Quatro de abril de 2017. Foram mais de cinco meses desde o pior pesadelo da história de um time de futebol e o improvável vai acontecer. Em Chapecó, a cidade, que amanheceu no dia 29/11/16 em choque e lágrimas, agora vai se derramar em emoção, alegrias, lembranças e todos numa só torcida para Chapecoense x Atlético Nacional-COL, no primeiro jogo da Recopa Sul-Americana 2017.

Campeão de direito, de alma, de coração e razão da Sul-Americana 2016, a Chape vai colocar a prova sua reconstrução, ainda lenta, mas bem produtiva, recebendo os irmãos, heróis do Atlético Nacional, vencedores da Libertadores 2016 e que serão rivais por 180 minutos em dois jogos valendo uma taça simbólica, mas colocando no peito algo bem mais valoroso, mais valioso e emocionante. O primeiro jogo na Arena Condá trará toda a carga emotiva de uma cidade arrasada pela tragédia, mas que pulsará numa batida só, carregada de emoção, sentimentos e agradecimentos.

Campeão da Libertadores 2016, o mudado Atlético fará sua primeira partida no Brasil desde a tragédia com o avião da LaMia, que vitimizou mais de 70 pessoas, dizimando mais que todo um time de futebol, jornalistas e profissionais, mas que levou junto sonhos, desejos, conquistas e várias histórias. Homenagens já foram feitas em sua chegada, como portal de água, medalhas e caloroso recebimento dos moradores, mas a Arena Condá deverá ficar pequena em meio aos inúmeros sentimentos e homenagens que terão antes, durante e depois do jogo.

Uma reconstrução construída com todos

Muitos foram os prognósticos sobre o futuro da Chapecoense pós-tragédia. Foi-se cogitado até que o time de Santa Catarina disputasse o Brasileirão sem poder ser rebaixado por duas temporadas, negado pela nova diretoria do clube posteriormente.

Sob as mãos do competente Vagner Mancini, a Chapecoense foi quieta secando as lágrimas e tentando conviver com os sonhos do passado para construir o futuro. Rendas foram doadas, jogadores oferecidos e muita interrogação. Mas apenas dentro de campo as perguntas poderiam ser respondidas.

E com muito trabalho, foco e gente séria no comando, a Chape se moldou no seu drama e vem conquistando a todos com uma campanha muito boa até aqui. Na Libertadores, está embolado no seu difícil grupo e já venceu fora de casa. Já no estadual, tem sobrado e é destaque na competição.

Para o jogo de logo mais, Vagner Mancini sabe que será um jogo diferente, com uma carga emocional pesada, com lembranças passando nos olhos de todos, mas espera que sua equipe aproveite esses momentos para se dar bem dentro de campo.

"Eu espero que seja motivacional. Nós já sabemos tudo que vai acontecer dentro e fora do estádio. Aquilo que aconteceu hoje também, na chegada do Atlético Nacional. Mas é importante diferenciar as coisas. Espero que a torcida, o povo de Chapecó e a diretoria da Chapecoense possam receber muito bem o Atlético Nacional. Que antes da partida a gente possa dar um abraço em cada um deles. Mas quando a bola rolar eu quero meu time mordendo, pegando, e se possível, ganhando esse título, porque é um título de expressão. É um título que pode marcar o ano da Chapecoense e também a vida de cada um que está envolvido".

O Verdão do Oeste não deve ter grandes mudanças para a primeira partida da final. Com isso, se espera que a Chape entre com o mesmo time que venceu o clássico contra o Figueirense, fora de casa. A equipe pode ser Artur Moraes; João Pedro, Douglas Grolli, Nathan e Reinaldo; Andrei Girotto, Luiz Antonio e Dodô; Rossi, Túlio de Melo e Arthur.

Time diferente, mas sentimento igual

É inegável que em 2016 nenhum time encantou mais que o Atlético Nacional. Seja dentro de campo, fora, na Libertadores ou em amistoso, os verdollagas demonstraram variações de carisma, sentimento, qualidade técnica e humana.

O time de Medellin sobrou na Libertadores, vencendo o torneio com um time ofensivo, dominante, vibrante e que chamava a atenção por ser efetivo numa mescla de tática e técnica impressionante, sempre com o comando de Reinaldo Rueda.

Será o primeiro contato do Nacional com o Brasil desde os eventos do fim de novembro. Como esquecer tudo aquilo que se passou na Colômbia? Como esquecer aquele estádio em Medellin com mais de 100 mil pessoas numa missa campal em prol das vítimas? Como esquecer o ato de ceder o título da Sul-Americana ao rival brasileiro? O time, antes conhecido por ser do cartel de Pablo Escobar, não só apagou essa memória, como escreveu uma nova história, escrita com dignidade, lágrimas, amor, afeto, solidariedade, humanidade e muita humildade.

Só que aquele time que encantou a todos mudou drasticamente. Destaques na campanha vitoriosa durante todo o ano, o setor ofensivo praticamente se transferiu ao Brasil. Guerra, eleito melhor jogador da Libertadores 2016, foi comprado pelo Palmeiras, mesmo caminho do artilheiro Miguel Borja, carrasco do São Paulo na semifinal da Libertadores e do Coritiba pela Sul-Americana. Outro destaque, Berrío, foi comprado pelo Flamengo e ainda tenta se adaptar ao time carioca. Até Reinaldo Rueda quase se tornou o técnico do Corinthians no começo do ano, impedido por uma cirurgia no quadril.

Dentre vendas e contratações, o time ainda tenta se montar e buscar a melhor formação. Ainda assim, a equipe só tem uma derrota na temporada e está invicto no torneio nacional. O Nacional segue muito forte, seguindo sua filosofia de jogo.

Rueda ainda permanece com algumas dúvidas, principalmente no meio-campo, mas o time deve ter Armani, Bocanegra, Nájera, Henríquez e Farid Díaz; Arias, Bernal, Torres, Uribe e Ibargüen; Moreno.