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Portugal 1985: A serenata à chuva de Ayrton Senna

Há precisamente 30 anos, debaixo de chuva no Estoril, Ayrton Senna dominava a concorrência e conseguia a sua primeira vitória na Fórmula 1.

Portugal 1985: A serenata à chuva de Ayrton Senna
A equipa da Lotus não continha a felicidade no final da corrida (foto: LAT)
speeder76
Por Paulo Alexandre Teixeira

Quinze dias depois do começo do campeonato, no Rio de Janeiro, máquinas e pilotos rumavam para os arredores de Lisboa, mais concretamente para o Autódromo do Estoril, para o Grande Prémio de Portugal, a segunda prova do mundial de F1 de 1985 e a primeira em solo europeu. As expectativas estavam em ver se Alain Prost iria alargar a vantagem que tinha conseguido depois de ter ganho no Brasil, ou se Michele Alboreto iria aproveitar algum deslize do piloto francês para ficar com o comando do campeonato.

Entretanto, dias antes da prova, a Ferrari tomou uma decisão surpreendente, ao despedir o francês René Arnoux, sem dar uma justificação plausível para essa decisão. Para o seu lugar veio o sueco Stefan Johansson, que na corrida anterior tinha estado na Tyrrell. Para o lugar do sueco veio o alemão Stefan Bellof, que decidira não correr no Rio de Janeiro devido a divergências contratuais. Ao mesmo tempo, a Toleman voltava a decidir-se pela ausência, pois ainda não tinha encontrado um fornecedor de pneus que pudesse "calçar" os seus carros.

Qualificação: Senna estreia-se na pole  

O fim de semana português apresentava-se de céu nublado, mas sem grandes possibilidades de chuva, e as sessões de treinos de sexta-feira e de sábado acontecerem com piso seco. Alheio a tudo isso, na sexta-feira, Ayrton Senna demonstrou estar bem veloz, graças também aos compósitos de qualificação dos pneus Goodyear. No sábado, a concorrência foi mais forte, mas o brasileiro conseguiu superar Alain Prost por 413 centésimos de segundo, conseguindo assim a sua primeira pole-position da carreira.

Keke Rosberg (pai do actual piloto da Mercedes, Nico Rosberg) foi o terceiro, no seu Williams-Honda, tendo a seu lado o segundo Lotus-Renault de Elio de Angelis, enquanto que na terceira fila estavam o Ferrari de Michele Alboreto e o Renault de Derek Warwick. Niki Lauda era o sétimo, seguido pelo Ligier-Renault de Andrea de Cesaris, enquanto que a fechar o "top ten" estavam o segundo Williams-Honda de Nigel Mansell e o Brabham-BMW de Nelson Piquet.

O filme da corrida

No domingo, os céus por fim desabaram sobre Lisboa, e chovia copiosamente desde uma hora antes da partida. Apesar de algumas ameaças de adiamento por parte dos pilotos, a chuva tinha abrandado o suficiente para que pudesse ser dada a partida e, quando o foi, Senna lançou-se para a frente, seguido por De Angelis, Prost e Alboreto. Atrás, Rosberg teve uma má largada e era engolido pelo pelotão.

Com o passar das voltas, Senna começava a distanciar-se do seu companheiro de equipa, enquanto que a concorrência tinha problemas em manter-se na pista. O Alfa Romeo de Patrese abandona na volta 4, depois de bater em Johansson, que tem de ir às boxes para trocar a sua asa dianteira, quebrada pelo impacto. Ao mesmo tempo, Piquet arrastava-se para o fundo da tabela, devido aos maus pneus Pirelli.

Na frente, De Angelis começa a segurar os ataques de Prost, com Alboreto atrás a observar. A luta a três mantém-se até à volta 30, quando Prost perde o controlo do seu McLaren na reta interior e bate com o carro nos guard-rails, abandonando de imediato. Com isso, Alboreto fica sozinho no ataque a De Angelis, e consegue passá-lo na volta 42. O piloto da Lotus tenta reagir, mas perde o controlo do carro e vai à gravilha, perdendo até o terceiro lugar para Tambay.

Nessa altura, a chuva tinha aumentado de intensidade e Senna já pedia aos comissários para que interrompessem a corrida, pois as condições estavam a degradar-se. Os carros despistavam-se com maior facilidade, mas havia também quem desistisse por problemas de motor, como foi o caso de Niki Lauda, que era quinto quando desistiu, na volta 47. Quem beneficiou disso foi Nigel Mansell, que estava em recuperação, depois de uma má partida.

Apesar dos avisos e dos pedidos para parar, a corrida iria ser completada nas duas horas de limite de tempo. Na volta 67, a três das 70 previstas, é dada a bandeira de xadrez para um Senna que a essa hora, e mesmo debaixo de chuva intensa -- aliás, o elemento preferido do brasileiro -- tinha já dado uma volta de avanço a toda a gente... menos ao Ferrari de Alboreto.

No final, era um Ayrton Senna jubilante que dava à Lotus a sua primeira vitória em quase três anos, e a primeira desde a morte de Colin Chapman. Alboreto era o segundo, enquanto que Tambay subia ao lugar mais baixo do pódio. Nos restantes lugares pontuáveis ficavam sobreviventes desse diluvio como o segundo Lotus de De Angelis, o Williams-Honda de Nigel Mansell e o Tyrrell-Ford de Stefan Bellof. Entre todos, porém, quem a história guarda daquela chuvosa tarde no Estoril é mesmo o lendário piloto brasileiro, Ayrton Senna, que assim, em solo português, arrancava a sua magnífica narrativa como piloto de Fórmula 1, que de forma indelével marcaria o desporto.