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Sporting x Benfica: Será no meio que está a virtude dos «derbies»?

O «derby» dos «derbies» já mexe e a VAVEL Portugal mostra ao pormenor os trunfos dos técnicos para o meio-campo do Sporting e Benfica, num jogo grande que promete ser um verdadeiro espetáculo táctico de Marco Silva e Jorge Jesus.

Sporting x Benfica: Será no meio que está a virtude dos «derbies»?
Foto original: Demotix
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Por Francisco Dias

Antes dos golos e das fintas, um derby decide-se no mísero detalhe de colocar estrategicamente um trinco, um pivot, um médio ofensivo ou até mesmo um falso médio que ao mesmo tempo seja segundo avançado. Relembre os últimos 3 confrontos entre Sporting e Benfica para a Liga e conheça o mérito e o papel fundamental dos médios na abordagem a um jogo destas características. Para Domingo será William ou Samaris? Será Adrien ou Talisca? Na verdade, o que será realmente garantido é o melhor futebol táctico do desporto rei português.

2013/2014, influência técnico-tática dos médios em derbys da capital

O calendário da Liga Nacional de 2013/2014 ditou que à terceira jornada Sporting e Benfica se enfrentassem em Alvalade para mais um apaixonante duelo de gigantes. E foi assim que, em Agosto, o renovado Sporting de Jardim se deparava com a experiente e talentosa formação de Jorge Jesus. Neste jogo ficou visível a real influência que um meio-campo coeso e forte tem para fazer funcionar os restantes setores. Para a memória ficarão os golos de Montero aos 10 minutos e de Markovic aos 65 que deram colorido ao marcador, mas para a história deste derby é fundamental observar os desenhos táticos de Jardim e Jesus que conduziram ao resultado final.

Do lado leonino, Leonardo Jardim introduziu nas 4 linhas um sistema de 4-3-3, em que estavam bem definidos os lugares de trinco (William), pivô (Adrien) e médio ofensivo (André Martins). Relembrando a primeira metade deste encontro em Alvalade, foi notória a mão do treinador no desenrolar do jogo leonino ao nível do setor intermediário em 3 fases: numa primeira fase, William e Adrien tiveram o papel de pressionar desde logo a saída de jogo do Benfica por forma a bloquear precocemente os ímpetos ofensivos dos tecnicistas encarnados. Numa segunda fase, tanto William como Adrien tiveram a capacidade de, aquando da recuperação do esférico, promover rapidamente lances de perigo com passes de rotura que tanto um como o outro acabavam por delinear, permitindo a André Martins e aos extremos incomodarem as redes das águias.

A terceira fase diz respeito à perda de bola dos atacantes verde e brancos que acabava por pedir um esforço extra aos médios William e Adrien e até André Martins, para não descompensarem o setor mais recuado leonino. O lance do golo é um exemplo fantástico de como o meio campo sportinguista conseguiu numa primeira fase recuperar o esférico, promovendo um contra-ataque letal que nasceu nos pés de William, passando para André Martins, que fez uma tabela perfeita com Montero, acabando o colombiano por cabecear para o fundo das redes de Artur. Se é verdade que a primeira parte foi completamente dominada pelo Sporting, é interessante perceber porquê. Na verdade, o papel do meio-campo leonino foi fulcral para manter o sector defensivo e atacante o mais eficaz possível. No entanto, o esforço físico que os 3 do miolo tiveram para parar os experientes e artistas médios das águias viria a ser fatal para a viragem exibicional do centro do terreno benfiquista na 2ª parte.

Com o meio-campo composto por Matic e Enzo Pérez, com Rodrigo a jogar como falso ponta-de-lança e por vezes médio ofensivo, o Benfica de Jorge Jesus entrou para o segundo tempo mais forte e pressionante, aproveitando a quebra física de William e companhia, que apresentavam um desgaste que levou principalmente Enzo a recuperar várias vezes a bola enquanto nº  8, lançando automaticamente o ataque e abrindo brechas na defesa do Sporting, que Gaitán, Salvio e Rodrigo aproveitaram para criar perigo às redes de Rui Patrício. Como é reconhecido ao jogo táctico de Jorge Jesus, as suas equipas costumam imprimir uma avalanche ofensiva mortífera que neste derby o Sporting teve dificuldades em suster na 2ª parte. O papel de Matic e Enzo foi fundamental para impulsionar o golo do empate que Markovic acabou por desenhar, verificando-se o 1 a 1 final.

Depois do empate da 1ª volta, o Estádio da Luz foi palco do derby lisboeta da 18ª jornada, que acabou por sorrir para os homens de Jorge Jesus por 2-0. Nesta partida, tanto a primeira como a segunda parte foram completamente dominadas pelos encarnados. O papel de Fejsa e Enzo Pérez no miolo foi absolutamente mortífero para exercer uma pressão e uma dinâmica que asfixiaram por completo os médios leoninos. Com Dier, Adrien e Montero de início, o Sporting perdeu sem William aquela capacidade que demonstrou na primeira volta, não conseguindo contrariar a supremacia evidente dos encarnados ao longo dos 90 minutos. A adaptação de Dier foi desastrosa e por aqui se percebe que antes de se desenharem lances de finta ou remate é importantíssimo construir de forma organizada e dinâmica um meio-campo forte que permita aos setores defensivo e ofensivo ter uma maior consistência.

As brechas do meio-campo leonino levaram Gaitán e Enzo Pérez a marcarem os golos, ficando para a história uma exibição luxuosa do argentino que espelha a teoria de que no futebol atual é fundamental ter um médio que pressione, recupere o esférico e que saiba também atacar da forma mais criteriosa e eficaz possível. Para este resultado final tivemos num lado o meio-campo benfiquista forte, organizado e a defender bem, atacando de forma fantástica, e do outro um miolo leonino que sem um jogador com as características de William não teve consistência nem capacidade de choque, o que fragilizou os defesas e tapou os avançados.

Primeira volta 2014/2015: Marco Silva - Jorge Jesus, dois estrategas e duas equipas que já se conhecem bem

À semelhança do que aconteceu na época passada, a Liga definiu um derby à 3ª jornada, desta feita no estádio da Luz. O primeiro grande jogo da temporada terminou numa igualdade a uma bola, numa partida tremendamente equilibrada que apadrinhou a estreia de Marco Silva como técnico do Sporting em confrontos deste calibre. Se é verdade que o Benfica de Jesus tem há já vários anos a mesma estrutura táctica de 4-2-4/4-4-2, é também um facto que Marco Silva, apesar de jogar de uma forma mais ofensiva que Jardim, não deixou de aproveitar o legado do técnico madeirense, desenhando também um 4-3-3.

No lado encarnado, André Almeida jogou a trinco, Enzo Pérez a pivot e o estreante Talisca como falso avançado, substituindo Rodrigo que se transferiu para o Valência. O meio-campo do Sporting foi curiosamente o mesmo do primeiro derby da época passada, com Marco Silva a lançar William, Adrien e André Martins para a partida. Este jogão evidenciou um conhecimento de parte a parte entre as duas equipas, sendo uma partida muito táctica e presa a meio-campo. Por um lado, o estratega Jorge Jesus estava já familiarizado com a forma como William e Adrien compõem o miolo verde e branco, permitindo-lhe tapar principalmente a zona de William por forma a anular as saídas e as combinações com Adrien, evitando os famosos passes dos médios lusos. Por outro, o Sporting com um futebol já consolidado e com um grande entrosamento entre os sectores, possibilitaram-lhes equilibrar uma partida que foi no seu global repartida, valendo os golos de Gaitán e Slimani para perfumar as bancadas com um dos derbies mais táticos e espectaculares ao nível das estratégias de meio-campo.

Onde estará a virtude do meio-campo no derby de Domingo?

Para o emocionante encontro deste domingo, o técnico Jorge Jesus já não poderá contar, em comparação com a primeira volta, com o pivot Enzo, adaptando nas últimas partidas o brasileiro Talisca a novas funções. Para o derby com o Sporting, JJ deverá colocar em campo um meio-campo composto por Samaris e Talisca, com o grego a jogar a trinco e o brasileiro a atuar como nº8. Tratando-se de uma partida com um grau de dificuldade elevado, o técnico poderá mesmo atuar com estes dois médios mas com especial atenção para o papel de Talisca, jogador que tem sido um dos melhores marcadores da equipa, descobrindo desde que chegou à Luz propensões muito mais ofensivas do que defensivas.

No sistema de 4-4-2 de Jorge Jesus o papel do pivot é o mais fulcral na organização de toda a equipa e poderá ser demasiado arriscado colocar Talisca nessa posição. Mesmo tendo em conta que Samaris tem conseguido gradualmente equilibrar os setores defensivo e ofensivo, para que Talisca jogue a nº 8 será exigido ao grego maior poder de choque e de pressão deste que será o primeiro grande teste de Talisca numa posição tão recuada no terreno.

Do lado do Sporting, os inevitáveis William e Adrien irão compor o centro do terreno com João Mário, esperando-se o habitual 4-3-3 de Marco Silva. Caso Jorge Jesus mantenha Talisca (existe a possibilidade de jogar Pizzi ou Cristante no 11 inicial atendendo à dificuldade deste jogo) a nº 8, o organizado e trabalhador meio-campo do Sporting poderá aproveitar os espaços do meio-campo benfiquista, que é demasiado ofensivo. Neste parâmetro, é pertinente compararmos William com Samaris e Adrien com Talisca. Os trincos de Sporting e Benfica são bastante semelhantes na forma como abordam o jogo, sendo que tanto um como outro denotam um posicionamento fantástico, uma visão de jogo apurada e uma capacidade ímpar de compensar os 3 setores de jogo. A comparação de Talisca com Adrien é mais complexa na medida em que ambos têm uma qualidade extraordinária mas com características muito díspares.

No caso do leão, a visão de passe e a meia distância são uma mais valia, bem como a facilidade com que também apoia William nos lances defensivos, equilibrando todo o meio-campo. A águia Talisca não tem as mesmas características defensivas de Adrien nem o mesmo rigor táctico, mas tem a seu favor um poder de explosão aliado a uma técnica invulgar que lhe permite fazer passes de rutura e criar lances de finalização que tantas alegrias têm dado aos adeptos benfiquistas.

Se em qualquer partida de futebol o meio-campo é importantíssimo, na verdade em jogos destas características ganha uma relevância ainda maior. Jogos como Sporting x Benfica ou Benfica x Sporting, de resultado completamente imprevisível, reside normalmente nos detalhes a resolução de partidas deste calibre. Com esta análise é possível concluir que os defesas e os avançados apenas poderão cumprir os seus papeis num derby se no meio tiverem a organização, a dinâmica e a capacidade tática de conseguirem manobrar todas as fases de jogo. Sporting e Benfica são as equipas que melhor futebol praticam na actualidade em Portugal e têm ao seu dispor médios de classe que com certeza irão oferecer um verdadeiro espetáculo técnico-tático.