Atual vice-campeã mundial e considerada por muitos, candidata à decepção do Mundial, a Holanda chega ao Brasil renovada. Mesmo chamando pouca atenção, a Oranje vem de uma excelente campanha nas eliminatórias europeias, terminando a preliminar invicta e com um dos melhores ataques da competição, 34 gols em dez jogos. Além disso, Robin van Persie foi o artilheiro das eliminatórias, com 11 gols, se consolidando como principal homem-gol da Laranja Mecânica.

Elenco recheado de estrelas decepciona na Alemanha

Após os fracassos nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002 e na Eurocopa de 2004, a seleção holandesa se viu carente de uma renovação, e buscou isso num velho conhceido seu: Marco van Basten foi contratado como novo comandante da selelção laranja e prometeu uma onda de renovações na seleção nacional. Logo nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006, van Basten sacou os veteranos Kluivert e Davids para entrada de promessas como Robben e van der Vaart, reservas na Euro 2004. A renovação deu resultado e o retorno à Copa do Mundo veio em grande estilo, com uma campanha invicta nas eliminatórias incluindo a melhor defesa, que sofreu apenas três gols em 12 jogos. 

Favorita, Holanda decepcionou em 2006

Na Copa do Mundo de 2006, o elenco holandês era considerado forte e mesclava ainda alguns jogadores já consagrados, como Ruud van Nistelrooy e Edwin van der Sar, com as promessas Arjen Robben e Rafael van der Vaart. Apesar da boa campanha na fase de grupos, a pressão sobre os holandeses foi grande e a Oranje acabou eliminada nas oitavas de final, num dos jogos mais violentos da história das Copas, contra Portugal. A partida teve nada mais, nada menos que 12 cartões amarelos e quatro expulsões, se tornando a partida com maior números de cartões mostrados na história das Copas. 

O jogo mostrou o defeito que era temido pelos holandeses: a inexperiência. A equipe ficou boa parte do tempo com um jogador a mais em campo, mas a falta de experiência e até mesmo de força de vontade acabou prejudicando a seleção, que agora sentia falta dos velhos ídolos que fracassaram nos anos anteriores.

Após fracasso na Euro, van Marwijk conduz seleção a excelente campanha na África do Sul

Depois da Copa do Mundo, veio a Eurocopa de 2008. O começo na competição europeia foi animador, vitórias contra Itália, França e Romênia na fase de grupos, que fizeram da campanha holandesa a melhor dentre todas as equipes participantes. Porém, novamente os holandeses decepcionaram no mata-mata, com derrota para a surpreendente Rússia nas quartas de final do torneio. E se já não bastasse a eliminação, os ídolos van Nistelrooy e van der Sar se despediram da seleção naquele mesmo ano.

Além do fracasso, Holanda viu dois ícones se aposentarem

A aposentadoria dos ícones nacionais deixou vagas em aberto no esquadrão nacional. Debaixo das traves, a seleção demorou a a buscar um substituto, que acabou sendo Stekelenburg. O goleiro demorou a se consolidar na equipe, mas aos poucos ganhou confiança do treinador e dos torcedores. No ataque, as grandes atuações pelo Arsenal fizeram de Robin van Persie um substituto perfeito para van Nistelrooy e o ainda jovem atacante teve de se acostumar com a pressão de ser a esperança de gols da equipe.

A derrota na competição europeia custou caro para van Basten, treinador que já vinha sendo criticado pelos torcedores e acabou por ser demitido ao final da Eurocopa. O indicado para substituir o então ídolo foi Bert van Marwijk, que comandava o Feyenoord. Nas eliminatórias, van Marwijk fez um excelente trabalho, vencendo todos os jogos. Desse modo, a Holanda tornou-se a primeira seleção europeia a garantir vaga na Copa do Mundo de 2010.

Após as decepções de 2006 e 2008, a Copa do Mundo de 2010 era mais uma oportunidade para a seleção holandesa se redimir e conquistar o tão cobiçado primeiro título mundial de sua história. Mais uma vez, a aposta era a mescla dos experientes com os novatos, e desta vez, os principais nomes da Oranje eram outros. Wesley Sneijder era o responsável pela criação das jogadas. Vindo de uma de suas melhores temporadas com a Inter de Milão, Sneijder foi apontado como o principal nome da seleção nacional, levando consigo o peso de ser um dos destaques do Mundial.  Robin van Persie vinha mantendo as excelentes apresentações no Arsenal e na seleção holandesa, consolidando-se como centroavante da equipe. Sua missão era balançar as redes adversárias aproveitando as boas jogadas criadas por Sneijder.

A campanha holandesa começou bem, foram três vitórias na fase de grupos e o avanço para a próxima fase foi conquistado com tranquilidade. Nas oitavas, veio a vitória contra a surpreendente Eslováquia e a classificação para o grande confronto contra o Brasil, pelas quartas de final. Na partida contra os brasileiros, Sneijder mostrou seu valor, anotou dois gols, virou a partida e garantiu a classificação. Na semifinal contra o Uruguai, Robben, Sneijder e van Bronckhorst marcaram para garantir a Laranja Mecânica em sua terceira final de Copa do Mundo. Na partida decisiva contra a Espanha, os holandeses protagonizaram um jogo tenso e equilibrado, sendo superados apenas nos minutos finais da prorrogação, com o gol de Iniesta.

A partida marcou o terceiro vice-campeonato holandês em Copas do Mundo. Além disso, a invencibilidade que vinha sido mantida desde as eliminatórias foi quebrada. Inicialmente, van Marwijk resistiu no cargo, mas o experiente treinador sucumbiu ao vexame da Eurocopa de 2012, quando não marcou nenhum ponto e foi eliminado ainda na primeira fase da competição. Desta vez, a solução encontrada pela KNVB foi o também experiente treinador holandês Louis van Gaal.

Van Gaal foi o eleito para comandar a renovação holandesa

Van Gaal conta com um currículo invejável, que contém títulos como a Uefa Champions League e o Torneio Intercontinental de 1995 e ainda o tricampeonato holandês (1993/94, 1994/95, 1995/96) todos com o Ajax. Van Gaal também acumula dois títulos de La Liga e um de Bundesliga, além de seis Supercopas (três Johan Cruijff Schaal, na Holanda, e três Supercopas da Espanha). Apesar do sucesso nos clubes, van Gaal não teve sucesso em sua única passagem pela seleção holandesa antes de 2012, participando da má campanha que não classificou os holandeses para a Copa de 2002.   

Para Copa de 2014, van Gaal busca renovação e aposta em jovens promessas

Para a Copa do Mundo de 2014, o foco principal foi a renovação. Dos 30 pré-convocados por Louis van Gaal, apenas oito participaram da última edição da Copa do Mundo, como é o caso de Robben, Huntelaar e van Persie. Dentre as principais renovações, estão o goleiro Jasper Cillessen, o lateral-esquerdo Daley Blind, e o atacante Memphis Depay

Dos remanescentes, Robben é o que vem de melhor fase. Em 2012/13, viveu a melhor temporada de sua carreira, vencendo a tríplice coroa com o Bayern de Munique. Nos bávaros, Robben sempre foi peça fundamental no esquema vitorioso de Jupp Heynckes, papel que pretende executar também nesta edição da Copa do Mundo. Principal esperança de gols dos holandeses desde 2010, Robin van Persie é candidato ao posto de artilheiro holandês na Copa de 2014. Seus melhores anos de Arsenal podem ter ficado para trás, porém o artilheiro já demonstrou, e muito, que sabe balançar as redes adversárias e pode ser um dos destaques holandeses na Copa. Além de van Persie, a Holanda conta com mais um homem-gol em seu esquadrão nacional: Klaas-Jan Huntelaar. Apesar de não ter sucesso nos clubes por onde passou, Huntelaar costuma ser decisivo quando veste a camisa laranja. Atualmente, Huntelaar possui 34 gols em 61 jogos pela seleção nacional, e quer manter o bom desempenho dos últimos anos, sendo peça fundamental na campanha holandesa rumo ao título.

Kongolo é o grande exemplo da ótima renovação laranja

Das novidades, o zagueiro Terence Kongolo é a que mais chama atenção. Nascido na Suíça, Kongolo conquistou sua posição no Feyenoord durante o decorrer do campeonato holandês deste ano. Nas estatísticas, é um dos líderes no número de passes completos, com 80% de eficácia no quesito. Revelado pelo próprio Feyenoord, Kongolo acumula passagens pelas seleções sub-17 e sub-19 da Holanda, disputando a Copa do Mundo sub-17 e a Eurocopa por ambas as categorias. Kongolo jogou nesta temporada mais do que o triplo de jogos disputados na última edição da Eredivisie, experiência que pode contribuir para que o jovem de 20 anos convença van Gaal de que pode ser um dos titulares da laranja durante a Copa.

Daley Blind é outra novidade trazida por van Gaal. O jovem defensor de 24 anos foi revelado pelo Ajax e emprestado ao Groningen em 2009. Blind aproveitou bem sua passagem pelo time verde-branco, ganhando a titularidade e a confiança da torcida. Na volta ao Ajax, Daley participou de sete jogos como titular e ajudou a equipe a garantir o título nacional contra o Twente, na última rodada. A temporada 2011/12 foi a consolidação da titularidade no time de Amsterdam, e também o ano da primeira convocação para a seleção, ainda pelo time sub-21. A próxima convocação apareceria apenas em 2013, quando Blind disputou o primeiro torneio oficial pelo esquadrão nacional, a Euro sub-21 em Israel. Blind e a Holanda pararam apenas na semifinal, em derrota por 1 a 0 diante da Itália. Desde então, Blind vem sendo convocado regularmente por van Gaal e parece ter se estabelecido como titular da lateral-esquerda.  

Diferente de 2006 e 2010, as atenções não estão voltadas para a Holanda, integrante de um dos grupos mais difíceis da Copa. As partidas contra Espanha e Chile podem definir o futuro holandês na Copa e, quem sabe, dar início a uma arrancada que, ajudada pela falta de atenção da mídia, criaria um grupo forte e unido, capaz de vencer a primeira Copa do Mundo da história de seu país. Van Gaal tem motivos e quer provar para o mundo que é capaz de liderar uma seleção ao título mundial e a mistura dos experientes com os veteranos tem tudo para dar certo. A raça que faltou em 2006 pode vir dos 15 jogadores que ainda não disputaram uma Copa do Mundo e a experiência dos sete jogadores que participaram da última final pela seleção nacional. A falta de expectativa e a necessidade de um título podem ajudar o grupo holandês a entrar focado e finalmente vencer sua primeira Copa do Mundo.