Hoje esse texto falará de algo completamente opinativo e subjetivo, mas que muitas pessoas podem se identificar ou discordar, afinal o mundo é assim. Hoje falo como eu mesmo, Victor Cunha, jornalista, que escreve aqui para a VAVEL desde 2017.

Gostos pessoais dentro do futebol são a coisa mais normal que existe. 4-3-3, 3-5-2, 4-2-3-1, formações táticas e como elas são colocadas em campo variam pelo gosto de quem treina e apreciar ou demonizar o que acontece em campo vai pelo gosto de quem vê – e aqui não digo pela efetividade ou capacidade de competir e sim pelo gosto de assistir um jogo.

Falando de algo simples e individual, um dos estilos que este que vos fala prefere é o lendário tiki-taka do Guardiola. O “Guardiolismo” foi algo que me fez amar futebol, nunca neguei e nunca vou negar. Prefiro times com mais posse de bola, toques curtos e jogadas trabalhadas dentro disso e até de um jogo de posição. Dito isto, o que vimos nas últimas duas terças-feiras, dias 28 e 21, foi algo completamente diferente, mas que tem sua beleza estratégica em um jogo de xadrez humano que vai além de disposições táticas.

Como vencer seu adversário e o jogo mental das duas equipes para ir para a final

Antes de entrar na subjetividade, vamos à uma passada pelo que aconteceu, mas em partes. No Allianz Parque, na ida da semifinal da Libertadores, a partida acabou em 0x0 em um jogo onde algumas surpresas se deram já nas escalações. Felipe Melo titular no Palmeiras? Isso não era esperado. Diego Costa até era esperado, mas para uma possível segunda etapa e não já de saída no time do Atlético-MG.

Isso de alguma forma já mostrava as estratégias dos times. Cuca apostava no que tinha de melhor e em um ataque técnico, mas além disso físico, para poder superar uma defesa quase intransponível. Enquanto Abel colocava Felipe Melo principalmente, para travar de vez o meio de campo do Atlético, que com Nacho e Zaracho, era um dos mais perigosos da América.

O futebol é feito de acasos e naquela noite Hulk perdeu o pênalti que poderia ser o da vitória e da classificação, em um jogo onde o Galo finalizou 11 vezes, sem conseguir acertar o gol, contra quatro chutes do alviverde, que pouco fez na partida.

“E se aquele pênalti do Hulk entra?”. As estratégias deveriam ser outras na segunda partida, mas não entrou e estava ali a chance para Abel selar a classificação.

Na volta, em Minas, o jogo se manteve igual, mas com ainda mais defesa por parte do Palmeiras: Renan jogava na zaga e Dudu ia para o ataque. Isso para pegar um Atlético nas costas dos laterais, que subiriam muito como de costume, enquanto Hulk se movimentava mais ainda, tentando gerar espaços para Vargas, que jogou, pois Diego Costa estava lesionado.

Diferente da primeira partida, o Palmeiras criava chances, poucas, mas criava. E precisava de um gol apenas para se classificar.

Então aos sete minutos da segunda etapa, em uma jogada onde Mariano apareceu pela direita – se lembram dos laterais que descem a todo instante? – e achou Jair, que cruzou para Vargas abrir o placar de cabeça.

Vargas comemorando o gol (Foto: Pedro Souza/Divulgação/Atlético-MG)
Vargas comemorando o gol (Foto: Pedro Souza/Divulgação/Atlético-MG)

Aqui antes de chegar no empate, destaco a imagem de Abel após o gol e um outro assunto que falo agora: força psicológica. Abel, logo após o gol fez sinal de calma e apontou para a cabeça, pedia que os jogadores se tranquilizassem, o Palmeiras ainda precisava de um gol.

Apesar disso o Palmeiras sentiu o gol e os 18 mil torcedores gritando nas suas costas a classificação do Galo. Isso se refletiu na pressão que sofreu logo após o gol, onde o Galo perdeu o seu gol da classificação mesmo: Nacho colocou Vargas na cara de Weverton, mas o atacante chutou para fora. Não posso vir aqui e cravar que esse gol foi o que derrubou o Atlético, mas na minha opinião os donos da casa e sua torcida sentiram.

E mesmo perdendo Abel manteve sua estratégia e aqui está a beleza disso: funcionou. As convicções do técnico funcionaram, pois, apenas 14 minutos depois Veron, que havia acabado de entrar, achou Dudu no meio da área para o empate. Após isso pouco se criou em um jogo de poucas chances, algumas faltas e uma estratégia baseada no gol fora que deu certo.

Dudu comemorando seu gol (Foto: Cesar Greco/Divulgação/Palmeiras)
Dudu comemorando seu gol (Foto: Cesar Greco/Divulgação/Palmeiras)

O Palmeiras manteve a mentalidade e confiança de que o que era planejado para a partida iria funcionar e já se mostrava funcionar em chances criadas – e perdidas – por Rony. O alviverde precisava de uma bola e a conseguiu, na força mental de não se deixar baquear por um longo tempo até não ter mais chances de voltar ao jogo.

O gol de Dudu derreteu o Atlético, que passou a jogar a bola na área no desespero e não chegou ao segundo gol. Quem estava lá disse que era possível ouvir o silêncio dos 18 mil torcedores em alguns momentos. E aqui a força mental se fez presente mais uma vez: como não sentir um gol de empate em casa onde se olha para a arquibancada e se escuta o som do silêncio?

Então Wilmar Roldán apita. Fim de jogo, Palmeiras classificado. Atlético eliminado.

E onde entra a beleza das estratégias? Bom, apreciar futebol é algo subjetivo, vou bater mais uma vez nesse ponto. Mas aqui destaco que o futebol é um conjunto de acasos. Não é algo controlável, é algo que se lida e reage a ele. E algo que o Palmeiras fez bem foi reagir, assim como o Atlético.

Abel deu um “all in” no jogo de ida sem gols, para precisar de um na volta e armou seu time baseado nisso para vencer. Cuca armou seu time para tentar gols na ida, sem sucesso, para poder ter vantagens na volta.

Na ida Cuca anulou o ataque do Palmeiras, travando o meio de campo com a pressão alta com Diego e Hulk, enquanto na volta o Palmeiras chegava pelos lados com velocidade, sem medo de ser chamado de ser retranqueiro.

Existiu beleza no jogo de xadrez mental e tático de Abel e Cuca. Algo subjetivo com pessoas concordando ou não, mas existiu. Onde os dois técnicos observaram as fraquezas do adversário e se aproveitaram disso e mais, agora para o lado do português: ele jogou com o regulamento embaixo do braço, apostando no gol fora, que o classificou para mais uma final, a segunda em menos de um ano.

O que fará Abel Ferreira contra o provável Flamengo na final, ou contra o Barcelona de Guayaquil, eu não sei. O que fará Renato Gaúcho ou Fabián Bustos para vencer o Palmeiras eu não sei também. Mas espero que exista beleza nisso tudo. Seja nas estratégias para um vencer o outro, em alguns momentos até mesmo sem futebol jogado, seja nas jogadas em campo da qualidade dos jogadores.