Depois de um início de temporada complicado, William Carvalho voltou aos bons velhos tempos, atravessando agora o seu auge exibicional neste Sporting de Jesus. A consistência defensiva, a rapidez de processos no momento de lançar jogo para Adrien ou João Mário, tudo isto tem vindo a permitir ao leão rugir mais alto e apresentar maior solidez na forma de derrubar os adversários. O Sporting está firme na luta pelo 1º lugar e o futebol verde e branco respira uma qualidade que em muito se deve ao regresso do William habitual (tardou mas não falhou).

William pronto para as batalhas finais do leão

Quando, em Agosto, o Sporting iniciou a temporada, Jorge Jesus referiu-se a William Carvalho com muita ambição: ''Comigo vai render ainda mais'', afirmou o técnico. Contudo, a lesão contraída na selecção das quinas de sub-21 retirou ao trinco a possibilidade de iniciar a época em Alvalade. Quando regressou ao mais alto nível a expectativa em torno da sua evolução com Jesus era quase tão grande como o cabelo do técnico sportinguista, mas rapidamente se percebeu que William não estava com o mesmo fulgor competitivo.

William Carvalho deu um pontapé na crise // Foto: Facebook do Sporting CP
William Carvalho deu um pontapé na crise // Foto: Facebook do Sporting CP

No 4-4-2 ofensivo de Jesus, o papel do médio defensivo é uma das principais particularidades para a eficácia do modelo, e nas partidas em que Adrien alinhou nesse posto os equilíbrios entre o sector defensivo e ofensivo eram feitos quase na perfeição (na super taça frente ao Benfica, por exemplo). Quando William ocupou a posição 6, e Adrien a de número 8, o futebol leonino sofreu alguns problemas na dinâmica que iniciou a temporada. O príncipe de Alvalade demorou até recupar os indíces físicos, e demorou principalmente a mudar o chip do sistema de Marco Silva para o de Jorge Jesus.

Na táctica do actual treinador verde e branco, o trinco tem um papel muito mais exigente, porque tem 3 tarefas fundamentais em campo: em primeiro lugar, tem de apoiar regularmente os centrais, para garantir consistência ao último reduto; em segundo lugar, é nos pés do trinco que se inicia o processo de transição para o ataque, sendo para este efeito fundamental ocupar bem o espaço no miolo para que o pivot e os extremos partam para lances perigosos; consequentemente, este modelo obriga também o trinco a ficar atento em fases de jogo em que o ataque perca a posse de bola; por fim, o 6 para Jesus participa também activamente nas bolas paradas, para impôr o físico na busca de chances de marcar.

O jogador já parece habituado ao sistema de Jorge Jesus // Foto: Facebook do Sporting CP
O jogador já parece habituado ao sistema de Jorge Jesus // Foto: Facebook do Sporting CP

Esta exigência extrema a William nem sempre correu bem, bastando recuar até ao empate diante o Tondela ou a derrota frente ao União da Madeira. Nas primeiras partes destes duelos o futebol sportinguista não fluiu com a intensidade esperada, levando Jesus a optar pela alteração ao intervalo, excluindo William e lançando Gelson. Com estas alterações, Adrien e João Mário compunham a dupla a meio campo, levando o jogo leonino a melhorar de forma significativa. Na vitória diante o Braga esta cartada de Jesus resultou na perfeição, e o Sporting deu a volta ao 0-2, beneficiando da saída do apagado William ao intervalo para virar para 3-2.

Em suma, William não deixou de ser opção para Jesus, mas faltava aquele toque mágico que o técnico quer de um trinco. A partir de Março o número 6 de Alvalade emergiu nas 4 linhas com rotinas muito mais dinâmicas com a equipa, e é desde o derby com o Benfica que William tem vindo a encantar novamente os adeptos verde e brancos. Nas goleadas diante o Belenenses ou Arouca, passando pelas vitórias frente ao Estoril e ao Marítimo, foi evidente que o jogo sportinguista melhorou a sua qualidade. Neste sentido, foi possível observar um Sporting que estabilizou defensivamente, mas que contou finalmente com o príncipe de Alvalade. O futebol leonino com William em alta rodagem passou a ter maior movimentação no miolo, com o número 6 a assumir a 1ª fase de construção com o esférico em posse. Este papel de William em jogo permite aos 4 da frente surgirem em espaços vazios, levando até Adrien a ter liberdade para se integrar em zonas subidas.

William Carvalho, o patrão do meio-campo // Foto: Facebook do Sporting CP
William Carvalho, o patrão do meio-campo // Foto: Facebook do Sporting CP

Os passes de ruptura de William voltaram, as compensações no último reduto têm sido uma constante, e a participação nas bolas paradas levaram William a marcar diante o Marítimo. A exigência de Jesus ao trinco é a chave dos equilíbrios da equipa, e desde que William voltou à sua forma ideal tem sido aposta firme do treinador e um trunfo essencial para a luta feroz entre leões e águias pelo título. Nas últimas partidas na Liga NOS, William deixou de ser substituído, e são finalmente notórias as evoluções técnico-táticas de William sob o comando de Jesus. Em vésperas do Euro 2016 aqui está uma boa notícia para Fernando Santos, por poder contar com o melhor jogador da Europa sub-21 em 2015.