Nesse momento a alegria do torcedor alvirrubro é tão grande quanto o gigantismo desta instituição chamada Clube Náutico Capibaribe. As ruas do Recife estão tomadas pelo vermelho e branco em um sentimento que mistura o alívio com a euforia, as lágrimas com a felicidade e o amor com o Náutico. Acabou. O jejum foi superado. O Timbu é Campeão! Mas antes da alegria se concretizar, havia o drama.

Oito de abril de 2018. Recife, Pernambuco. A chuva que antecedeu o dia do confronto parecia anunciar o que viria pela frente. O clima se alinhava com o sentimento do torcedor do Timbu. Os relâmpagos e trovões externavam à cidade a tensão que pairava sobre os corações alvirrubros.

Após 13 anos de decepções, a incerteza, apesar de negada por muitos, estava aparente nos olhares dos que acompanharam o duelo na Arena de Pernambuco. 42.352 para ser exato. 42 mil olhares ansiosos. 42 mil vozes trêmulas. Mas o importante foi que no findar dos 90 minutos os mais de 42 mil gritos apaixonados se transformaram em milhares de lágrimas de recomeço.

A torcida

Torcida alvirrubra faz a festa na Arena de Pernambuco (Foto: Léo Lemos/Náutico)

 

Há 13 anos o torcedor alvirrubro guardava o grito de campeão no peito. Os anos sem título do escrete da Rosa e Silva foram muito prejudiciais ao clube e isso é inegável, mas o jejum trouxe consigo uma comprovação: O Náutico é gigante.

Um clube é formado por sua torcida e em momentos de crise é normal que alguns se afastem e outros desistam, mas os que ficam são especiais. A seletividade da paixão pelo Timbu fez sua torcida ser ainda mais forte, e o Náutico ainda maior. Enquanto outros clubes sucumbiriam na mesma situação, o Alvirrubro se reergueu e deu a volta por cima.

"Desde que eu me entendo por gente nunca fiquei um dia sem pensar no Náutico"

(Foto: Thiago Paraíso)

Um dos torcedores que soltou o grito de campeão foi o corretor de imóveis Thiago Paraíso, 33, natural de Olinda.

"A minha relação com o Náutico vem de família, onde o meu avô, meu pai, meus tios e meus primos são todos alvirrubros", disse.

Muitos torcedores herdam a paixão pelo clube da família. Até o domingo (8) havia uma quantidade considerável de alvirrubros mirins que ainda não tinha visto o Náutico ser campeão. Agora eles viram. 

"O meu primeiro jogo foi quando eu tinha 8 anos de idade. De lá pra cá eu me apaixonei por esse clube que é muito importante pra mim e desde que eu me entendo por gente nunca fiquei um dia sem pensar no Náutico", completou.

(Foto: Thiago Paraíso)

"Eu não digo que sou doente pelo Náutico, doente é quem não torce pelo Náutico"

Thiago, que coleciona 40 camisas do time do coração, falou sobre a importância do título e contou o que o Timbu representa em sua vida.

"Essa conquista do Náutico foi muito importante pra mim, porque resgatou um sentimento que estava adormecido e fez com que eu visse que o meu amor pelo clube é muito maior do que eu imaginava", disse.

"O Náutico representa muito pra mim. Representa um amor, uma paixão, um fanatismo, uma ideologia. Representa defender a história do meu clube e levar as suas cores para aonde quer que eu vá. Quando vou aos jogos do Náutico eu me emociono quando vejo o time entrando em campo e a torcida cantando e gritando. Eu não digo que sou doente pelo Náutico, doente é quem não torce pelo Náutico", concluiu.

O grupo

Jogadores do Náutico comemoram gol de Ortigoza (Foto: Léo Lemos/Náutico)

O hino do Timba tem já no seu primeiro verso duas palavras que definem bem o que foi esse grupo de 2018. Força e raça. Os jogadores comandados por Roberto Fernandes podiam não ser os mais técnicos que já passaram pelo Timbu, mas com toda certeza foram uns dos que mais demonstraram respeito, comprometimento e paixão pela camisa vermelha e branca que vestiam. Eles entenderam o que é o Náutico.

Empurrados pelas mais de 42 mil pessoas na Arena de Pernambuco somadas aos milhares de alvirrubros que estavam enviando boas vibrações para o palco do duelo, os atletas corresponderam ao apoio e sagraram-se campeões.

Dentre esses personagens há diversos protagonistas improváveis. O que falar de Camutanga, por exemplo? O zagueiro que carrega no apelido o nome da cidade natal, com menos de nove mil habitantes, integrou o elenco após uma peneira no início do ano e realizou o maior triunfo da carreira diante de quase cinco cidades nas arquibancadas.

E o goleiro Bruno? Jogador da base que se profissionalizou a pouco tempo. Começou na reserva e só assumiu a titularidade depois do então titular Jefferson se contundir. Depois que Bruno assumiu o posto de camisa 1 do Timbu, agarrou (literalmente) a oportunidade com todas as forças e se tonou um dos pilares na conquista do título alvirrubro.

Outra história curiosa é a de Junior Timbó. O meia havia sido contratado no fim do ano passado para integrar o grupo que iniciaria a pré temporada, no entanto, recebeu uma proposta do futebol da Indonésia e deixou o clube. A negociação deu errada e Timbó retornou ao Náutico, sendo um dos jogadores mais importantes na fase de mata-mata do Pernambucano.

Jobson faz golaço que dá título ao Timbu dos Aflitos (Foto: Léo Lemos/Náutico)

Jobson não começou bem. A torcida pegou muito no pé do volante no início da temporada, e com razão. Sempre que tinha chances de mostrar seu futebol se mostrava apático dentro de campo, o que resultou na perda do seu espaço dentro do time. Porém, após um puxão de orelha do técnico Roberto Fernandes, o jogador mudou da água pro vinho. Voltou a ser relacionado para os jogos, mostrou um melhor futebol e foi premiado com o gol do título. Um golaço.

O treinador/torcedor

(Foto: Léo Lemos/Náutico)

Conquistar um objetivo no âmbito profissional é algo que todos almejam e quando isso acontece a sensação de dever cumprido vem acompanhado de uma alegria enorme. Quando um torcedor vê seu time sendo campeão, uma explosão de sentimentos aflora dentro do peito e o momento se torna único e inesquecível para aquela geração. Roberto Fernandes conseguiu a façanha de obter os dois sentimentos no mesmo dia. O de treinador e torcedor campeão.

O treinador de 46 anos é recifense e, antes de ser chamado de técnico, Roberto era conhecido como alvirrubro. Torcedor do Náutico desde sempre, o comandante do Timbu assumiu o clube pela primeira vez em 2007. De lá para cá tiveram outras passagens e o que sempre ficou marcado na carreira do treinador foi a sua identificação com o clube da Conselheiro Rosa e Silva. No último domingo (8) Roberto Fernandes entrou para a história do Náutico, mas o Náutico já estava na história de Roberto faz muito tempo.

Na direção certa

Torcida do Timbu lotou Arena e pôs o maior público, de jogos entre clubes, da história do estádio (Foto:Lucas Macieira/VAVEL Brasil)

O título coroa não só o apoio determinante da torcida, o empenho do elenco e comissão técnica, mas também o trabalho feito fora das quatro linhas. O projeto de resgate da instituição Náutico não podia começar melhor. O torcedor comprou a ideia do presidente Edno Melo e do seu vice Diógenes Braga, que deram uma nova cara ao alvirrubro dos Aflitos, com uma política que prioriza o clube acima de tudo, diferente do que vinha acontecendo nos últimos anos. A gestão atual conseguiu trazer de volta o orgulho alvirrubro, a identidade do Náutico, a casa do Timbu e a taça para a sala de troféus.