Se o Clássico tivesse acontecido há uma semana atrás, teríamos na Luz um Porto bem distinto do que aquele que se assume na luta pelo título, neste Domingo. Se o calendário de competições tivesse ditado que a visita à capital se faria depois de fazer cair o gigante Bayern no Dragão, a moral traria bagagem cheia, com a confiança de uma equipa que nem sempre fez por se mostrar assim, ao longo de uma época. Mas reuniram-se os feitos e os desastres, para que, em agenda complicada, o campeonato se decidisse depois de um golpe feio. Daqueles que deixam feridas abertas, na moral dos atletas. O Porto visita a casa do rival Benfica, depois de uma visita pouco cordial em Munique, onde se despediu da Liga dos Campeões com a derrota inanimada de 6-1. E até que ponto será esse jogo preponderante para aquele que se jogará hoje?

Convenhamos que este não era o Porto que merecia figurar numas meias-finais da Liga dos Campeões, discutindo o mais aclamado troféu europeu a quatro equipas. Não tem a consistência, nem ambição dos azuis de outrora, mas jogou com o factor surpresa que o fez chegar mais longe que provável na competição. Deste facto estariam os jogadores que compõe o actual plantel de Lopetegui conscientes. Das suas (in)capacidades enquanto colectivo. Mas os grupos constroem-se na base da competição e na crença por esta. O factor externo que veio desequilibrar a narrativa que o Porto construía foi, por antítese, a sua mais importante vitória da época. Ganhar, em jogo de apostas improvável, ao Bayern, rei europeu por esta época, foi o que fez mudar a consciência portista e fazê-la motivada para algo maior. Mas, porque os alemães têm memória curta, bastou uma semana, para transformar esta vitória em falso motivador de ego para os atletas ou até para o fazer virar contra eles.

Perder 6-1, depois de vitória cheia, depois de se fazerem contas a uma passagem de eliminatória e se criar uma consciência sobrevalorizada, poderá resultar num golpe demasiado duro de gerir, e de gerir em tão pouco tempo, quando se discute outra competição. Que na mesma semana não se ambiciona dupla despedida, mas é o que acontecerá, se os ânimos portistas não recuperarem a tempo, e, em caso de derrota na luz, serem obrigados a gerir adicionalmente a perda do campeonato, para além da da Liga dos Campeões.

Vários cenários se podem perfilar, perante um Porto que, embora conformado, não pode estar refeito da derrota aguda. Que a postura à entrada da Luz será firme, como a que a mentalidade do grupo do Norte nos tem habituado, é certo. Mas o que lhe poderá fazer mossa é também a entrada do seu rival no jogo. Se o Benfica for tão pressionante, como é teoricamente suposto que aconteça em sua casa, então poderemos ver sofrer um Porto que ainda está demasiado frágil pelos acontecimentos passados. Que os jogadores, mesmo que encarem partida a partida, não são capazes de desligar dos seus últimos erros e sentimentos, vividos no campo. E os egos pessoais também caíram, na última semana.

Em perspectiva discordante, está a imagem de um Porto que poderá surpreender, na entrada aguerrida em território inimigo. Em defesa da sua honra e moral, o «desvio Munique» poderá ter efeitos contrários aos expectáveis, permitindo-nos assistir a uma equipa mais destemida, com sede maior na luta de vitória. Com a prova passada em sua defesa, de que consegue ter capacidade de decisão em momentos-chave e mesmo que pontualmente em desvantagem. E aqui recordarão os benfiquistas o fatídico jogo de Maio, de há duas épocas atrás, em que o Porto arrecadou, estrategicamente, o campeonato, num clássico que seria teoricamente favorável ao encarnado.

O Porto é, neste momento, como uma peça de loiça que quebramos, quando deixamos cair ao chão. Depois, colamos meticulosamente os seus cacos. Mas sabemos que não terá a mesma firmeza que outrora. O Porto de hoje é mais frágil, mas não significa que não possa resistir.