Em entrevista para o jornal espanhol AS, publicada nesta terça-feira (21), o técnico da seleção brasileira Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, falou com os jornalistas Marco Ruiz e Fernando Kallás sobre o 7 a 1, o Real Madrid, a volta de Marcelo e admiração pela bom futebol de Lionel Messi: "Seria bom se ele tivesse nascido no Brasil", brincou em tom descontraído

"Pertenço a escola de jogo de apoio, de associação, triangulação, troca de passes e criatividade no ataque. Não me importa se tenho um time com menos força, quero um time com mais mobilidade, com transições rápidas", explicou o gaúcho. Tite ainda completou dizendo que no Brasil há estilos de jogos diferentes do seu 'o da competitividade, da bola parada, de ganhar no contra-ataque'. 

Sobre o futebol brasileiro ter perdido a identidade nos últimos anos, os jornalistas questionaram Adenor se isso tinha a ver com o fato da maioria dos jogadores estarem jogando na Europa desde muito cedo: "A resposta é complexa. Depende muito dos jogadores. Se eu te disser que estou resgatando aquilo que tinha a nossa melhor escola de futebol é ostentar da minha parte. Eu falo com eles sobre o estilo de jogo que quero passar, um futebol de triangulações, competitivo com a ideia de recuperar a bola e construir." 

A derrota do 7 a 1 foi lembrada pelos espanhóis, a pergunta que veio a tona foi 'como você conseguiu recuperar o Brasil da crise do 7 a 1 em tão pouco tempo?', Tite respondeu dizendo: "Primeiro busquei entender qual era a melhor posição que cada jogador fazia na sua equipe. Onde Neymar produz mais? No 4-3-3 do Barça aberto na esquerda? Minha ideia inicial será, por tanto, manter Neymar jogando onde ele joga melhor no Barça. E Coutinho? Ele também joga na esquerda, mas no Liverpool. Eu o coloco na direita para não trocar Neymar, mas ele joga com os mesmos espaços que em seu clube."

Quanto a função do Casemiro, um dos jogadores mais importantes no elenco do atual líder do Campeonato Espanhol, perguntaram ao técnico se sua função também é a mesma: "Joga conosco assim como joga com Zidane", confirmou. Questionado sobre ser o volante brasileiro quem dá equilíbrio ao Real Madrid de Zizou, Adenor respondeu: "Para mim, o grande Madrid do Ancelotti também tinha uma capacidade enorme de recomposição na defesa. E jogava com Isco, Kroos e Modric. Ou com James. Lá na frente ficavam Cristiano, Bale e Benzema. Havia uma grande transição defensiva. Modric, James ou Bale retornavam com facilidade. E o time era consistente e extremamente criativo ao mesmo tempo"

Para encerrar o assunto do clube merengue, os jornalistas da capital espanhola questionaram Tite sobre estar surpreso com Zidane como técnico: "Ele já tinha estreado como técnico na divisão de base do clube quando eu visitei Ancelotti em Madri. Sua ascensão foi meteórica. Ganhar a Champions tão rápido... Como técnico ele demonstra ter um talento proporcional ao que tinha como jogador"

Perguntado onde se joga o melhor futebol da Europa, Tite respondeu: "É difícil responder isso! Tradicionalmente o futebol italiano é mais tático, o espanhol tem mais triangulações e criatividade. Inglaterra mudou seu estilo. Vejo o Liverpool jogar com mais triangulações, toques e ritmo. Para mim, a Premier League tem cinco equipes que podem ganhar realmente o campeonato, e isso não há em outras ligas." 

Peça chave da seleção brasileira, Neymar foi assunto da conversa, Tite foi questionado sobre ter ligado para o atacante do Barcelona para conversar quando foi selecionado para o cargo de treinador brasileiro: "Falei com todos os jogadores que convoquei para a seleção. Conhecia Neymar de quando eramos rivais, ele no Santos e eu no Corinthians. O que Neymar faz é ser um líder técnico dentro do time. É um jogador jovem, de 25 anos, mas sua ida para o Barcelona o ajudou a amadurar muito como jogador e pessoa. Para mim é um líder. Mudo os capitães do time a cada partida para estimular a liderança do elenco", explicou. "Concordo completamente com Iniesta quando ele diz que no um contra um Neymar é incomparável. Mas esse ano ele desenvolveu uma capacidade de dar assistências impressionante. Ele já não é mais só o jogador do um contra um, se transformou num maestro das assistências", completou o treinador citando o exemplo do jogador espanhol. 

Ele também foi questionado o por que de Dunga, ex-técnico da seleção, não convocar Marcelo"No Brasil há muitos laterais condutores, com qualidade técnica impressionante. Marcelo tem muita habilidade e vários recursos técnicos, poderia jogar no meio-campo. Falei com ele primeiro porque não gosto de levar histórias que os outros contam. Liguei para ele e perguntei o que ele pensava a respeito a seleção, ele me disse que sentia uma felicidade muito grande toda vez que era convocado. Marcelo é a improvisação, a criatividade..." 

Já que falou sobre o Real Madrid no inicio da entrevista, os jornalistas não deixaram o assunto Barcelona passar, ele foi perguntado se a "era Barcelona" dos últimos anos "acabou": "Não, não. É um clico que está se encerrando. Antes do último triplete eles também passaram por um período difícil. Quando você tem Neymar, Messi, Suárez, Iniesta, Busquets... você tem muita qualidade para retornar ao padrão anterior." 

Para finalizar, Tite foi questionado se os estilos de Messi e Cristiano Ronaldo são muito diferentes: "São estilos diferentes. Um é um goleador contundente, vertical, finalizador. O outro é lúdico, criativo, mágico, tem a capacidade de dar assistências além do jogo individual. Um joga num espaço do campo menos adiantado que o outro. Os dois na mesma equipe seriam imbatíveis"