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Basquete brasileiro em 2016: Polêmicas e incertezas cercam esporte em ano Olímpico

Suspensão da CBB, desastre nos Jogos Olímpicos e um ano de incertezas; esporte no Brasil sofreu com retrocesso enquanto os clubes tentaram resistir

Basquete brasileiro em 2016: Polêmicas e incertezas cercam esporte em ano Olímpico
(Foto: Divulgação/Londres 2012)
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Por Mariana Sá

Não foi um ano fácil para o basquetebol no Brasil. Após quase ficar fora dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o esporte apanhou bastante em 2016 e acabou sofrendo as consequências de uma gestão irresponsável. Mesmo com um campeonato nacional forte e se consolidando ano após ano, clubes e a Liga Nacional de Basquete (LNB) enfrentam dificuldades para colocar o basquete no lugar em que ele merece.

Os fãs conseguiram sorrir com poucas coisas em 2016. O oitavo ano de sucesso do Novo Basquete Brasil (NBB) e o início da nona temporada, que promete ainda mais, são razões para muita comemoração. Além disso, mais exemplos da boa gestão da LNB também deixam qualquer torcedor mais otimista. Porém, a modalidade profissional sofreu baques fortes e que mudaram totalmente o planejamento para 2017.

A ausência da Seleção nos campeonatos de base durante o ano também chamou atenção. Sem participar dos torneios internacionais e deixando milhares de jovens jogadores na mão, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) mais uma vez foi principal pauta do mundo da bola laranja, novamente por motivos ruins.

De uma eliminação precoce e surpreendente nos Jogos Olímpicos à suspensão da CBB pela FIBA. De grandiosos projetos para o esporte em 2016 ao descaso no Campeonato Carioca. Após promessas de um futuro próspero, o ano termina preocupante. No país olímpico, escândalos e incertezas cercam um dos principais esportes brasileiros e deixam a dúvida: o que será do basquete nacional?

Desastre nos Jogos Olímpicos

(Foto: Mark Ralston/AFP)
(Foto: Mark Ralston/AFP)

O vexame do Brasil começou antes mesmo do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Sem conseguir a classificação nas quadras, a CBB precisou de acordos com a Federação Internacional de Basquete (FIBA) para classificar suas seleções - feminina e masculina - ao torneio. O combinado, entretanto, viria a ser desonrado pela Confederação, que não fez cumpriu o prometido meses depois e acabou suspensa.

Quem criava mais expectativa no torcedor brasileiro era a seleção masculina. Com nomes vindos da NBA, grandes atletas do cenário nacional e um grupo difícil, o Brasil chegou a mostrar diversas vezes que poderia ter feito mais. Porém, a ausência de um trabalho mais profissional fez a diferença e, com dura derrota contra a Argentina, Croácia e Lituânia, a equipe caiu ainda na primeira fase. Foi, sem dúvidas, uma das maiores decepções dos Jogos Olímpicos e mostrou uma realidade que lutamos muito para não enxergar: precisamos levar o basquete a sério.

As mulheres tiveram um desempenho ainda pior. Sem nenhuma vitória na competição e sofrendo jogo após jogo, as brasileiras não conseguiram o destaque e a visibilidade que esperavam, sendo eliminadas também na primeira etapa. O Brasil terminou os Jogos na décima primeira colocação entre doze equipes, bem distante da projeção inicial.

(Foto: Divulgação/FIBA)
(Foto: Divulgação/FIBA)

Basquete na cidade olímpica: indefinição pós-Jogos

Vergonha define o que acontece no Rio de Janeiro. A expectativa depois da volta do Vasco da Gama ao basquete foi substituída pela decepção quando a Federação de Basquete do Rio (FBERJ) cometeu diversos deslizes na organização do Campeonato Carioca. Revoltados, os clubes reclamaram durante todo torneio, incluindo na final, que acabou com mais confusão e ausência vascaína no Jogo 3.

Como se não bastassem os problemas no Carioca, o NBB também sofreu pela ausência do prometido legado olímpico no Rio. Sem locais disponíveis para a realização do clássico entre Flamengo e Vasco, visto que a escolha do ginásio gerou polêmicas durante o fim de ano, a LNB precisou adiar o confronto.

O Rio de Janeiro dispõe de muitas possibilidades grandes, como Arena da Barra e Arenas Olímpicas. Porém, a confusão política no estado e com a organização do Maracanã - e, consequentemente, do Maracanãzinho - causa problemas e dificuldades inimagináveis ao basquete. Como em ano olímpico e na cidade olímpica não há local apropriado para a prática da modalidade?

(Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)
Vasco não apareceu no terceiro jogo da série final, o único com torcida (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Suspensão na CBB e ausência na Liga das Américas

A falta de profissionalismo da Confederação Brasileira ultrapassou todos os limites até para a paciente Federação Internacional. Após muito trabalho tentando recuperar o principal orgão do esporte no país, a FIBA anunciou em novembro o basta. A suspensão da CBB por, como a própria entidade máxima explicou em nota, "ainda precisar de reestruturação e não cumprir suas obrigações como Membro Nacional da Federação" foi um soco no estômago de quem fez tanto pela modalidade nos últimos anos.

A CBB, como esperado, agiu como se as alegações da FIBA fossem um absurdo, mesmo quando todos já sabiam que isso aconteceria uma hora ou outra. Entretanto, a irresponsabilidade da Confederação não bloqueou apenas ela dos torneios internacionais. Mesmo com o incansável e árduo trabalho da LNB, Flamengo (campeão do NBB 2016-17), Bauru (vice-campeão do NBB 2016-17) e Mogi das Cruzes (campeão da Liga Sul-Americana 2016) conquistaram suas vagas na Liga das Américas de 2017 na quadra, mas perderam no papel.

Flamengo e Bauru disputaram final do NBB8 (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)
Flamengo e Bauru disputaram final do NBB8 (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Por conta da punição, os três times brasileiros não podem atuar em competições internacionais, acabando com o planejamento das equipes que tanto batalharam por essa vaga. A Liga Nacional ainda tentou argumentar à favor da suspensão, mas contra a forma como ela afeta os clubes. Porém, a própria CBB nada fez para tentar auxiliar os prejudicados a voltarem ao torneio.

Mulheres seguem lutando contra o preconceito

Eu mesma, após a eliminação na Olimpíada, havia falado sobre isso aqui na VAVEL. O basquete feminino no Brasil não tem espaço, mesmo que haja algum interesse. No campeonato nacional, existe inclusive um grande clube por trás do atual vice-campeão, o Corinthians. Porém, ainda assim a visibilidade ainda é muito baixa.

Enquanto o NBB ganha seu lugar com transmissões, ações e patrocinadores, a Liga Feminina de Basquete corre bem atrás. No último ano, apenas as finais foram transmitidas, enquanto nesta temporada não há previsão para que isso ocorra ainda. Pouco se fala sobre os resultados e campeões. Informações sobre as jogadoras menos ainda.

(Foto: João Pires/LBF)
LFB começou mais uma vez com poucas equipes e pouca divulgação (Foto: João Pires/LBF)

Existe, como em diversas modalidades femininas, um preconceito sobre a mulher no esporte que não se estende apenas ao Brasil. Nos Estados Unidos, que abrigam a maior liga de basquete do mundo, a NBA, a Women's National Basketball Association (WNBA) lida com menos atenção internacional e um campeonato mais recente, iniciado em 1996. Ou seja, ainda há pouco espaço para o desenvolvimento do basquete e as brasileiras acabam sofrendo com o reflexo disso.

E agora?

Essa será a principal pergunta para 2017. E agora, o que o Brasil pode esperar do basquete para o próximo ano? Em termos de Seleção Brasileira, tanto masculina quanto feminina, quase nada. Com a suspensão da CBB e a demissão dos treinadores de ambas as equipes, a eleição na entidade no ano que vem não deverá trazer respostas. Infelizmente, a tal reestruturação só deverá aparecer no início da preparação para buscar vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Enquanto isso, Carlos Nunes, presidente da Confederação, seguirá fingindo que a situação não é culpa dele.

Para a base, outro desafio começa a ser imposto. Com polêmicas durante o ano inteiro e a ausência em vários campeonatos internacionais, além de falta de investimento, a CBB coloca em xeque a credibilidade da promessa de melhorias no próximo ano.

No Novo Basquete Brasil, a expectativa é de crescimento. Com mais clubes de futebol investindo no basquete masculino, começamos a encontrar mais espaço para o esporte e desenvolvimento da principal liga. Apesar da saída de grandes investidores, a modalidade tem grande apoio da Liga Nacional, que se destaca na organização do torneio.

Já na Liga Feminina de Basquete, será, sem dúvidas, mais um ano complicado. Pelo péssimo desempenho na Olimpíada, a divulgação esperada não aconteceu e, enquanto a LNB luta para dar visibilidade à modalidade, o esporte tenta acompanhar. Em 2017, a expectativa é que, caso haja mais atenção ao torneio masculino, isso se reflita no feminino.