Um ano que tinha tudo para entrar na história. 2013 foi marcado pela primeira participação da Associação Atlética Ponte Preta em uma competição internacional, a Copa Sul-Americana, em 113 anos de história. Foi a aposta do clube campineiro, e que por pouco deu em desfecho esplêndido para os comandados de Jorginho. Paralelamente ao torneio, pagou-se um preço: o Campeonato Brasileiro foi segundo plano e isso custou o rebaixamento da Macaca para a Série B. No Campeonato Paulista, a equipe também fez campanha impactante, apesar da eliminação. Nesta retrospectiva, a VAVEL Brasil comenta em detalhes o ano da Ponte, que viveu desfechos idênticos, mesmo em momentos bem distintos.
Mesmo com eliminação, Ponte Preta chama atenção no Campeonato Paulista
A Ponte Preta virou o ano com o objetivo alcançado: não cair no Campeonato Brasileiro. Por isso, o orçamento de 2013 serviu para reforçar o elenco que já havia feito campanha razoável no nacional. Alguns reforços chegaram para o técnico Guto Ferreira, como o lateral Artur (emprestado pelo Palmeiras), os volantes Ferrugem (ex-Brasiliense) e Fellipe Bastos (emprestado pelo Vasco), o meia peruano Ramírez (emprestado pelo Corinthians) e o meiocampista Adrianinho (ex-Brasiliense e antigo ídolo do clube), e os atacantes Rildo (ex-Vitória) e William "Batoré" (ex-Avaí).
No Campeonato Paulista, a expectativa de fazer boa campanha se confirmou durante as rodadas, e a equipe fez história ao permanecer 16 jogos sem perder na competição. Na 16ª rodada, o time era o vice-líder da competição com 34 pontos (dois a menos que o São Paulo), sendo nove vitórias e sete empates. Na rodada seguinte, contra o Palmeiras, caiu a invencibilidade. Ao mesmo tempo, o técnico Guto Ferreira mexia em algumas peças. O goleiro Roberto, ex-Vasco, tomava lugar do experiente Edson Bastos, que alternava boas e más atuações.
Ramírez veio do Corinthians e logo conquistou o carinho do torcedor pontepretano (Foto: PontePress/Marcos Ribolli)
Em 10 de março, um caso chamou a atenção. O volante Ferrugem estreava como titular na Ponte Preta contra o São Caetano. A Macaca venceu o jogo por 3 a 1, mas ninguém saiu feliz do Estádio Moisés Lucarelli naquele dia. Pelo contrário. O jogador dividiu bola com Danielzinho e saiu de campo com uma fratura exposta do tornozelo esquerdo, causando revolta e tristeza dos torcedores pontepretanos. Gritos de "criminoso" e "assassino" entoraram nas arquibancadas para o jogador do Azulão. Curiosamente, Danielzinho teve lesão semelhante alguns meses depois e não jogou mais em 2013. Ferrugem retornou após cinco meses afastado, diante do Criciúma, pelo Campeonato Brasileiro.
(Foto: Reprodução/Premiere Futebol Clube)
No fim da primeira fase estadual, a quarta colocação da Ponte e apenas uma derrota em 19 jogos fez o time pegar o Corinthians nas quartas de final. Em campo, buscava repetir o feito do ano anterior, o de eliminar o Timão, que vivia boa fase. Porém neste ano a Macaca não viu a cor da bola e foi goleada pelo Alvinegro de Parque São Jorge por 4 a 0, sendo eliminada pelo futuro campeão paulista. Restou o campeonato do interior, onde o clube conquistou o título "simbólico" ao vencer o surpreendente Penapolense por 4 a 2. William terminou como artilheiro, com 13 gols, despertando interesse de outras equipes, como o Palmeiras.
(Foto: Reprodução)
A saída de Guto Ferreira
Veio o Campeonato Brasileiro e o começo não foi como no Paulistão. Nas quatro primeiras partidas, três derrotas e um empate. Como de praxe no Brasil sobre para o treinador, e Guto Ferreira, responsável por manter o time na elite nacional e fazer boa campanha no Paulista, acabou sendo dispensado da Ponte Preta. Em 41 jogos, Guto obteve 19 vitórias, 11 empates e 11 derrotas, ou seja, 55,2% de aproveitamento. "Tenho que agradecer à ótima passagem no comando da Ponte e agradeço em especial aos atletas, a todos os profissionais que trabalharam comigo, aos dirigentes e à torcida. Saio satisfeito porque conquistamos nosso primeiro objetivo, de no ano passado manter a equipe na Série A, e porque queríamos conquistar um título e conseguimos o Troféu do Interior. Desejo boa sorte a todos aqui da Ponte Preta”, afirmou em sua despedida do Moisés Lucarelli. Paulo César Carpegiani chegou para tentar alavancar o clube na classificação.
Eliminação polêmica da Copa do Brasil
Enquanto isso, a Macaca tinha a Copa do Brasil, mas para disputar a Copa Sul-Americana, o time não podia passar da fase 16 avos de final do torneio. Por isso, o desconhecido Nacional-AM conseguiu eliminar os paulistas, com duas vitórias por 1 a 0. A Sul-Americana era o sonho de consumo pontepretano, e seria a primeira vez que participaria de uma competição continental na história de 113 anos.
Por problemas de saúde, Carpegiani deixa clube
Foram apenas 13 jogos na curta passagem de Paulo César Carpegiani pela Ponte, com quatro vitórias, três empates e seis derrotas. A gota d'água foi a derrota por 2 a 0 contra o Cruzeiro, líder do Brasileirão. Mas o técnico preferiu sair do time campineiro devido a um problema de saúde, que atrapalhava seu trabalho diante do elenco.
(Foto: Reprodução/Rodrigo Villalba/Futura Press)
Jorginho, que tinha sido dispensado pelo Flamengo meses antes, foi a aposta da diretoria para tentativa de sair da incômoda 16ª colocação, que fazia o clube se aproximar da zona de rebaixamento.
Luta contra o rebaixamento no Brasileirão e caminhada histórica na Copa Sul-Americana
No Campeonato Brasileiro, enquanto a Ponte Preta lutaria contra o descenso à Série B, a equipe por outro lado estava ansiosa. A Macaca estrearia em competições estrangeiras, enfrentando o Criciúma no Estádio Heriberto Hülse. O time venceu a ida por 2 a 1 e com um zero a zero na volta, passou para a fase internacional, ao pegar o Deportivo Pasto (COL). A história já estava sendo feita, mesmo se viesse uma eliminação.
Voltando ao Brasileirão, a Ponte caiu na zona de rebaixamento e começou a ficar uma série de jogos sem vitória, o que complicou o clube em relação à permanência na Série A. O treinador Jorginho demorou para conhecer o elenco, e isso foi piorando a situação na tabela. Restou a Copa Sul-Americana para "salvar" o ano, e foi nisso que o time se apegou para dar alegria ao torcedor pontepretano. Triunfos diante do Deportivo Pasto, do tradicionalíssimo Vélez Sarsfield (ARG) e do São Paulo (que polemizou ao tirar a partida de volta do Moisés Lucarelli, pelo estádio não comportar o número mínimo de torcida), credenciaram a Ponte Preta para a grande final contra o Lanús (ARG), equipe de também poucos títulos no currículo.
Leonardo comemora passagem da Ponte para a final da Sul-Americana (Foto: Reprodução/ Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
No jogo de ida, 1 a 1 no Pacaembu e tudo em aberto para o jogo na Argentina. Porém, o time não fez uma boa apresentação na volta e os argentinos se sagraram campeões, ao vencerem por 2 a 0. Momento de decepção da torcida campineira, já que o título estava perto e amenizaria a fraca campanha no Campeonato Brasileiro, resultando na volta para a Série B após dois anos. De qualquer forma, a façanha foi exaltada pela mídia brasileira e de Campinas, e principalmente pelos torcedores. A campanha, por um todo, já estava escrita na história.
Ferrugem se desola no gramado após derrota da Ponte diante do Lanús (Foto: Reprodução/Reuters)
2014 será o recomeço do clube, que não terá mais o técnico Jorginho, e sim Sidney Moraes, de ótima campanha no modesto Icasa, quinto colocado da Segundona e que por detalhes não conquistou o inédito acesso para a Série A. As primeiras contrações visando o Campeonato Paulista e a Série B do Brasileiro são o volante Dodó (ex-Atlético-GO) e os meias Tchô (ex-Figueirense) e Ricardo Santos (ex-Ceará).
Melhor jogo: Vélez Sarsfield (ARG) 0 x 2 Ponte Preta, quartas de final da Copa Sul-Americana
A Ponte Preta havia empatado por 0 a 0 no jogo de ida no Moisés Lucarelli. O favoritismo do Vélez para a partida de volta na Argentina foi praticamente unânime. Mas a Ponte Preta entrou para escrever uma história na Copa Sul-Americana, e, no encaixe de jogo com boa marcação e também nas saídas rápidas dos contra ataques (característica da equipe por toda esta competição), o time campineiro calou o Estádio José Almafitani, repleto de torcedores argentinos, e venceu por 2 a 0, gols de Elias e Fernando Bob.
Pior jogo: Lanús (ARG) 2 x 0 Ponte Preta, final da Copa Sul-Americana
Após um bom empate por 1 a 1 no jogo de ida da decisão, a Ponte Preta, que sempre fazia boas apresentações fora de casa (vitórias como visitante diante do Criciúma, Vélez e São Paulo), não aguentou a pressão em Lanús e perdeu para o time mandante por 2 a 0, deixando escapar o título da Copa Sul-Americana. A equipe pontepretana praticamente não atacou o adversário, e foi presa fácil para a marcação argentina, que conseguiu anular os principais jogadores da Macaca. A vitória do clube grená veio com facilidade, assim sendo a pior apresentação do ano para os campineiros, por tudo o que tinham feito no torneio até então.
Os melhores de 2013
Uendel: o jogador até começou o ano discretamente e amargou o banco de reservas por algumas vezes. Mas no Campeonato Brasileiro e, principalmente na Copa Sul-Americana, o lateral/ala mostrou seu potencial, com bom apoio ao ataque e marcando gols, aparecendo como elemento surpresa. Seu bom futebol o levará para o Corinthians em 2014.
Fellipe Bastos: com um bom poder no chute de longa distância, Fellipe Bastos conquistou a admiração do pontepretano durante o ano e na campanha da Sul-Americana. A entrega e disposição do jogador foram fundamentais e o credencia a destaque do time. Como foi emprestado pelo Vasco e seu vínculo acabou, o volante volta ao Cruzmaltino na próxima temporada.
William "Batoré": foi o artilheiro do ano da Ponte Preta. Marcou 29 gols, sendo 14 deles no Campeonato Brasileiro. Ficou muito tempo sem balançar as redes, e isso deixou o centroavante no banco de reservas, perdendo a posição para Leonardo, que entrou bem. Porém, da mesma forma, William teve grande destaque em 2013. Foi sondado por clubes brasileiros durante o ano, mas o atacante de 30 anos vai jogar no Al-Khor (QAT) em 2014.
Os piores de 2013
Ramírez: chegou como principal contratação para 2013. Começou bem no Campeonato Paulista, marcando alguns gols, sendo até convocado para a seleção do Peru. Mas com o tempo foi sendo problema no elenco, mostrando falta de interesse e problemas com a diretoria pontepretana. Consequentemente seu desempenho decaiu. Resultado: dispensado em outubro e devolvido ao Corinthians, dono do passe do meia. Maior decepção do ano, sem dúvidas.
Betão: contratado em agosto, vindo do Evian (FRA), o zagueiro veio para arrumar a defesa da Macaca, mas sempre em que foi escalado, jogou mal e mais atrapalhou do que ajudou. Contra o Grêmio, falhou bisonhamente e "deu de bandeja" o gol da vitória gremista. Foi dispensado e o torcedor certamente se esquecerá dele rapidamente.
Artur: foi bastante irregular e tem potencial para ser mais jogador do que foi na Ponte Preta. Régis até ameaçou a titularidade do lateral, mas também teve atuações fracas, então Artur ficou com a camisa 2, mesmo alternando boas e más atuações. Foi devolvido ao Palmeiras, porém deve ter pouco espaço no Verdão.
Análise final
O desastre da Ponte Preta foi mesmo no Campeonato Brasileiro, onde acabou rebaixada. No Paulistão e Sul-Americana, ótimas campanhas, que poderiam ter se refletido também no Brasileirão, mas como a Macaca não tem um elenco forte, teve que priorizar apenas uma competição, e foi a Sul-Americana. O grande erro do ano foi a demissão de Guto Ferreira (que depois arrumou a Portuguesa no campeonato). Depois dele, o time viveu momentos ruins e só foi se acertar com o Jorginho, que demorou para se adaptar ao clima campineiro, e aí já era tarde demais.
Na Série B a Ponte sempre é time de chegada e deve brigar pelo acesso de volta à primeira divisão, caso monte um elenco ao menos razoável para o nível da Segundona. Porém não foi um ano de se jogar fora, não. 2013 deverá ser lembrado eternamente pelo torcedor, que tem boas histórias a se contar na inédita participação na Copa Sul-Americana. Mas é de se afirmar: momentos distintos (mal no Brasileiro e bem na Sul-Americana), fins idênticos (tristeza com o rebaixamento e a perda do título continental).
(Foto: Reprodução/Reuters)