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Futebol português em fogo: onde se cruza a selecção com a liga nacional?

A selecção nacional caminha para uma fase de apuramento historicamente descomplicada  e, ao mesmo tempo, o defeso em Portugal ameaça ter contornos, passo o exagero, de guerra. Esta guerra despoletada com um acontecimento que, se para alguns é uma deserção, para outros pode ter sido uma busca por um sonho de família... Para mim foi só o curso normal da vida de qualquer profissional que procura reconhecimento e conforto, sejam eles técnicos ou financeiros. Falo, claro, da mudança de Jorge Jesus para o lado verde da segunda circular. Qual será o impacto que o cruzamento destas duas realidades, aparentemente desligadas uma da outra, terá no futebol português? Será esse cruzamento uma realidade assim tão desconexa?

Futebol português em fogo: onde se cruza a selecção com a liga nacional?
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Por José Machado

A época desportiva 2015/2016 inicia-se a 9 de Agosto, a meio de um Verão que se adivinha muito agitado no que ao futebol português diz respeito, no Algarve num momento em que se viverá aquele que será muito provavelmente o mais quente dos derbies lisboetas dos últimos anos e acaba, se tudo seguir o seu curso normal, com um Europeu em que Portugal se assume como candidato à vitória a disputar-se num país com uma das mais fortes comunidades emigrantes lusas do mundo. A expectativa é grande para um ano que pode catapultar o futebol português para níveis de competitividade ao nível de alguns dos melhores campeonatos do mundo.

Onde é que se cruza a realidade da selecção com a realidade do campeonato nacional?

É inegável que um defeso que se esperava tranquilo fique completamente marcado pelo golpe dado por Bruno de Carvalho a Luís Filipe Vieira com a contratação de Jorge Jesus e não é menos inegável que um acontecimento desta dimensão terá consequências. O contexto pacífico que se adivinhava para este Verão será substituído por um turbilhão de movimentações. Com as especulações que se têm espalhado nos últimos dias não é até difícil de imaginar uma final da Supertaça com Jorge Jesus, William Carvalho, Adrien, Danilo Pereira e Bruno Alves de um lado e Rui Vitória, Fábio Coentrão, Nani e Pizzi do outro.

Os jogadores, possíveis figuras de Portugal no Euro 2016 em França, teriam, neste contexto uma época que certamente não esqueceriam e chegariam ao europeu, uns vitoriosos, outros não, com as baterias competitivas no máximo no fim de uma época em que o seu país e, nalguns casos, os seus adeptos tinham parado e até ao fim do campeonato não tinham perdido a esperança. Sim, porque começamos no Sporting - Benfica da Supertaça mas rapidamente podemos acrescentar o FC Porto que, diz-se também, está a tentar o regresso de João Moutinho e que, à semelhança de Sporting e Benfica, não pode falhar este campeonato sob pena de ver definitivamente perdida a hegemonia e o protagonismo do futebol português.

A confirmar-se, este regresso de jogadores portugueses de qualidade acima do nosso campeonato às nossas equipas e aos nossos palcos,só pode contribuir para um campeonato com mais qualidade, identidade, emoção que, inevitavelmente, refletir-se-iam na seleção no final da época. Conseguem imaginar uma ala esquerda feita por Nani e Fábio Coentrão no fim de ano inteiro a jogar juntos? Ou uma dupla de meio-campo Danilo Pereira e William Carvalho depois de um ano com Jorge Jesus? E se juntarmos a estes jogadores João Moutinho e Ricardo Quaresma? E agora imaginar toda essa compatibilidade de um ano a jogar, a competir aliada a uma mensagem de vitória da parte de um treinador que desde a primeira hora disse: «O objectivo para o europeu é ir à final e ganhá-la!»...

Não me parece que o cenário venha a ser assim tão dourado mas parece-me que alguns passos certos estão a ser dados nesse sentido e peguemos no exemplo de Nani. É certo que alguns jogadores são simplesmente bons demais para os salários do futebol português mas também não deixa de ser verdade que nem todos podem ser Figos, Ronaldos ou Rui Costas e triunfar a 100% numa grande equipa de um grande campeonato lá fora. Nani fez o dinheiro que tinha de fazer mas, entre ser suplente de uma excelente equipa da menos fulgorante Premier League ou acabar uma época em lágrimas por ter sido acarinhado e ter devolvido a alegria dos títulos a adeptos do seu país a escolha tornou-se óbvia.

Não me parece que Nani esteja minimamente arrependido por este ano de empréstimo ao Sporting como também não me parece que Fábio Coentrão se arrependesse de trocar o banco do Real Madrid pelo seu lugar na Catedral ou que João Moutinho se arrependesse de trocar o seu Stade Louis II às moscas no principado pela fortaleza de um Dragão que já não ganha há dois anos e, mais que nunca, está ávido de vitórias. 

Acredito que o melhor que podia acontecer ao futebol português, garantido que está que, para o ano,o Sporting é realmente candidato ao título, seria a materialização destes empréstimos que se falam na imprensa e que, apesar de não serem impossíveis, à partida são improváveis mas depois de Jorge Jesus no Sporting, já tudo é possível.