Notícias VAVEL

Jesus regressa à Luz: seis anos é muito tempo

Como se um jogo entre Benfica e Sporting não fosse por si só rico em emoções fortes e à flor da pele, derivados de uma rivalidade centenária, eis que se junta mais um explosivo ingrediente. Depois de seis anos ao serviço dos encarnados, conduzindo a equipa da Luz a um vasto rol de conquistas, Jorge Jesus mudou-se para Alvalade, uma movimentação que marcou de forma indelével o arranque da nova época futebolística nacional. Este Domingo, Jesus regressa ao Estádio da Luz para defrontar a antiga equipa, tendo à sua espera um ambiente que se adivinha, no mínimo, de alta tensão.

Jesus regressa à Luz: seis anos é muito tempo
Jesus regressa a uma casa que tão bem conhece (foto: ASF)
francisco_ferreira
Por Francisco Ferreira Gomes

Verão quente todo o ano

Corria o ano de 1993 e para os lados da Luz viviam-se tempos difíceis; o Benfica apresentava graves problemas financeiros, problemas estes que englobavam salários em atraso aos jogadores do plantel encarnado. Tal situação acabou por ser aproveitada pelo rival Sporting; naquele que ficou conhecido como o "Verão quente de 1993", os leões contratam Paulo Sousa e Pacheco ao eterno rival numa operação que, apenas não incluiu o nome de João Vieira Pinto devido a uma rápida resposta da direcção encarnada.

Nesse ano seriam as águias a sair por cima quando João Pinto conduziu o clube da Luz ao título nacional, após uma decisiva vitória em Alvalade onde o avançado português esteve em plano de destaque ao assinar um hat-trick.

Doze anos volvidos e assistimos a uma reedição do verão de 1993. Ao contrário desse ano, o ataque leonino não tinha por alvo qualquer jogador, apenas Jorge Jesus, treinador que, nos últimos seis anos, tinha levado o Benfica a três campeonato, uma Taça de Portugal, duas Supertaças, cinco Taças da Liga e duas finais europeias.

Em final de contrato com o clube da Luz, o técnico terá sido aliciado a experimentar novas realidades futebolísticas; com efeito, e graças aos contactos do seu agente (Jorge Mendes), foram-lhe oferecidos clubes na Rússia, Itália ou Qatar. Perante este cenário, e percebendo das intenções das partes envolvidas, Jesus recusou os convites para treinar no estrangeiro, sendo consequentemente contratado pelo Sporting através de um processo que até a pessoa mais alheada ao universo futebolístico terá conhecimento.

A chegada de Jorge Jesus a Alvalade foi o fenómeno mediático do verão, alvo de uma cobertura exaustiva, cujo detalhe até chegou aos limites do razoável e tolerável. Todavia, e apesar de todo o cepticismo e alguns comentários jocosos, a verdade é que Jesus era agora leão, o terramoto acabara de acontecer, e as réplicas são sentidas até hoje.

Com efeito, o actual clima de elevadíssima tensão entre águias e leões começou com a chegada de Jesus ao Sporting; desde então impera o clima de guerra aberta e sem quartel, onde qualquer episódio (factual ou fictício) é arma de arremesso na tentativa de enfraquecer e destabilizar o adversário. É caso para dizer que o verão quente chegou a Outubro, e parece não dar sinais de arrefecimento.

Regresso à casa de partida

Jorge Jesus regressa à Luz na condição de visitante seis anos depois. Em 2009/2010, o técnico chegou ao Benfica oriundo do Sporting de Braga, tendo assumido as rédeas do clube encarnado. Depois de um período de instabilidade desportiva, baseada num verdadeiro cortejo de jogadores e treinadores, e que culminou com a perda da hegemonia do futebol nacional, a direcção encarnada viu em Jesus um treinador experiente e capaz de criar uma base estável e de crescimento constante.

A verdade é que Jesus terá saído "melhor que a encomenda". Assim, e depois de quatro anos de jejum, o Benfica voltou a conquistar o título nacional, juntando a tal um futebol ofensivo demolidor. (foto: ASF)

Realizando uma verdadeira revolução no futebol benfiquista, Jesus ganhou o afecto dos adeptos encarnados, sentimento naturalmente intermitente aquando de alguns fracassos. Depois de uma verdadeira dança de treinadores, o clube da Luz encontrava no técnico luso alguém capaz de criar uma "dinastia" no futebol nacional.

É claro que nem tudo foram rosas no caminho do técnico na Luz, tendo muitos "pedido a cabeça" de Jesus após a temporada 2012/2013, época em que o Benfica falhou a conquista de troféus. Depois de perder o campeonato para o Porto na penúltima jornada, o Benfica saiu derrotado das finais da Taça de Portugal e Liga Europa. (foto: ASP)

A chegada de Jorge Jesus ao Sporting, independentemente de todo o mediatismo e polémica associados, constitui o arranque de uma nova fase na carreira do técnico português. Tal como o fez na Luz, Jesus teve um impacto imediato na equipa de Alvalade, alterando profundamente todo o futebol do clube verde-e-branco.

Poucos meses depois de ter abraçado um novo projecto, Jesus regressa à casa de partida, ao Estádio onde, após um longo período no futebol nacional, demonstrou toda a sua qualidade, revelando ao mesmo tempo uma personalidade bem característica. Olhando para o outro lado da barricada, o técnico ainda encontra reminiscências do seu trabalho, um trabalho longo e que catapultou o Benfica para uma posição de destaque no nosso futebol, à medida da história do clube da Luz. (foto: maisfutebol.iol.pt)

Neste domingo a recepção a Jorge Jesus adivinha-se tudo menos hospitaleira, afinal de contas, nenhum adepto que se prese gosta de ver alguém que julgava um dos seus passar para o outro lado das trincheiras. Todavia, é de acreditar que o verdadeiro adepto benfiquista, no fundo do seu coração empedernido por aquilo que considera como uma traição imperdoável, esteja eternamente grato a Jorge Jesus por tudo aquilo que trouxe ao seu clube.

Clube e treinador têm muito a agradecer um ao outro, e certamente ambos terão essa consciência. Independentemente de todas as guerrinhas,mesquinhices e politiquices, Benfica e Jesus sabem o que passaram juntos e as memórias que partilham, e são essas que perduram para além do tempo.