Rumo à Olimpíada: Fernando Prass, goleiro do Palmeiras

Com 38 anos, Prass vive sua primeira convocação para a Seleção Brasileira e carrega chance de ser capitão vestindo a amarelinha graças a sua ascensão no alviverde paulista

Rumo à Olimpíada: Fernando Prass, goleiro do Palmeiras
Rumo à Olimpíada: Fernando Prass, goleiro do Palmeiras
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Por Natália Furlan

Revelado nas categorias de base do Grêmio, Fernando Prass, que hoje defende o Palmeiras, sempre carregou boas passagens nos clubes em que atuou. Nos times brasileiros (Coritiba de 2002 a 2005 e Vasco de 2009 a 2012) foi considerado como ídolo tanto pelos seus feitos em campo como defesas e grandes atuações, e também por sua personalidade e caráter.

Hoje no alviverde paulista, o goleiro gaúcho também escreve seu nome na história do clube graças a sua consistência durante toda a Série B, contribuindo com o restabelecimento do clube em 2014 mesmo com lesão, a sua brilhante atuação na Copa do Brasil 2015 e a efetividade neste início do Brasileirão 2016. Graças a todas essas realizações pessoais bem como as conquistas com o time, o arqueiro hoje é o principal defensor das metas da Seleção Olímpica para os jogos do Rio 2016.

Trajetória na carreira

A relação de Prass com o mundo da bola vem de família, já que seu avô, Lúcio Valdomiro, foi zagueiro do Grêmio Esportivo Renner, do Rio Grande do Sul, e sua missão foi dar continuidade à família de ‘boleiros’. Seu pai, apesar de não ter jogado futebol profissionalmente, sempre foi um admirador do esporte, talvez influenciado pelo próprio Seu Lúcio. Desta forma, deu muita força para Fernando, acompanhando-o ainda menino em excursões que o time de Viamão realizava a Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro.

Retorno da viagem a Buenos Aires onde defendeu o time de sua cidade, Viamão, em amistoso na la Bombonera (Foto: Reprodução / Site Oficial do Goleiro Fernando Prass)
Retorno da viagem a Buenos Aires onde defendeu o time de sua cidade, Viamão, em amistoso na la Bombonera (Foto: Reprodução / Site Oficial do Goleiro Fernando Prass)

A baixa estatura que tinha era um grande desafio para se tornar goleiro. Nos seus primeiros jogos, Fernando Prass atuou como meio-campo, mas ao decorrer do tempo optou por defender a meta. E fez a escolha certa. Aos nove anos de idade, assumia a posição de goleiro da equipe de Viamão. Aos 13 anos, Prass revelou ter talento também em outros esportes como vôlei, basquete, surf e tênis. Mas a definição pelo futebol como seu futuro único aconteceu quando foi chamado para treinar no Grêmio, ainda com 13 anos.

Passagem pelo Grêmio, a saída do Olímpico e o primeiro título de ‘ídolo da torcida’

O interesse do tricolor gaúcho surgiu quando dirigentes das categorias de base o viram atuando no Moleque Bom de Bola, campeonato que ocorria anualmente nas praias do Rio Grande do Sul. No Grêmio, Fernando Prass passou por todas as categorias, até chegar no profissional, em 1999, quando disputou alguns amistosos. Na época, mesmo carregando consigo a certeza de que seria jogador de futebol, cursou ainda dois anos de Educação Física no Instituto Porto-Alegrense.

Fernando Prass quando ainda atuava no Grêmio (Foto: Reprodução)
Fernando Prass quando ainda atuava no Grêmio (Foto: Reprodução)

Prass teve que abrir mão da faculdade quando deixou o Olímpico para firmar sua carreira nos gramados. Em 2000, disputou o Campeonato Paulista pela Francana. Durante os seis meses em que defendeu o clube, o goleiro foi visto fazendo partidas memoráveis. Em uma delas, foi observado pelo então técnico do Santo André, o uruguaio Sérgio Ramirez que, no ano seguinte, o chamou para defender a equipe do Vila Nova-GO, experimentando o título de ‘ídolo da torcida’ pela primeira vez.

Em um ano e meio, foi um dos principais jogadores, ajudando o clube a conquistar o vice-campeonato da Copa Centro-Oeste, onde foi o goleiro menos vazado no título do Campeonato Goiano de 2001 – feito este que o Vila Nova não conquistava há seis anos.

Goleiro consagrado no Coritiba e a passagem pela Europa

Em 2002, Fernando Prass chegou ao Coritiba - novamente indicado por Sérgio Ramirez, que acabava de assumir o cargo de supervisor do clube. Estreou no gol do Coxa na temporada de 2002 com uma vitória de 3 a 2 sobre o Mamoré, em Minas Gerais, pela Copa Sul-Minas. No Campeonato Paranaense, foi o goleiro menos vazado de 2002 a 2004. Em 2003 e 2004 foi bi-campeão Estadual com apenas uma derrota nos dois anos. Realizou o total 211 jogos pelo Coritiba, tornando-se um dos principais goleiros da história do clube.

Fernando ao receber troféu de goleiro menos vazado no Campeonato Paranaense 2003 (Foto: Reprodução / Site Oficial do Goleiro Fernando Prass)
Fernando ao receber troféu de goleiro menos vazado no Campeonato Paranaense 2003 (Foto: Reprodução / Site Oficial do Goleiro Fernando Prass)

Em 2004, Fernando Prass realizou o sonho de jogar na Europa transferindo-se para o União Desportiva de Leiria, de Portugal. No primeiro ano teve que lutar muito pela titularidade, mas assim que assumiu a condição de titular, foi conquistando seu espaço e chegou a ser o principal jogador do clube, sendo eleito o melhor goleiro do Campeonato Português na temporada 2006/07 pelo tradicional jornal A Bola e ajudou a classificar o time para a Copa Uefa.

Fernando Prass atuando em partida pelo União Desportiva de Leiria (Foto: Reprodução / Site Oficial do Goleiro Fernando Prass)
Fernando Prass atuando em partida pelo União Desportiva de Leiria (Foto: Reprodução / Site Oficial do Goleiro Fernando Prass)

O gigante da Colina

O desejo de voltar ao Brasil começou a falar bem alto e a oportunidade de atuar no Vasco da Gama caiu como uma luva em sua carreira. Em 2009, Fernando Prass retornou ao seu país e, atuando pela equipe carioca, novamente sagrou-se como ídolo, sendo titular absoluto do time e carregou uma das melhores médias de boa atuação como goleiro desde Carlos Germano, que passou pelo cruzmaltino entre 1990 a 1999 e também em 2004.

Em outubro de 2010, Prass teve seu contrato renovado com o clube até o fim de 2013. No ano de 2011 sagrou-se campeão da Copa do Brasil e obteve destaque no Campeonato Brasileiro daquele ano, além de conquistar o prêmio Bola de Prata como melhor goleiro do Brasil, concedido pela Revista Placar, juntamente com o canal ESPN. Neste mesmo ano Prass foi cotado para a Seleção Brasileira, mas não chegou a fazer parte dos convocados da mesma.

Prass sagrou-se como ídolo do Vasco em sua passagem pelo clube (Foto: Juan Bromata/AFP/Getty Images)
Prass sagrou-se como ídolo do Vasco em sua passagem pelo clube (Foto: Juan Bromata/AFP/Getty Images)

Apesar de tantos feitos de grande expressão, Fernando Prass também teve desapontamentos no Vasco. Em dezembro de 2012, insatisfeito com o atraso de salários, o goleiro rescindiu seu contrato válido até o final de 2013. Dali então, seu próximo destino seria o Palmeiras, que acabava de ser rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro.

De goleiro contestado a sucessor de Marcos: Fernando Prass no Palmeiras

Confirmado como reforço para a temporada de 2013, Prass chegou ao Palmeiras em dezembro do ano anterior. Assim que foi cravado que ele seria o novo goleiro do clube, a torcida palmeirense a princípio não se empolgou tanto devido à idade avançada do atleta, bem como a desconfiança após vários nomes passarem pelo gol alviverde, mas não corresponderem as expectativas e sequer chegarem perto do que Marcos foi debaixo das metas do Verde.

Apresentação de Prass no Palmeiras  (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Apresentação de Prass no Palmeiras (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

A estreia como defensor do Verdão foi em janeiro de 2013 diante do Bragantino, numa partida sem gols. Durante toda a Série B, Fernando foi um dos grandes destaques do título e da campanha que deu o acesso do time de volta à elite do futebol brasileiro com suas boas atuações e brilhantes defesas, garantindo a aprovação da torcida.

Em 2014, após o Palmeiras retornar para a divisão principal do Campeonato Brasileiro, uma eventualidade tirou Prass dos gramados em maio daquele ano. Na partida diante do Flamengo no Maracanã, o goleiro sentiu muitas dores no cotovelo direito por volta dos 30 minutos do primeiro tempo, logo após o gol de Henrique. A dor chegou a um estágio insuportável aos 40 minutos após o capitão da equipe defender o chute forte de Alecsandro - que na época defendia o rubro-negro carioca - e cair em cima do cotovelo direito. Ele recebeu atendimento médico e foi substituído por Bruno. No decorrer da partida o Palmeiras sofreu a virada e foi derrotado por 4 a 2.

Momento em que Fernando Prass sente dor intensa no cotovelo (Foto: Reprodução / Paulo Sérgio / Agência Lance)
Momento em que Fernando Prass sente dor intensa no cotovelo (Foto: Reprodução / Paulo Sérgio / Agência Lance)

Na semana seguinte a fratura no cotovelo direito foi confirmada após realização de exames, o que obrigou o capitão do Palmeiras a submeter-se a uma cirurgia no local, afastando-o dos gramados por cinco meses, retornando somente em outubro. Apesar disso, Fernando Prass foi essencial para assegurar um desfecho seguro do Palmeiras na etapa final do Campeonato Brasileiro, que por um fio não sofreu o terceiro rebaixamento na sua história. Prass encerrou a temporada de 2014 com 87 jogos pelo clube.

O ano de 2015 foi crucial para que Fernando Prass conquistasse de vez a confiança do torcedor palmeirense. O goleiro iniciou a temporada como um dos homens de confiança do técnico Oswaldo de Oliveira, que comandava o time na época e, no dia 15 de março, diante do XV de Piracicaba na vitória por 1 a 0 pelo Campeonato Paulista, completou sem centésimo jogo com a camisa alviverde. Com uma série de excelentes atuações durante o estadual, Prass caiu nas graças da torcida, mas consagração aconteceu de fato na fase final do torneio.

Prass em seu 100º jogo com a camisa do Palmeiras (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Prass em seu 100º jogo com a camisa do Palmeiras (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

A semifinal contra o maior rival Corinthians foi o ponto chave para que Prass fosse completamente agraçado pelo torcedor palmeirense. Jogando no domínio adversário, o Verdão venceu o clássico em um jogo eletrizante. Quem saiu na frente no marcador foi a equipe do Palestra Italia, que acabou sofrendo a virada, porém, conseguiu buscar o empate. A decisão foi nos pênaltis e após 14 cobranças, o Verdão venceu por 6 a 5 em uma brilhante atuação de Fernando Prass, que defendeu os pênaltis de Elias e Petros, garantindo a festa palmeirense no estádio do maior rival.

Defesa do pênalti de Petros (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Defesa do pênalti de Petros (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

A final foi decidida entre Palmeiras e Santos. Nas duas partidas decisivas, a superioridade de cada mandante prevaleceu por um gol: na ida, Palmeiras 1 a 0 no Allianz Parque. Na volta, Santos 2 a 1 na Vila Belmiro. A decisão foi em disputa por pênaltis mais uma vez, porém, o Palmeiras foi derrotado por 4 a 2, ficando com o vice-campeonato.

O Campeonato Brasileiro 2015 contou com uma grande oscilação da equipe do Palmeiras, que pouco fez para conseguir bons resultados e se aproximar das primeiras colocações, apesar de no primeiro turno, a equipe Alviverde ter conquistado vitórias expressivas diante de grandes rivais. No segundo turno o Palmeiras não contou com tanta efetividade e resultados positivos como o primeiro. Apesar de ter permanecido no G-4 na 15ª, 21ª, 27ª e 28ª rodada, o Palmeiras não soube administrar as posições por conta de derrotas incabíveis, como a derrota por 5 a 1 diante da Chapecoense na 29ª rodada, a derrota por 1 a 0 contra a Ponte Preta no Allianz Parque na rodada seguinte, e o revés contra o Sport por 2 a 0, também jogando em casa.

Prass atuando na partida diante da Chapecoense (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Prass atuando na partida diante da Chapecoense (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

Se no Campeonato Brasileiro o Palmeiras sofreu com a instabilidade, a firmeza se fez presente na Copa do Brasil, apesar de alguns momentos críticos. A reestruturação do elenco foi o ponto chave para o time engrenar e render bons resultados no torneio. Após se classificar para a grande final diante do Santos passando por Cruzeiro, Internacional e Fluminense, a decisão do título foi novamente diante do Santos. O jogo de ida na Vila Belmiro foi realmente muito difícil para o Palmeiras, que foi trucidado na bola e perdeu com o placar mínimo de 1 a 0.

No jogo de volta, o Palmeiras que entrou em campo era completamente diferente do time que jogou na Vila Belmiro. O primeiro gol da partida foi marcado por Dudu, que logo em seguida balançou as redes novamente e deixou o Alviverde com as duas mãos no título, sendo o provável herói da conquista. Porém, o Santos conseguiu balançar as redes e igualar o placar agregado. E novamente a decisão seria nos pênaltis. Então o heroísmo flutuou de Dudu para Fernando Prass.

O único a não converter para o Palmeiras foi Rafael Marques. Zé Roberto, Jackson e Cristaldo converteram. Para o Santos, Geuvânio e Lucas Lima fizeram, mas Marquinhos Gabriel e Gustavo Henrique pararam em Prass. A última cobrança do Santos ficou com Ricardo Oliveira, que converteu. O destino do título ficou por conta de Fernando Prass, que converteu sua cobrança e foi o herói que deu o título ao Palmeiras.

Herói da Copa do Brasil comemora com a taça (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Herói da Copa do Brasil comemora com a taça (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

Já em 2016, Prass vem sendo um grande ícone no elenco do Palmeiras. Após se classificar para as quartas de final do Campeonato Paulista, o Verdão bateu o São Bernardo por 2 a 0 e reencontrou o Santos nas semis. No agregado, placar de 2 a 2 em uma partida de tirar o fôlego. Depois da equipe alvinegra abrir a vantagem de 2 a 0, Rafael Marques empatou para o verde aos 42 e 43 minutos do segundo tempo, levando a decisão na Vila Belmiro para os pênaltis. Após uma série de cobranças e as penalidades, Fernando Prass novamente foi o último a cobrar pelo Palmeiras, porém, o desfecho não foi como da última vez e a equipe alviverde acabou sendo eliminada.

Defesa de Prass na final contra o Santos (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Defesa de Prass na final contra o Santos (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

Apesar de não ter dado continuidade no estadual, o Palmeiras não se abalou e começou a todo vapor no Campeonato Brasileiro e briga forte pelo título. Fernando Prass, capitão do elenco, é um dos responsáveis diretos pela boa fase do time. Suas atuações seguras e convincentes combinadas com seu espírito de liderança e experiência são cruciais para que o time continue firme em busca do maior objetivo. Isso tudo chamou a atenção de Rogério Micale, técnico da Seleção Olímpica, que optou por convocar o goleiro alviverde para compor o elenco que irá representar o Brasil no Rio 2016.

Expectativa para a Olimpíada

A busca pelo ouro olímpico no futebol é cada vez maior. Neste ano em que os Jogos Olímpicos acontecerão em solo brasileiro, a pressão é maior ainda e para que a busca não seja só um sonho distante, mas sim uma realidade próxima, Rogério Micale não escolheu Fernando Prass para ser o goleiro da seleção canarinha por mero acaso. Tudo foi estrategicamente pensado.

Em meio a tantos jogadores jovens que irão compor a seleção olímpica, seria necessário um jogador com perfil de liderança, e Prass sendo o maior líder do seu atual clube, poderá exercer essa função. Além disso, para um torneio de curta duração, são necessários jogadores que possuam características técnicas que se encaixem para este tipo de torneio. O arqueiro do Palmeiras se destacou de forma positiva e também demonstrou ser bom em penalidades. É um torneio em que pode ocorrer decisões por pênaltis e um goleiro com domínio para tal contará vantagem.

O constante desejo de vencer também é crucial sempre. No geral, o que se espera de Fernando Prass para a disputa da Olimpíada Rio 2016 é a sua técnica, o espírito de liderança para com o grupo, e a ciência da importância de vestir a camisa da seleção brasileira, independente de, apesar da experiência, ser debutante em representar o Brasil no futebol.

Coletiva de imprensa na CBF (Foto: Divulgação / CBF)
Coletiva de imprensa na CBF (Foto: Divulgação / CBF)

Ficha técnica

Nome: Fernando Büttenbender Prass

Posição: Goleiro

Naturalidade: Porto Alegre/RS

Nascimento: 09/07/1978

Altura: 1.91m

Camisa: 1

Jogos: 195

Gols: 0

Clubes: Grêmio (1998-99), Francana-SP (2000), Vila Nova-GO (2001), Grêmio (2001), Coritiba (2002-05), União de Leiria-POR (2005-08), Vasco da Gama (2009-12) e Palmeiras (desde 2012)
Títulos: Campeonato Gaúcho e Copa Sul (1999), Campeonato Goiano (2001), Campeonato Paranaense (2004), Campeonato Brasileiro Série B (2009), Copa do Brasil (2011), Campeonato Brasileiro Série B (2013) e Copa do Brasil (2015).