Há cerca de um mês, quando o Sporting tombou, e com algum estrondo, em casa perante o Lokomotiv de Moscovo pela Liga Europa, ninguém esperaria que o leão fosse capaz de escrever uma página dourada na sua História como acabou por fazer na Luz perante o rival de sempre Benfica, deixando-o, quem diria, em Outubro já sem qualquer margem de erro no que respeita às contas do título nacional.

Se nessa recepção ao Lokomotiv se poderia perguntar o que estariam os jogadores verde-e-brancos a pensar enquanto rubricavam uma prestação tão desprovida de ideias, neste caso foi a todos os títulos evidente o que o Sporting estava disposto a fazer num derby para o qual é preciso ter mentalidade, sem receio do que possa vir a acontecer, agir em vez de reagir… e foi tudo isso que o leão fez perante o Benfica.

Foram estes os predicados das prestações de vários elementos verde-e-brancos com realce para o meio-campo, sector no qual figuram o capitão Adrien Silva, que ainda assistiu Téo Gutierrez para o primeiro golo e nesta altura parece estar ao seu melhor nível, e João Mário, que apresenta cada vez mais credenciais e é nesta altura o que se pode apelidar de um jogador de futebol sob todos os aspectos tácticos do jogo.

Até mesmo a boa entrada de Alberto Aquilani permitiu controlar a posse de bola no centro do terreno e até na meia-esquerda, conferindo experiência a uma equipa que conseguiu dominar o seu rival mesmo acima das próprias expectativas e se candidata, continuando a jogar a este nível, a vencer qualquer jogo em que entre nesta Liga NOS. Agora, segue-se para o leão o Estoril, equipa ‘atrevida’ que normalmente busca jogar em terrenos mais adiantados mesmo enquanto visitante, o que sucederá em Alvalade na próxima jornada e não tornará o encontro, ao contrário do que muitos possam apontar, uma tarefa fácil.

Sporting parece ter começado a embalar fazendo fé numa máxima de… Marco Silva

Será para o Sporting uma oportunidade para cimentar esta vantagem conseguida e que se coloca agora em três pontos sobre o FC Porto e cinco (oito, se contabilizado o encontro que o Benfica ainda não disputou no terreno da U.Madeira) sobre as águias.

Assim, pode e deve considerar-se este 3-0 em casa do arqui-rival o terceiro grande momento leonino depois do regresso aos títulos com a conquista da Taça de Portugal em Maio através de  um desempate frente ao Sporting de Braga à qual se juntou a Supertaça face a uma vitória precisamente sobre o Benfica, o que permitiu ganhar ‘embalagem’ juntamente com uma máxima que na época passada era defendida por… Marco Silva.

«Sentir apoio é importante para o plantel e a equipa técnica,» indicou ainda na sua passagem por Alvalade que terminou em litígio com Bruno de Carvalho, presidente cujas palavras não comentava e que acabou por demiti-lo do seu cargo, o agora técnico do Olympiakos, quase como que prevendo este momento sportinguista que muito se deve também ao forte apoio que tem encontrado na sua massa associativa, tanto em casa como fora.

Isso foi aliás foi visível em terreno ‘adverso’ como o Estádio da Luz. Acima das noites polémicas, algumas em seu prejuízo, outras nem tanto, com que se deparou em alguns outros relvados desta Liga, o Sporting pareceu jogar sem quaisquer preocupações com essas vertentes, parecendo mentalmente descansado e isso fez toda a diferença; Já o Benfica pareceu não ter recuperado da noite negativa que viveu a meio da semana frente ao Galatasaray.

Benfica obrigado a mudar em alguns sectores no qual se encontra claramente enfraquecido

Ante este oponente, faltou ter ou pelo menos apresentar mais jogadores do nível técnico e táctico de Jonas e especialmente Nico Gaitán, uma realidade que já tinha sido explícita na derrota tangencial no Dragão e agora numa expressão mais ruidosa na recepção ao rival lisboeta.

Para não perder em definitivo o ‘comboio’ do título, será obrigatório ao Benfica apresentar uma ‘proposta futebolística’ bem diferente em Tondela na qual poderá assentar, quem sabe, na continuidade de forte aposta que tem sido feita nos jovens que têm emergido da formação e que tão boa conta de si têm deixado na UEFA Youth League nas últimas três épocas.

Manter, claro, Gonçalo Guedes, novo ’menino bonito’ do clube encarnado, mas também passar a apostar em jogadores como Victor Lindelof, campeão europeu de sub-21 que poderia ter direito a uma oportunidade como lateral direito face às sofríveis exibições de Sílvio nesse lugar, ou até mesmo Renato Sanches, este numa perspectiva mais imediata, e João Carvalho, este mais a médio/longo prazo, três jogadores que ainda não tiveram direito a estreia na equipa A.

Isto, como é evidente, sempre mantendo a objectividade que fez com que a equipa tivesse melhorado a sua produção nas competições europeias das quais foi objectivamente ‘rechaçado’ na época passada. No entanto, embora se registe essa humildade e objectividade, ao Benfica exige-se mais, em especial quando por várias ocasiões sofre bastante para vencer os seus encontros, inclusivamente jogando em casa.

Iniciar encontros em desvantagem pode perante adversários como o Moreirense não ser verdadeiramente problemático, mas em Arouca já custou três pontos e perante os leões mais três pontos foram perdidos - já não bastam os afamados ’15 minutos à Benfica’ e para manter vivo o sonho do tricampeonato este Benfica está terminantemente proibido de voltar a falhar…