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Portugal nos playoffs: o nascer de uma tradição

Os dois encontros a disputar com a Suécia nos próximos dias 15 e 19 de Novembro marcam o terceiro playoff consecutivo que a Selecção das Quinas enfrenta para chegar à fase final de uma competição internacional.

Portugal nos playoffs: o nascer de uma tradição
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Por Hugo Picado de Almeida

O ano de 2013 assiste ao terceiro playoff – consecutivo e da sua história – que a Selecção das Quinas deverá ultrapassar para chegar a uma competição internacional. Depois da Bósnia-Herzegovina, que Portugal levou de vencida para garantir lugar no Mundial 2010 e no Euro 2012, os Navegadores discutirão a passagem ao Brasil 2014 frente à sempre perigosa Suécia, onde o poderoso Zlatan Ibrahimovic, avançado icónico do Paris Saint-Germain, é a principal – mas longe de ser a única – ameaça.

Complicar a melhor fase da sua história

Os anos 2000 são já a fase mais bem-sucedida da história da Selecção Portuguesa, com a presença na fase final de sete competições internacionais consecutivas (todos os Europeus e Mundiais de 2000 a 2012), feito só igualado por Espanha, França, Alemanha e Itália. Prova da qualidade que Portugal tem demonstrado neste início de século é que também neste espaço de tempo a equipa lusa obteve alguns dos seus melhores resultados, com o segundo lugar no Euro 2004 e o alcançar das meias-finais tanto no Mundial 2006 como no Euro 2012, além da sua melhor posição no ranking da FIFA – Portugal foi considerada a terceira melhor equipa do Mundo entre Maio e Junho de 2010 e, mais recentemente, em Outubro de 2012. Hoje, porém, apenas um ano volvido desde esse último 3º lugar no ranking, Portugal não vai além do 14º posto, fruto de uma série de exibições irregulares e pontos concedidos a equipas de qualidade reconhecidamente inferior, como Israel ou mesmo a Irlanda do Norte, que muito complicaram o apuramento dos Navegadores e agora concretizam a ameaça de poder confundir a geografia e pôr mais do que um oceano entre Portugal e o Brasil.

A Bósnia foi o adversário de Portugal nos dois playoffs que a Selecção das Quinas já disputou. (Foto: sapo.pt)

Este acaba por ser o espelho onde se reflecte uma selecção que consegue aliar à sua fase de maior sucesso a necessidade de enfrentar três playoffs consecutivos, e, mais a mais, os únicos três da sua história. Recordemos que Portugal se viu recentemente obrigado a enfrentar duas vezes a Bósnia-Herzegovina, para poder reservar bilhete para a África do Sul (Mundial 2010) e para a Polónia e Ucrânia (Euro 2012). Em 2010, Portugal ficara em segundo lugar do seu grupo de apuramento, três pontos atrás da Dinamarca (os primeiros dois jogos, um empate com o Chipre e uma derrota na Noruega, levariam ao afastamento de Carlos Queiroz), mas no playoff bateria os bósnios por uma bola sem resposta, tanto em Lisboa (golo de Bruno Alves) como no polémico estádio Bilino Polje, da cidade de Zenica, talismã para os homens da casa, com um certeiro remate solitário de Raul Meireles. Em 2012, a história repetiu-se, e depois de um segundo lugar num grupo vencido pela Dinamarca, Portugal viu novamente a Bósnia sair-lhe ao caminho. Se, então, Zenica segurou o empate a zeros, a segunda mão, no estádio da Luz, carimbou claramente a passagem da equipa portuguesa à fase final do Europeu, através de uns expressivos 6-2, onde Cristiano Ronaldo e Hélder Postiga se destacaram ao bisar na partida.

Tudo é relativo, porém, e não seria honesto assinalar a excepcional relevância dos embates com a selecção sueca como o terceiro playoff consecutivo da Selecção, assinalando uma tendência recente, sem proceder a uma análise da história dos Navegadores nas competições internacionais. De facto, à luz da última década, Portugal é hoje visto como uma selecção poderosa e de quem sempre muito se espera, pelo que o ingresso nos playoffs espanta sempre a imprensa, nacional e internacional, e é noticiado com surpresa. Olhando, porém, aos números da história, a realidade é outra, e os playoffs puxam até as estatísticas para o lado positivo. Isto porque, até hoje, Portugal esteve apenas presente em 11 fases finais, somando Europeus e Mundiais, e sete delas aconteceram já nos anos 2000, o que nos deixa com apenas quatro presenças nos restantes 86 anos, desde a fundação da Federação Portuguesa de Futebol em 1914. Ponto inescapável são os muito esparsos e parcos resultados assinaláveis, entre os quais apenas merece especial destaque a primeira presença num Mundial, o de 1966, onde Portugal alcançou um terceiro lugar e onde Eusébio foi o melhor marcador da prova. De resto, na esmagadora maioria dos anos, nos vários modelos e dimensões das provas internacionais, Portugal ficou sempre arredado das fases finais para as quais ano após ano disputava apuramentos, e mesmo nas competições para as quais se verificava já o recurso aos playoffs para apurar as restantes equipas do quadro, muitos foram os anos em que Portugal, terceiro ou mesmo quarto do seu grupo, não podia sequer sonhar com uma segunda oportunidade, como aquelas que desde 2010 tem conseguido segurar e aproveitar.

    

A Suécia é a segunda equipa que Portugal vai defrontar num playoff. (Foto: AFP)

Jogar história e estatuto

Apesar do habitual bom desempenho nas fases finais, olhando à história recente da equipa das Quinas, as provas de 2010 e 2012, e agora o apuramento para 2014, ficam marcados pela necessidade de Portugal ir a exame, disputando os playoffs, ao passo que as selecções com que deve ombrear o observam com sobranceria, já da plataforma de embarque onde na mala já levam o primeiro objectivo cumprido, e a certeza de que fizeram o que o estatuto lhes exigia. É esse rombo que a presença nos playoffs parece rasgar no casco da caravela lusitana: mais do que romper a série de presenças nas provas internacionais, que não se verificou nem em 2010 nem em 2012, o facto de ser segunda escolha insiste em fazer de Portugal uma selecção que, pese embora o seu potencial e aparente poderio, é mais tido como favorito pelo estatuto que nele se percepciona -- pela qualidade dos seus jogadores, pelos promissores desempenhos dos últimos anos -- do que aquele que efectivamente é o seu.

Será, talvez, este o fado de uma selecção que se habituou a sofrer, uma selecção irregular, frequentemente capaz do melhor e do pior, que, assim, contribui para a dúvida que a assombra e que não pode escapar a uma análise à sua história, sobretudo quando olhada a sua trajectória de sucessos recente, culminando em 2004 e 2006: terá Portugal, num futuro próximo, condições para alcançar o título internacional que desde sempre lhe escapa? A pergunta ficará, por enquanto, suspensa, pois que no futebol nada é líquido e muito pode acontecer, como isto de, para redescobrir o Brasil, Portugal não ter agora apenas de atravessar o oceano, mas de fazer os seus Navegadores enfrentarem a fria Suécia na rota não planeada dos playoffs. Diz o famoso provérbio português que não há duas sem três, mas não podemos esquecer aquele outro ditado que diz que à terceira é de vez. Restará agora aos comandados de Paulo Bento escolher dentro de campo qual dos enunciados fará o título deste capítulo da história do futebol nacional.