Copa América 2004: gol nos acréscimos, pênaltis e a ascensão de Adriano Imperador

Com uma equipe B, sem as principais estrelas, a Seleção mostrou o porque era a mais temida e venceu uma das melhores gerações argentinas de todas

Copa América 2004: gol nos acréscimos, pênaltis e a ascensão de Adriano Imperador
(Foto: Arquivo)
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Por Diego Luz

Mais uma Copa América chegava e o Peru foi a sede da 41ª edição do torneio, trazendo sete sedes espalhadas pelo país e contendo as doze seleções representantes do continente, prometendo uma disputa intensa entre as equipes.

Divididos em três grupos com quatro equipes cada, assim como hoje, os melhores de cada chave avançavam, mais os dois melhores terceiros. Assim, no Grupo C, Brasil, Paraguai, Costa Rica e Chile se enfrentaram por duas vagas, podendo ser três e o equilibrio entre brasileiros e paraguaios prevaleceu até a última rodada.

Naquele ano, o time recém penta campeão, não foi com as forças principais. Carlos Alberto Parreira decidiu levar para a competição, uma equipe alternativa, sem as principais estrelas, como Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo e Roberto Carlos. Nomes como Luis Fabiano, Adriano, Diego, Edu e Robinho, tiveram suas chances e o Brasil não decepcionou.

Abrindo a competição contra a sempre perigosa equipe chilena, Luis Fabiano apareceu nos minutos finais para abrir o placar e dar a primeira vitória na Copa, de forma sofrida e suada. Pelo placar mínimo, o Brasil venceu, em Arequipa.

Novamente em Arequipa, a Seleção recebeu a Costa Rica, uma das adversárias da Copa do Mundo de 2002, e a partir dali, Adriano começou a mostrar suas credenciais. Com três gols do centroavante e um do zagueiro Juan, o time de Parreira atropelou os caribenhos por 4 a 1 e selou sua classificação. Só precisava saber em qual posição o Brasil avançaria.

E no jogo final, contra a também classificada seleção paraguaia, Luis Fabiano bem que tentou, mas o time rival bateu por 2 a 1 e empurrou a equipe penta campeã para a segunda posição do grupo.

A camisa pesa, México

Nas quartas de final, o adversário era o perigoso México, de Blanco. Sempre uma pedra no sapata, ficava a imagem da Copa América passada, quando o Brasil perdeu a final para eles. A revanche poderia acontecer na cidade de Piura.

E ela não só veio, como foi paga com juros e correção. Adriano guardou dois, Alex, o capitão do time, marcou de pênalti e Ricardo Oliveira fechou a conta. O Brasil mostrou ali, que não dependia apenas dos Ronaldos. O belo futebol ofensivo e com muita posse, encantava.

Uma amostra do que viria

Se o rival passado não tinha tanta tradição, o adversário da final era enorme. Nada menos que o Uruguai. Um clássico do futebol mundial e que decidiria uma vaga na final.

Como todo jogo desse tamanho, a catimba, o jogo pegado, forte e truncado prevaleceu. Mas não se poderia esperar menos. Eram sete mundiais em campo e a igualdade ficou posta no tempo normal.

O Estádio Nacional de Lima foi o palco para Adriano e Sosa dar o gosto do grito de gol ao torcedor durante os 90 minutos, mas a decisão ficaria para os pênaltis, numa noite em que Julio Cesar falhou feio no tempo normal, Dario Silva, atacante uruguaio, perdeu um dos gols mais feitos da história do futebol e que Sanchez perdeu o único pênalti da série, deixando a vaga no colo do Brasil.

Realmente, o jogo só acaba quando termina

Se a semifinal foi um dos maiores clássicos mundiais, a mãe de todas as rivalidades estava guardada para a decisão. Um simples Brasil x Argentina decidiria o campeão da Copa América 2004.

Os hermanos estavam completos. Abondanzzieri, Sorín, Verón, Crespo, Saviola, D'alessandro...Uma das melhores gerações argentinas estavam em campo, contra um Brasil jovem, com pouca bagagem nas costas mas que carregava uma camisa amarela pesada demais.

Estava desenhado a alta rivalidade e expectativa. O mundo parou para ver esse jogo, no Estádio Nacional de Lima e ninguém deve ter se arrependido. Um dos melhores clássicos que já aconteceram. Tudo o que um Brasil x Argentina pode proporcionar. Gols, briga, provocação, dirbles, lindos lances, pressão e emoção até o último lance. Literalmente.

O jogo começou como todos esperavam. Favorita, a Argentina começou encima e apertou a saída de bola brasileira, que cometia muitos erros e entregava a bola fácil. Num desses erros, Lucho Gonzáles tabelou com um jovem Carlitos Tevez e o meia foi derrubado por Luisão na área. Pênalti que Kily Gonzalez bateu e converteu.

O gol não abalou o time brasileiro, por incível que pareça. A Seleção travava o meio campo, impedia os avanços rivais e pouco tomava susto, apesar de ter menor posse de bola e quase não ter chutado a gol. Mas uma prévia do que viria aconteceu no lance final do primeiro tempo. Gustavo Nery sofreu falta, Alex mandou na área e Luisão se redimiu, empatando o jogo de cabeça.

O segundo tempo teve uma Argentina mais nervosa. Parecia que eles não admitiam perder para a equipe B do Brasil. A bola queimava no pé e pareciam querer decidir à qualquer custo. Com isso, sobrava vontade mas faltava qualidade ao time de Marcelo Bielsa. Já Parreira manteve o time tranquilo e bem postado em campo, apostando no erro rival para sair no contra ataque.

Só que ele não contava com um erro brasileiro. Aos 42 da etapa decisiva, Renato furou na grande área e Delgado chutou cruzado, sem chances de defesa. Praticamente matando a decisão e tirando a Argetina da fila sem conquistas.

Desde então, o papel se inverteu. Agora era o Brasil que teria de procurar o gol e encontrava um rival que preferiu menosprezar. Preferiu passar o pé na bola, firulas e gracinhas, desrespeitando o time penta campeão. Símbolo disso foram D'alessandro e Tevez, brincando com a bola nos minutos finais, até que Edu chegou firme, roubou e ligou o ataque brasileiro. Já estavam nos segundos finais dos 47 minutos, sendo que o jogo iria até aos 48 minutos. Diego, então, desesperado mandou de qualquer maneira no tumulto da área. Luis Fabiano brigou com Heinze no alto, a bola esbarrou em Adriano, que deu uma leve puxada com a direita pra trazer ao pé esquerdo, seu forte, e emendar um tiro rasante, no canto, sem chances. Explosão brasileira! Empate e decisão nos pênaltis, novamente.

Abalado psicológicamente, a Argentina foi a primeira a cobrar. E o peso do empate foi sentido por D'alessandro e Heinze, que desperdiçaram suas batidas e abriram um largo caminho ao Brasil. Com quatro cobranças perfeitas, de Edu, Diego, Adriano e Juan, a Seleção caminhou para a glória, conquistando seu sétimo título no torneio.

Copa América 2004

Artilheiro: Adriano - 7 gols
Melhor Jogador: Adriano
Melhor ataque: Argentina - 10 gols
Melhor Defesa: Paraguai e Colômbia - 2 gols
Média de Público: 19.980 pessoas
Maior goleada: Argentina 6 x 1 Equador
Média de gols: 3 gols por partida