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Sevilha FC: o potencial nervionense

Na próxima Quarta-feira o Benfica terá pela frente os espanhóis do Sevilha FC, contra os quais irá disputar o troféu da Liga Europa. Depois de derrotar a favorita Juventus, os encarnados terão que se debater com o potencial sevilhano de uma equipa esguia e difícil de parar.

Sevilha FC: o potencial nervionense
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Por VAVEL

Ainda que seja um equipa longe da assertividade dominadora do Chelsea, este Sevilha FC mostra claro potencial europeu, não surpreendendo portanto o trajecto feito até à final de Turim, onde irá defrontar o Benfica no tira-teimas derradeiro. Se no ano passado a formação encarnada enfrentou um milionário Chelsea do experiente Ancelotti, este ano terá de se haver com o onze sevilhano de Unai Emery, que explana a sua equipa num 4-2-3-1 declarado onde tudo passa pelo pendor criativo do croata Ivan Rakitic. Vários furos abaixo dos colossos europeus, este Sevilha é, ainda assim, uma formação imprevisível, dinâmica na forma como desenrola o seu ataque e repleta de tecnicistas do meio-campo para à frente.

Com 40 golos marcados em 18 partidas nesta edição da Liga Europa, os nervionenses começaram por ganhar o passaporte para a competição ao baterem o Mladost Podgorica, de Montenegro, e depois os polacos do Slask Wroclaw. Na fase de grupos, os sevilhanos garantiram a passagem à fase seguinte, mostrando supremacia em relação ao Estoril, Friburgo e Slovan Liberec, do Grupo H. O percurso seguinte do clube rojiblanco não foi contundente: eliminatória árdua frente ao modesto esloveno Maribor (2-2 fora e 2-1 no Rámon Sanchéz Pizjuán), ronda de nervos frente ao rival Bétis (3-4 nas grandes penalidades), seguida de um afirmativo duelo diante do Porto (4-2 no final da eliminatória).

Golo «in extremis» de Mbia mostrou o nervo nervionense

A eliminatória frente ao Valência trouxe de novo à tona o nervo da formação espanhola. Depois de uma categórica vitória por 2-0 no seu reduto, o Sevilha esteve a segundos de ser eliminado da Liga Europa, já que o Valência liderava a ronda com três golos de resposta na segunda mão da contenda. O golo do trinco Mbia, em cima do minuto 90, salvou os palangas e permitiu a passagem à final. Habituada aos embates divididos, às decisões difíceis e a lidar com desvantagens, esta equipa do Sevilha demonstrou, à falta de uma contundente superioridade táctica e técnica, um estofo de vencedor precário - sem ter defrontado nenhum «tubarão» à excepção de um Porto debilitado, o Sevilha sofreu para se manter na competição mas sempre ultrapassou os obstáculos do caminho europeu

Depois de ter perdido em casa 0-2 contra o Bétis e de voltar à vida com um 0-2 que igualou a eliminatória, o Sevilha sobreviveu à decisão das grandes penalidades, encontrando depois o FC Porto, adversário que deixou a formação espanhola em desvantagem (1-0 no Dragão) na primeira mão: a resposta dada no Pizjuán, por brilhantes 4-1, foi o ponto alto da carreira da equipa de Emery nesta Liga Europa. No duelo das meias-finais, o Sevilha voltou a sofrer: venceu por 2-0 para depois estar à beira da eliminação, devido ao 3-0 imposto pelo Valência. Mbia mostrou nervos de aço aquando da cabeçada vencedora, reflectindo a garra sevilhana que tem acompanhado a formação espanhola. A história deste Sevilha europeu baseia-se no seu espírito lutador, bem mais aguçado que o seu equilíbrio global enquanto colectivo.

O modo táctico do Sevilha FC

Emery dispõe as suas peças num claro 4-2-3-1 que se apoia no uso do duplo pivot a meio-campo, tampão central que vigia a área do miolo e se junta à linha da defesa para tapar os caminhos até à área defendida por Beto, guardião português. Daniel Carriço, ex-Sporting, tem sido o escolhido para formar tal dupla, jogando ao lado do possante camaronês Stéphane Mbia. Se optar por escalar Vicente Iborra, médio defensivo espanhol, Emery mostrará que pretende um meio-campo mais musculado (Iborra mede 1,95 metros e pesa 88 quilos) e com maior poderio na disputa aérea. Juntamente com Mbia, Iborra pode dar corpo a uma linha média-baixa tremendamente poderosa em termos físicos (Mbia tem 1,90 metros e pesa 84 quilos).

Na linha mais recuada, o Sevilha apresenta um quarteto que, apesar dos bons valores que o constituem, não consegue apresentar uma estabilidade defensiva acima da média. O gigante argentino Federico Fazio (mede 1,95 metros) faz dupla com outro argentino, Nico Pareja, de 30 anos, enquanto nas laterais Alberto Moreno (28 jogos esta temporada) é dono inquestionável da faixa esquerda, sendo o lado direito dividido entre o português Diogo Figueiras e o espanhol Coke. Com 51 golos concedidos na Liga BBVA, esta formação do Sevilha não se mostra propriamente fiável em termos de manobra defensiva, apresentando, também na Liga Europa, um registo defensivo não mais que medíocre: nas últimas quatro eliminatórias sofreu 10 golos. Em oposição, o Benfica apenas sofreu 4 golos, tendo ainda para mais digladiado-se com equipas como Tottenham e Juventus.

Nais tais alas defensivas, o jovem Alberto Moreno, de 21 anos, é a mais recente coqueluche do clube: o canhoto do Sevilha, habituado ao panorama internacional sub-21, tem mostrado um desenvolvimento assinalável, dotando-se de bons movimentos ofensivos, capacidade de gerar perigo perto da linha de fundo e uma velocidade a ter em conta pela organização defensiva do Benfica. O lateral esquerdo gosta de subir pelo flanco, tanto com a bola controlada como através de movimentos de projecção atacante e desmarcações que dão uma óptima profundidade ao flanco sevilhano.

É no último terço do terreno que o clube espanhol concentra maior talento. O seu 4-2-3-1 consolida um conjunto de seis jogadores com apetências defensivas, libertando os restantes quatro elementos para a elaboração do jogo ofensivo da equipa, da construção até ao remate final. O esquema táctico do Sevilha reparte assim a estrutura num 4-6-0 em muitas ocasiões de jogo, povoando o meio-campo de modo a pressionar e a concentrar esforços na recuperação da bola e na delimitação de espaços. O avançado desce recorrentemente até ao miolo do terreno, ficando Rakitic mais liberto, de modo a ser um alvo dos passes dos colegas, para iniciar o contragolpe.

Nas extremidades do ataque nervionense, a rotatividade não é factor estranho: Vitolo tem sido um titular extremamente regular na formação espanhola, com 44 aparências durante a temporada, surgindo depois José Antonio Reyes, Marko Marin, e, a espaços, Piotr Trochowski. Reyes, versátil a jogar nas linhas, dá a possibilidade de aumentar o jogo interior da formação, jogando colado à faixa direita e procurando a quina da área em busca do remate de pé esquerdo. Marko Marin, alemão de 25 anos, oferece rapidez e furtividade ao ataque, combinando essas características com competentes acções de organização de jogo, que tem vindo a apurar. Pode jogar na esquerda como no centro, pegando na bola e conduzindo a manobra da equipa.

Rakitic: talento que coloca o Sevilha a dançar futebol

Pouca coisa não saberá este talento croata fazer: genial com a bola colada ao pé, uma visão de jogo exímia e passe certeiro, velocidade na progressão no terreno e finalização apurada. Ivan Rakitic actua como médio ofensivo condutor de jogo da equipa sevilhana, juntando a isso a tarefa de desenhar as jogadas de ataque assim como o último passe. Médio sempre em movimento, Rakitic é o cérebro da formação, jogador que facilmente pode desempenhar funções de falso avançado, o que acontece quando a equipa se retrai em termos tácticos, contra adversários muito mais fortes. Rakitic tem poder de explosão, podendo ser solicitado através de passes longos ou directos, não sendo raras as vezes em que o croata se liberta das marcações através de desmarcações rapidíssimas, ganhando espaço para finalizar.

Em Rakitic reside o grande perigo desta formação sevilhana: o armador de jogo croata possui um raio de acção muito alargado, sendo jogador efectivo em várias zonas do campo, nunca se cingindo à sua posição teórica no xadrez de Unai Emery. Sabe explorar as alas, penetrar pela área com extrema facilidade, quer para servir os colegas com passes para o coração da área, quer para rematar à baliza. Rakitic não joga apenas para «fazer jogar»: o médio de 26 anos tem golos nos pés (15 golos na temporada). O Benfica que se cuide.

Bacca e Gameiros são os matadores de Sevilha

Carlos Bacca tem 21 golos na temporada e será a seta mais afiada do Sevilha, seta pronta a trespassar a carne da equipa encarnada. Rápido, irrequieto, com faro para o golo, o colombiano já leva 51 jogos efectuados pelo clube nervionense, justificando a aposta que a direcção do Sevilha fez em si no início da temporada. O outro goleador, Kevin Gameiro, está ainda em dúvida para a final de Quarta-feira, mas, em caso de recuperação, será outra dor de cabeça para Jorge Jesus: o avançado luso-francês conta com 16 golos nesta presente época, tendo aparecido em 48 partidas (é o jogador mais eficaz do plantel em termos de veia goleadora).