O Arsenal de Arsène Wenger nos últimos anos ficou conhecido de uma forma: o time ilusório. Isso acontece porque a equipe começa a temporada de maneira fulminante, vencendo e bem os seus adversários, até alcançar a liderança em novembro/dezembro. Depois disso, oscila um pouco no mês de janeiro/fevereiro até que, em março principalmente, perde o controle e uma série de maus resultados interferem nessa campanha para deixar o time em terceiro lugar ou quarto no campeonato, fora da disputa do título rodadas antes do término da disputa. Frustrante aos torcedores, diria.

Pois bem, a temporada 2015/16, porém, não foi diferente. Foi exatamente da forma descrita neste texto e isso é algo que já virou cotidiano do time e dos torcedores. Contudo, reais protestos foram feitos ao fim da temporada, como anda acontecendo nos últimos, porém desta foi vez de maneira mais contundente.

No início da temporada, como já era de costume das anteriores, o Arsenal contratou um nome de peso em uma posição carente: Petr Cech chega por £10.50 milhões junto ao Chelsea para uma posição que foi bastante comprometedora nos últimos anos, sem responsável por perdas diretas de pontos. Além disso, o tcheco chegou para ser um líder e vinha com uma bagagem de experiência em títulos enorme pelos Blues. Por fim, foi animador para os torcedores ver que Wenger estava disposto a comprar bons jogadores que pudessem agregar à equipe e consequentemente dar consistência em uma temporada.

Ledo engano. Julho terminou, Agosto também e mais ninguém chegou para a equipe principal. Ou seja, a única contratação para a temporada foi um goleiro, sem nenhum jogador de linha para agregar. Teoricamente o time continuava o mesmo da temporada anterior com a bola nos pés.

Já no quesito saídas, as únicas mais significantes foram as de Lukas Podolski, que assinou com o Galatasaray por £1.88 milhões e Wojciech Szczesny que foi emprestado até o fim da temporada para a Roma, da Itália. Além dessas, alguns jogadores saíram de graça para tentarem as suas carreiras em outro lugar, como Abou Diaby, conhecido por muitas e longas lesões e Ryo Miyaichi que há algumas temporadas era visto como um potencial enorme para a equipe principal, porém não rendeu o que se esperava.

O destaque da temporada, pelos números e por toda a participação ativa no ataque dos Gunners, foi Mesut Özil. O alemão, somando todas as competições, terminou o ano com seis gols marcados e 19 assistências, todas na Premier League e ficando por um para empatar com Henry no recorde de mais assistências dadas em uma temporada. O nome no setor defensivo, desta vez, fica com Héctor Bellerín que mostrou grande evolução nos seus atributos defensivos, além de melhorar os ofensivos que já eram de bom uso.

O artilheiro da época fica por conta de Olivier Giroud, por mais um ano. Foram, ao todo, 21 gols (16 na Premier League) e se mostrou muito útil sempre que exigido e continuou dividindo opiniões da torcida do Arsenal: uns querem outro atacante e outros não acham necessário. A verdade é que o francês tem o dom de empurrar a bola pro fundo das redes e isso ninguém pode negar.

A revelação certamente tem nome, sobrenome e vem de família famosa: o sobrinho de Jay-Jay Okocha, Alex Iwobi. O nigeriano ganhou mais chances já na segunda metade da temporada, na FA Cup, mas logo encantou a torcida e o treinador se rendeu. Com atuações profissionais, com bastante movimentação, criação de jogadas e certas vezes com boas oportunidades individuais, o jovem atleta criou uma expectativa de um futuro próspero.

Derrotas surpreendentes no início e liderança da Premier League resumem a primeira metade

No primeiro jogo oficial da temporada, a equipe conquistou um título: vitória por 1 a 0 contra o Chelsea, na Community Shield. Na semana seguinte, veio a estreia na Premier League, em casa contra o West Ham: derrota surpreendente para os vizinhos por 2 a 0 com ótima atuação de Payet. Depois disso, as vitórias contra os adversários teoricamente mais fracos apareceram e a equipe começava a se ajeitar aos poucos para o restante do ano.

Um problema para o Arsenal são os clássicos. Muitos dizem que as derrotas ou empates neles é o principal fator para a não-conquista do título no fim da temporada. 0 a 0 com Liverpool em casa; 1 a 1 com Tottenham também em seus domínios e derrota para o Chelsea por 2 a 0 no Stamford Bridge foram três dos quatro primeiros que o clube teve na PL. Na Capital One Cup, no entanto, vitória sobre o THFC na terceira rodada por 2 a 1.

A vitória em um clássico aconteceu em outubro, contra o Manchester United, por 3 a 0. Esse triunfo aconteceu no mês que pode ser considerado o melhor da equipe na temporada: cinco vitórias convincentes em seis jogos. A maior delas certamente foi um 2 a 0 contra o Bayern de Munique na terceira rodada da fase de grupos da Uefa Champions League, onde o clube precisava vencer para se manter vivo na competição. Depois, na quarta ronda, uma derrota numerosa por 5 a 1 na Allianz Arena. A única derrota do mês foi para o Sheffield Wednesday na Capital One Cup.

Sánchez marcando um de seus dois gols na vitória por 3 a 0 sobre o United (Foto: Catherine Ivill/Getty Images)
Sánchez marcando um de seus dois gols na vitória por 3 a 0 sobre o United (Foto: Catherine Ivill/Getty Images)

Chegada de Elneny em janeiro não impediu do time ser eliminado de duas frentes; o Déjà Vu começava

Uma das posições que o Arsenal mais precisava de novos reforços era a de volante. Com apenas Coquelin no time, o francês estava refém de lesões, o que prejudicaria bastante a equipe já que Arteta, Rosicky e Wilshere passaram maior parte da temporada no departamento médico e Ramsey não era mais tão usado na posição. Wenger precisava contratar.

E contratou. Mohamed Elneny chegou por £9.38 milhões junto ao Basel, da Suíça. O egípcio, no entanto, demorou pouco mais que o esperado para ter seus trabalhos efetivados no time titular, tendo algumas oportunidades inicialmente na FA Cup, mostrando bom serviço no que se esperava dele, além de parecer bom com a bola nos pés. Mas a verdade é que ele veio apenas para compor elenco, o que não mudou muita coisa no fim das contas.

Mesmo com a vitória de virada no fim do jogo com gol de Welbeck sobre o Leicester em fevereiro, o Arsenal em março, por outro lado, já havia perdido contato com a liderança que outrora teve na Premier League e via os Foxes e o rival Tottenham dispararem cada vez mais na frente enquanto tropeços atrapalhavam o caminho da equipe. Neste mesmo mês, o time foi eliminado da UCL depois de perder por 3 a 1 para o Barcelona no Camp Nou (havia perdido em casa por 2 a 0), já não tendo perspectiva de título há três meses do fim da temporada.

Pelo sexto ano seguido, o Arsenal é eliminado nas oitavas da UCL, dessa vez para o Barcelona (Foto: Manuel Blondeau/Getty Images)
Pelo sexto ano seguido, o Arsenal é eliminado nas oitavas da UCL, dessa vez para o Barcelona (Foto: Manuel Blondeau/Getty Images)

Sem brigar por mais nada e com vaga na UCL praticamente assegurada, equipe apenas foi levado o carro para a linha de chegada; protestos marcaram o fim da época

Apesar de sofrer ameaças de Manchester United, West Ham e Manchester City que brigavam, junto ao Arsenal, por duas vagas na UCL, os Gunners se mostraram muito profissional e deixaram claro que a vaga na próxima Liga dos Campeões estava assegurada apesar de tudo. Nas últimas oito rodadas, foram quatro vitórias e quatro empates, sendo o maior deles contra o Manchester City, na penúltima rodada da Premier League fora de casa por 2 a 2.

Quando tudo acabou, o time manteve um tabu: há 21 temporadas que não termina atrás do Tottenham. Mesmo quando tudo se encaminhava para isso acabar, os Spurs perderam chance de título faltando duas rodadas para o fim, o que aparentemente desanimou o time de Pochettino. Somando apenas um ponto nas últimas três rodadas, o Arsenal tirou a diferença que tinha pro adversário e terminou o ano em segundo com 71 pontos, um a mais que time de Kane e cia.

O melancólico final de temporada, no entanto, terminou marcado pelos protestos feitos pelos torcedores em alguns jogos erguendo cartazes e uma faixa carregada em jogos fora e dentro de casa por toda a Inglaterra pedindo a saída do treinador da equipe. As manifestações mais contundentes aconteceram na vitória pelo placar mínimo contra o Norwich, no Emirates Stadium, quando os dizeres "Time for Change" (Hora de Mudar) foram erguidos em cartazes nos minutos 12 e 78, simbolizando os 12 anos sem disputa efetiva de título. 

Torcedores pedem saídas de Wenger no jogo contra o Norwich, em abril (Foto: Paul Gilham/Getty Images)
Torcedores pedem saídas de Wenger no jogo contra o Norwich, em abril (Foto: Paul Gilham/Getty Images)