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Melhor Benfica da contemporaneidade está dependente de Jorge Jesus

Jorge Jesus ingressou no Benfica em 2009 e desde cedo que soube o caminho para as vitórias, voltando a colocar o clube nas bocas do mundo passado muitos anos de esquecimento. Mas o técnico é muito mais que um treinador e é por isso que o Benfica pode estar hoje demasiado dependente do amadorense, algo que poderá vir a ser um grande problema para o futuro encarnado.

Melhor Benfica da contemporaneidade está dependente de Jorge Jesus
Foto: Isabel Cutileiro
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Por João Rodrigues

16-06-2009, Jorge Jesus era apresentado como treinador do Benfica. Passado um ano era campeão nacional após um época de uxo, com um título contruído à base de várias goleadas e de um futebol vistoso. Na vespéra da segunda temporada, o discurso era claro: «Vamos ser bicampeões». Contudo, isso não viria a ser possível e só depois de muitos preclaços e polémica é que quatro anos depois viria ser possível voltar a falar em bicampeonato. Há duas semanas esse sonho deixxou de ser uma mera intenção para passar a ser realidade.

Jorge Jesus tem sido um maquilhador - O técnico português, apesar de muita polémica e de ser, por vezes, algo inconsensual, é o homem que tem retocado o Benfica moderno. O técnico entrou na Luz pela mão de Luís Filipe Vieira e desde então tem arrebatado recordes atrás de recordes. Desde o maior número de vitórias consecutivas (18, alcançado a 02-03-2011), ao maior número de troféus numa temporada (3), até assumir-se como o treinador com mais jogos na história do Benfica (183). Esta época bateu mais um ao tornar-se no primeiro treinador português bicampeão pelas águias.

Os méritos de Jorge Jesus são inegáveis e este bicampeonato é apenas o exemplo mais recente do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos anos por si. Jorge Jesus é muito mais que um treinador. O Benfica com o Jorge Jesus não é só títulos. Aliás, não são só os títulos que contam quando avaliamos a passagem de um técnico por uma instituição desportiva. Um treinador não tem intervenção directa nas contas do clube, muito menos de um clube com tantas modalidades e de tão grande dimensão, mas pode ajudar a potenciar jogadores com a conquista de títulos. Da conquista de títulos já falámos. E dos jogadores?

Durante a era de Jesus no Benfica, o clube encarnado arrecadou 218 milhões de euros em venda de jogadores. Para tal contribuíram, em muito, jogadores que o próprio técnico criou e outras das suas famosas adaptações. Falamos de grandes jogadores que permitiram igualmente grandes encaixes, como Fábio Coentrão, Nemanja Matic, Axel Witsel, Enzo Pérez, Javi García… O técnico garante ainda ao clube da Luz tranquilidade durante os momentos mais difíceis (Jorge Jesus é muito forte nos dissimulados «mind-games»), algo cada vez mais precioso no campeonato português, onde se vive cada vez um clima de rivalidades levadas ao extremo, inventando-se todas as desculpas possíveis para imprimir pressão no adversário. Tudo isto são factores fundamentais para o sucesso, que permite a valorização do clube além-fronteiras, algo que não era possível há largos anos.

Jesus desde cedo soube o caminho para os títulos (Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica)

É por isto e muito mais que o Benfica está hoje cada vez mais dependente de Jorge Jesus. Uma dependência que pode vir a ser um grande problema num futuro presente. As suas recentes conquistas permitem-lhe que seja observado por alguns tubarões europeus podendo até vir a sair da Luz ainda nesta janela de transferências. O mais grave de tudo é que o Benfica nada poderá fazer para impedir uma aventura estranfeira. É uma escolha sua... Se quiser sai, se não quiser, não sai. E porque é que isto poderá ser um grave problema? Ora veja...

Quais poderão ser as consequências da sua saída?

Vieira e Jesus, juntos, conseguiram combater efectivamente a hegemonia do Futebol Clube do Porto. Os dois, como é do conhecimento público, têm uma relação muito boa e protagonizam o par perfeito entre presidente e treinador. Com eles, o Benfica voltou às conquistas; mas, como será a situação se o técnico sair? Voltarão os encarnados aos fantasmas do passado? Para compreender melhor, utilizemos o exemplo do Manchester United. Os «Red Devils» foram treinados durante muitos anos por Alex Ferguson. O escocês pegou numa à data muito mediana equipa do Manchester United, já no longínquo ano de 1986. Quando Ferguson tomou controlo da equipa, esta estava em 21º lugar, acabando essa época em 11º.

Na época de 1988/1989, o Man Utd esteve mesmo à beira da despromoção. Tal como Jesus, Ferguson pegou num clube que não estava habituado a triunfar há varios anos. Mais tarde, o escocês tornou o clube de Old Trafford num dos mais titulados clubes do mundo, mas quando se reformou, o clube sofreu um verdadeiro revés. Desde então o clube nunca mais voltou ao que era, tendo realizado nos últimos anos épocas muito irregulares. Ora, isto, é o que eu prevejo para o Benfica caso a saída de Jorge Jesus se confirme. A partir do momento em que ele saia, o presidente terá de arranjar, de imediato, um treinador ao seu nível para que a hegemonia do Benfica, que ainda agora começou, não seja posta em causa.

Esse será, a meu ver, o grande desafio de Luís Filipe Viera a maior desde que está ao comando do clube encarnado. Perto de completar 12 anos como presidente do clube da Luz, Luís Filipe Vieira foi decisivo na sobrevivência do clube na sequência da grande crise financeira que assolou a Luz (na viragem do milénio) mas só agora poderá vir a ter o seu maior desafio. Difícil é entrar no ritmo certo e isso ele fê-lo, ainda que tenha demorado vários anos; mas continuar nesse ritmo é ainda mais difícil. Com a saída de Jesus, tal pode ficar comprometido.

Mas poderá Jesus vir a ser um aspirante a Ferguson?

Se há argumentos que indicam a certeza da sua saída, também existem aqueles que dizem que é possível a sua permanência, quem sabe, por muitos mais anos. À semelhança do exemplo já dado para explicar as provavéis consequências da saída de JJ, o futuro das águias também pode ter semelhanças ao passado dos «Red Devils». A questão é simples: Poderá Jesus vir a ser o Ferguson do Futebol Português? A nossa cultura desportiva dirá que tal é impossível, no entanto, eu acredito que sim. Tudo poderá depender de muita coisa. Jorge Jeusus é um trabalhor nato, estratega e perfecionista, mas também intempestivo, egocêntrico e polémico.

No geral, Jorge Jesus é daqueles treinadores que gosta de andar na ribalta. Ele próprio provavelmete encarará com bons olhos os holofotes de uma liga mais competitiva, mas, como ele próprio já disse anteriormente, não trocará o Benfica por um clube qualquer. Para ficar no Benfica, o técnico poderá obrigar algumas condições, tais como o aumento de poderes a nível de decisão de gestão interna, não só relativamente a entradas e saídas do plantél, mas em relação a todas as questões que estejam direta ou indiretamente relacionadas com futebol, um pouco à semelhança de Ferguson no United. Só assim acredito numa permanência de JJ por muitos anos na Luz.

Mas será que Jorge Jesus terá feito o suficiente para exigir tanta confiança por parte do presidente e adeptos? Estará o futebol português e Luís Filipe Vieira preparados para acolher este modelo de gestão estratégica e desportiva de um projecto desportivo, baseado na total estabilidade? Com o reforço dos poderes do treinador encarnado dentro da estrutura, estarão reunidas as condições para a sua permanência? Tantas questões para um único tema. Um situação difícil de analisar. As próximas semanas vão ser longas em termos de decisões. O futuro? Só o destino o dirá...