pois falta um pouco de criatividade e objectividade no último terço do campo. No entanto, e é aqui que se vêm os grandes jogadores, Messi consegue, quase sempre, tirar um coelho da cartola e resolver os jogos sozinhos. Foi assim contra a Bósnia, Irão, Nigéria e Suiça. Por estes motivos, é o jogador mais importante da Argentina.

No processo defensivo, a sua presença é quase insignificante. Também, não esperamos que Messi contribua muito neste processo. No entanto, quase todo o jogo ofensivo passa por ele. Face às dificuldades da Argentina em construir jogo desde trás (ainda mais agora que Di Maria não tem jogado), é La Pulga quem vai buscar jogo mais atrás, quem desce até ao meio campo e tenta pegar no jogo. Por isso, é lógico que o jogador do Barcelona não consiga ter a mesma preponderância na partida como tem na Liga Espanhola (onde pisa terrenos mais adiantados). No entanto, a Argentina sente-se muito orfã caso Messi não apareça e se os azuis e brancos desejam voltar a erguer o trofeu máximo do futebol Mundial, muito dependerá da forma de Leo Messi.

Todo o jogo Argentino está centrado em Lionel Messi. (Fonte: FIFA)

Apesar das várias críticas ao sistema de Sabella e muitas dúvidas quanto às capacidades deste último, a verdade é que a Argentina está numa final do Mundial, 24 anos depois. Se quiserem levantar o troféu, terão de ter o mesmo rigor táctico que tiveram até hoje e terão de esperar que Messi esteja num dos melhores dias, pois só assim poderão bater a toda-poderosa Alemanha de Muller, Kroos e companhia.

11 provável para a Final de Domingo

Caption