Notícias VAVEL

Benfica: Uma Supertaça que prometia estar perdida desde o arranque da pré-temporada

Um artigo de opinião que aborda a desorganizada pré-temporada do Benfica e o peso dessa falta de planeamento na derrota da noite de ontem, frente ao Sporting.

Benfica: Uma Supertaça que prometia estar perdida desde o arranque da pré-temporada
Foto: SCP Facebook/César Santos
vavel
Por VAVEL

Neste artigo de opinião e análise vamos enumerar todos os erros elaborados pela administração (directiva e técnica) encarnada que concorreram fortemente para relegar o Benfica para uma posição de inferioridade nesta Supertaça 2015 que ontem fechou com a justa e meritória vitória do Sporting. Era o Sporting um teórico favorito para o duelo de rivais? À partida não: o bicampeão nacional, dominador da cena interna durante dois anos, defrontava o rival menos habituado a ganhar. Mas, no plano prático, era o Benfica um claro favorito? Também não.

Porquê? Porque, de facto, toda a pré-temporada encarnada fora um simples rol de erros acumulados que foram contribuindo para que, na antecâmara do duelo, o Sporting renovado de Jorge Jesus se apresentasse mais convicto, mais preparado, mais rotinado e mais organizado, não só a nível técnico como a nível global. Com um onze pensado e repensado, trabalhado ao longo de 5 semanas, o Sporting previa o jogo com base nos mecanismos que jogos contra a AS Roma deixavam antever serem colocados em prática na Supertaça. O Benfica, titubeante na pré-época, apenas reflectia dúvidas e ponderações.

A desgarrada pré-temporada do Benfica foi uma clara tradução do mau planeamento executado pela direcção; não propriamente pelos resultados (nenhuma vitória em tempo regulamentar) mas precisamente pela falta de organização, desleixada antevisão de problemáticas em torno do plantel (vendas, contratações e definição atempada no núcleo duro do plantel) e descuidada preparação técnica da equipa em relação ao primeiro (e crucial) embate diante do rival Sporting. Tudo começa, longe, com as contratações avulsas e inócuas de Marçal, Ederson e Diego Lopes - com que intento foram recrutados? 

O Verão chegou e, pouco depois, o Benfica, que via no horizonte a saída de Nico Gaitán, apresentou duas contratações: Adel Taraabt e Mehdi Carcela. Já sem Maxi Pereira, as águias viajaram para uma longa e cansativa digressão que passou por três países e durou 20 dias; com um plantel alargado de cerca de 30 jogadores (muitos deles dispensáveis), os encarnados alhearam-se do exercício de planeamento de contratações, esperando pelo retorno da entourage para redefinir finalmente os moldes finais do plantel às ordens de Rui Vitória - titulares incluídos. Lima, vendido num negócio de ocasião, destruiu o 4-4-2 treinado por Vitória e obrigou à forçada experimentação de Jonathan Rodríguez.

Os resultados dessa experimentação não foram os melhores e, aliadas a isso, más foram também as indicações de reforços como Marçal, Taarabt (totalmente fora de forma), Carcela e difíceis foram as adaptações de jogadores mais jovens como Gonçalo Guedes, Lindelof, João Teixeira ou Nuno Santos. Os dias passavam e, enquanto o Leão assegurava contratações cirúrgicas atempadas como a de Ruiz, João Pereira, Naldo ou Gutiérrez (esta ainda assim algo atrasada), as Águias deixavam Vitória à míngua, crentes na aparente profundidade de um plantel minado de dúvidas. Nem os maus resultados da pré-época apressaram a estruturação de uma célere política de contratações essenciais.

Sem Lima, quem iria, no 4-4-2 treinado, desdobrar-se em esforços para dar largura ao ataque, profundidade e índice de trabalho (muitas vezes defensivos) de alta qualidade, ao lado de Jonas?Jonathan? O presente diz-nos que não: Rui Vitória preferiu testar um 4-2-3-1 a frio, deixando o uruguaio no banco e até o preterindo nas alterações pelo recém-chegado  (também a frio) Mitroglou. Quem será o defesa esquerdo eleito para 2015/2016? Eliseu não será, pois ficou no banco na Supertaça e até Sílvio (que joga preferencialmente na direita) o ultrapassou, com Nélson Semedo a pontificar na direita -  e será o jovem a aposta definitiva, ou a preferência recairá sobre o adaptado André Almeida?

Nas faixas do ataque, pouco virtuosismo e vertigem, elementos que se exigem a uma equipa que faz das derivações e rupturas interiores a sua fatalidade técnico-táctica. Sem Salvio (lesionado) e com um mole e inanimado Ola John, o Benfica deixou-se andar na pré-temporada com parcas opções, como um Gaitán desfasado dos objectivos (e a cabeça noutro lugar) e Carcela em período de adaptação. No miolo, outro dos pecados do planeamento incompleto do Benfica - quem irá construir, pensar e dinamizar as jogadas de ataque? Samaris? Pizzi? Talisca? Os 6 meses deste ano deram a ilusão aos responsáveis encarnados que tinham no plantel organizadores de jogo, para além do ido Enzo e do prestes a ir Gaitán. Não têm.

Os dois argentinos eram os últimos bastiões criativos da era de Jorge Jesus; o centrocampista ingressou no Valência em Janeiro e o Benfica fiou-se na capacidade criativa do extremo/maestro Gaitán, que agora está à beira de partir, deixando o meio-campo da Luz sem luz para alumiar o caminho das balizas oponentes. Pizzi, catalogado de médio capaz de dinamizar o meio-campo e desempenhar essa função, ficou no banco ontem, e, isso reflecte a falta de crença de Vitória na sua capacidade de pautar e dar magia à construção de jogo dos encarnados - não deveria o Benfica ter abordado o mercado antes, buscando um médio capaz de dar propulsão ao miolo de Vitória?

As dúvidas não estão apenas na cabeça de quem redige este artigo; elas foram transparentemente apresentadas no onze do Benfica que ontem defrontou o Sporting. Desde o figurino inicial à forma como a equipa se exibiu em campo, o Benfica fez-se e desfez-se em dúvidas, incertezas, hesitações. Tal ficou desde logo patente no 4-2-3-1 desgarrado e pouco treinado (em jogos) estruturado pelo técnico das Águias; jogadores rotinados nos jogos anteriores ficaram de fora (Jonathan, Eliseu, Pizzi) e o simples facto de Konstantinos Mitroglou ter entrado na partida (contratado a meio da semana) transparece o plano desorganizado traçado pelo Benfica para esta pré-temporada.

Isto não é a condenação de uma época, porque o mundo gira e dá voltas e tudo se pode alterar em semanas, meses. Mas é, sim, somente, a constatação evidente de que a pré-época deste Benfica teve todos os ingredientes necessários para enfraquecer a equipa que iria apresentar-se a jogo na final do dia 9 de Agosto. Desde que a pré-temporada começou, este Benfica desorganizado estava condenado, assim, a titubear contra o rival, habilitando-se, seriamente, a perder o primeiro troféu de 2015/2016 e a entrar nas competições oficiais da pior maneira. Não pelo resultado (0-1) mas pelo facto de, pela falta de trabalho, ter antecipado essa mesma derrota.