Costa do Marfim: mais do que Drogba, a força de um elenco em alta

Após duas curtas participações, sendo eliminada na primeira fase, a Costa do Marfim chega forte ao Brasil e conta com a ótima fase de seus jogadores para conseguir boa campanha

Costa do Marfim: mais do que Drogba, a força de um elenco em alta
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Por Guilherme Bianchini

Depois de duas eliminações seguidas na fase de grupos, a Costa do Marfim chega à Copa do Mundo de 2014 com boas chances de se classificar para as oitavas-de-final. Em um dos grupos mais fracos da competição, ao lado de Colômbia, que não conta com Radamel Falcao, Japão e Grécia, a equipe africana conta com a excelente fase de Yayá Touré e as ótimas fases dos jogadores ofensivos para conseguir a vaga inédita no mata-mata.

Drogba: a referência

Didier Drogba foi o grande responsável por colocar a Costa do Marfim no mapa do futebol mundial. A ascensão do atacante na Europa foi concomitante ao crescimento da seleção marfinense, que chegou com ineditismo à Copa do Mundo, em 2006.

Com 24 anos, a ótima temporada pelo Guingamp, da França, atraiu o interesse do Olympique de Marselha, uma das principais equipe do país. Pelo clube marselhês, na temporada de 2003/04, Drogba foi vice-campeão e eleito melhor jogador da Ligue 1, sendo vendido ao Chelsea por 24 milhões de libras. Foi aí que o atleta mudou de patamar e passou a integrar o seleto grupo dos melhores jogadores do planeta.

Já na primeira temporada pelos Blues, em 2004/05, o atacante foi crucial na campanha que deu aos londrinos o primeiro título inglês após 50 anos de jejum. De quebra, venceu também a Copa da Liga Inglesa e marcou o começo em seu novo time com duas taças.

Em seguida, o segundo título consecutivo da Premier League fez com que Drogba chegasse com muita pompa ao Mundial da Alemanha, em 2006, dando esperanças ao torcedor marfinense. No entanto, a qualidade do camisa 11 mascarou as deficiências de uma seleção jovem e inexperiente - com pouca rodagem internacional - e culminou na precoce eliminação, frustrando quem esperava uma boa campanha dos Elefantes em seu debute na Copa.

Drogba seguiu brilhando com o Chelsea, fazendo gols em profusão e conquistando seguidos títulos. Em maio de 2008, a grande decepção no time inglês: o então inédito título da Uefa Champions League escapou na disputa de pênaltis da final, contra o rival Manchester United, ocasionando a primeira temporada sem títulos do atleta africano desde sua chegada a Londres.

Contudo, Drogba e Chelsea não tardaram para dar a volta por cima. Na temporada 2009/10, sob o comando de Carlo Ancelotti, os Blues conquistaram o double (títulos de Premier League e FA Cup na mesma temporada) pela primeira vez em sua história e contaram com o marfinense liderando a tabela de artilheiros da Premier, com 29 gols.

Mais uma vez, os Elefantes chegaram à Copa do Mundo depositando todas as fichas na ótima fase de seu principal jogador. Outra vez mais, sucumbiram na fase inicial da competição. A Costa do Marfim não foi páreo para os fortes selecionados de Brasil e Portugal e voltou para casa mais cedo. Apesar de apresentar um grupo mais coeso e experiente em relação a 2006, a Seleção Marfinense seguia com carências e não foi capaz de se apresentar bem no Mundial.

A coroação de Didier Drogba com a camisa azul aconteceu em 2012. Notoriamente o grande nome da equipe, o atacante conduziu os ingleses rumo a mais uma final de Uefa Champions League e, desta vez, o final foi diferente. Na decisão contra o Bayern, em plena Allianz Arena, Drogba foi decisivo ao marcar o gol de empate, já aos 43 minutos do segundo tempo, e converter o último pênalti da disputa que deu o inédito título europeu aos Blues, se firmando de vez no rol dos grandes ídolos do clube.

Agora com 36 anos, o capitão da seleção marfinense tem, no Brasil, a última chance para dar alegrias ao torcedor de sua nação e fechar com chave de ouro sua longa, duradoura e marcante passagem pelos Elefantes.

Na Alemanha, grupo da morte mina as chances de boa campanha

Apesar de chegar à Copa do Mundo de 2006 como caçula, a Costa do Marfim dava mostras de que poderia fazer uma boa campanha. Os destaques da seleção africana estavam espalhados pelo continente europeu e já possuíam certa fama internacional. Além da figura de Didier Drogba, os Elefantes também contavam com jogadores como os irmãos Kolo e Yaya Touré, o meia Romaric e o atacante Arouna Koné, que estavam dando seus primeiros passos na elite do futebol mundial.

Entretanto, o sorteio dos grupos da Copa foi cruel com a seleção marfinense e rendeu aos africanos uma chave com Argentina, Holanda e Sérvia e Montenegro, que ficou conhecida como Grupo da Morte. Apesar da forte resistência oferecida à Albiceleste e à Laranja, a Costa do Marfim foi derrotada em seus dois primeiros jogos e chegou à última rodada já eliminada.

O duelo com Sérvia e Montenegro não representaria interferência alguma no andamento da competição, mas coube aos marfinenses a busca pela primeira vitória em Copas já na primeira participação do selecionado. E a vitória veio. Em um movimentado duelo, os Elefantes buscaram a virada após saírem perdendo por 2 a 0 nos 20 minutos iniciais da partida. Kalou foi o autor do tento histórico, na marca do pênalti, já aos 41 minutos do segundo tempo.

Em 2010, mais uma eliminação precoce

A Seleção Marfinense não teve problemas nas Eliminatórias e alcançou a segunda Copa do Mundo consecutiva. Desta vez, o Mundial seria disputado na África do Sul e os Elefantes eram bem cotados para uma boa campanha, visto que jogariam em seu continente e o talentoso elenco de 2006 ganhara experiência para amenizar o baque da rápida desclassificação na Alemanha.

Entretanto, o sorteio dos grupos foi - mais uma vez - um verdadeiro balde de água fria nas pretensões marfinenses. A seleção seria a terceira força numa chave com Brasil, Portugal e Coreia do Norte e precisava da vitória já na primeira rodada, contra os portugueses, para ter chances de avançar às oitavas de final. Um empate em 0 a 0 com os europeus deixou a definição do Grupo G em aberto.

A segunda rodada foi péssima para a Costa do Marfim e transformou em remotíssima a possibilidade de classificação. Os Elefantes perderam por 3 a 1 para o Brasil e viram Portugal aplicar impiedosos 7 a 0 na Coreia do Norte. Com um ponto e nove gols de saldo a menos em relação aos lusos, só um milagre reverteria a situação na rodada derradeira.

Com gols de Yaya Touré, Romaric e Kalou, a seleção marfinense se despediu com vitória do Mundial, goleando a Coreia do Norte por 3 a 0. Mais uma vez, ficou o sentimento de que o sonho terminara cedo demais. A boa geração, que começava a ganhar destaque no futebol mundial, decepcionou de novo.

No ápice de sua forma, geração de ouro tem última chance no Brasil

Após ser amplamente prejudicada pelos sorteios de 2006 e 2010, a Costa do Marfim - em 2014 - está em uma chave marcada pelo equilíbrio entre as seleções integrantes. Os Elefantes disputarão vaga com Colômbia (sem Falcao García), Grécia e Japão e sabem da possibilidade de, até mesmo, conseguirem a liderança do Grupo C.

Além dos adversários parelhos, a maioria dos atletas marfinenses chegam ao Brasil no ápice de suas carreiras. Se na Alemanha e na África do Sul a inexperiência foi um aspecto contrário às pretensões do selecionado, a rodagem do grupo é um fator preponderante para que a tão sonhada vaga na segunda fase seja alcançada no país pentacampeão mundial.

Os principais jogadores já não têm mais a juventude de outrora e possuem a - última - oportunidade de ouro para marcarem seus nomes na história do país e das Copas. Na temporada 2013/14, muitos foram os destaques marfinenses em território europeu. Mais do que nunca, cultiva-se a sensação de que "agora vai". A nação de 20 milhões de habitantes aguarda ansiosa pelo desfecho favorável.

Na defesa, mescla entre jovens e veteranos

Calcanhar de Aquiles da esmagadora maioria das seleções africanas, a defesa marfinense está longe de ser um ponto fraco da equipe. Começando pela lateral-direita, onde a revelação Serge Aurier, de apenas 21 anos, fez ótima temporada pelo Toulouse, da França. Apesar de terminar a Ligue 1 na nona colocação, o jovem atleta garantiu vaga na seleção do campeonato e já atrai olhares dos principais clubes do país.

A zaga é formada por jogadores já consolidados na seleção. Kolo Touré e Zokora, com 33 anos cada, estão em fase decadente na carreira e inspiram maiores cuidados ao técnico Sabri Lamouchi. O primeiro fez temporada irregular pelo Liverpool, jamais se firmando entre os titulares. Já o segundo se desligou do Trabzonspor, da Turquia, após quatro anos na equipe e está atualmente sem clube. Com isso, ganha força o nome de Souleymane Bamba, que atua pelo mesmo Trabzonspor e é mais novo do que seus companheiros de posição, com 29 anos.

Na lateral-esquerda, está o ponto de maior equilíbrio da defesa. Constant Djakpa, de 27 anos, conseguiu a titularidade no Eintracht Frankfurt, da Alemanha, e ganha pontos com o treinador pelo bom nível que mantém em uma liga de alta cobrança. Quem também atua na Bundesliga e está entre os 23 convocados é Arthur Boka, jogador do Stuttgart que representou a Costa do Marfim nos dois últimos Mundiais e deverá disputar sua última Copa do Mundo.

Tioté e Gradel vivem boa fase; Gosso e Romaric ficam de fora

Para o meio-campo, também são boas as opções de Lamouchi. Além de Yaya Touré, o treinador francês conta com os experientes Tioté, Dié e Gradel para compor a meiuca marfinense.

Há 4 anos no Newcastle, o volante Tioté atua regularmente pelos Magpies e chega ao Brasil com bom ritmo de jogo. Dié chegou recentemente ao Basel, da Suíça, e virou nome carimbado nas convocações da Costa do Marfim após boas atuações por seu time. Por último, Gradel se firmou no francês Saint-Éttienne e é outro que gera boas expectativas para a Copa do Mundo.

As surpresas ficam por conta das ausências. Gosso e Romaric, figuras presentes em todas as partidas nas Eliminatórias e nos amistosos pré-Copa, foram cortados e deram adeus à oportunidade de disputarem o Mundial.

Potência no ataque

Se a defesa e o meio-campo da seleção marfinense possuem ressalvas, o mesmo não se pode dizer do ataque. Com grandes nomes fazendo companhia a Didier Drogba, credenciados por ótimas aparições em ligas de destaque, o poderio ofensivo dos Elefantes promete muito, buscando a perfeita harmonia entre velocidade e bola na rede.

Salomon Kalou, outro remanescente do elenco de 2010, enfim achou seu espaço no Lille. Disputando todos os 38 jogos da temporada 2013/14 na Ligue 1, o atacante marcou 16 gols na competição e foi o artilheiro de sua equipe, também se consolidando como principal jogador do clube francês. Após temporadas passadas no banco de reservas do Chelsea, a mudança para a França representou um grande salto para o jogador.

Seguindo os passos do companheiro de ataque, Gervinho optou por mudar de ares e deixou a Premier League, depois de duas temporadas sem grande sucesso pelo Arsenal. O destino escolhido foi a Itália, para atuar na Roma. A decisão de Gervinho se mostrou muito acertada e o ponta-esquerda conseguiu temporada de destaque na Serie A. Com gols e assistências, o marfinense foi peça fundamental na equipe vice-campeã italiana e chega confiante à seleção.

Traçando caminho inverso de Kalou e Gervinho, Bony foi contratado pelo modesto Swansea e superou - e muito - as expectativas no clube galês. Em uma temporada bem acima da média, o atacante de 25 anos balançou as redes em 16 ocasiões na Premier League e terminou o campeonato com o mesmo número de gols que Dzeko e Giroud, titulares dos badalados Manchester City e Arsenal.

Esperava-se a convocação final de Seydou Doumbia, que manteve o nível das boas apresentações no CSKA Moscou e estava na pré-lista de convocados. Surpreendentemente, o veloz atacante ficou de fora e deixará de disputar seu segundo Mundial.

Yaya Touré: o craque do time

Um jogador em especial da seleção marfinense é a prova de que a persistência no futebol sempre vale a pena. Após passar por quatro times europeus num espaço de seis anos, Yaya Touré foi contratado pelo Barcelona e por lá ficou durante três temporadas. Pesou contra o jogador a melhor fase da história do time catalão, que contava com jogadores do quilate de Xavi e Iniesta no meio-campo, dificultando a vida do africano. O banco de reservas foi o lugar mais frequentado por Touré na Catalunha.

A guinada na carreira do meia se deu em 2010, quando o Manchester City desembolsou 24 milhões de euros para contar com o futebol do meio-campista. Com ótimas atuações e muita dedicação em campo, Yaya foi, aos poucos, ganhando a confiança dos citizens. Já em sua segunda temporada, foi um dos principais nomes na conquista do título inglês, que não era conquistado pela equipe de Manchester há 44 anos.

O marfinense ia crescendo gradativamente e se firmando entre os melhores jogadores em solo inglês. Depois do vice-campeonato em 2013, a temporada de 2013/2014 marcou a alteração do status de ótimo jogador para craque.

Yaya Touré foi, de longe, o grande destaque do Manchester City na conquista da segunda Premier League dos Sky Blues. Atuando como volante, o jogador marcou incríveis 20 gols no certame nacional e se tornou o segundo jogador de meio-campo a conseguir tal feito no Campeonato Inglês, se igualando a Frank Lampard. Para muitos, é o melhor meia em atividade do planeta, conciliando exuberante força física e extrema habilidade, lançamentos precisos e finalizações potentes. Em resumo, um jogador completo.

As opções de Lamouchi

A Costa do Marfim não tomou conhecimento de seus rivais na fase de grupos das Eliminatórias Africanas para a Copa e eliminou Marrocos, Tanzânia e Gâmbia com o ótimo retrospecto de quatro vitórias e dois empates em seis jogos. Na fase de mata-mata, os Elefantes enfrentaram Senegal e encaminharam a classificação para o Mundial já na primeira partida, vencendo por 3 a 1. No jogo de volta, o empate em 1 a 1 colocou a seleção marfinense em sua terceira Copa consecutiva.

Apesar do bom desempenho contra selecionados do mesmo continente, os marfinenses tropeçaram contra europeus em amistosos recentes. No entanto, em um destes amistosos, os Elefantes deixaram boa impressão ao buscarem um empate contra a forte Bélgica, após saírem perdendo por 2 a 0.

O treinador Sabri Lamouchi ainda não evidenciou qual será a equipe titular na Copa do Mundo. Contudo, pistas foram deixadas no embate com a Bélgica. A princípio, a zaga será composta pelos veteranos Kolo Touré e Zokora, com Aurier na lateral-direita e Boka na esquerda.

Já no meio-campo, o francês acena para um esquema com Tioté, Yaya Touré e Dié, deixando Gradel como opção no banco de reservas. O ataque é o setor onde fica mais claro quem serão os titulares. Ao que tudo indica, Kalou, Drogba e Gervinho formarão a forte linha ofensiva dos marfinenses.

Sobram opções de variação tática no elenco da Costa do Marfim. Em determinada situação, Lamouchi pode utilizar dois homens de área - Drogba e Bony - e deixar o meio-campo mais veloz, com Gradel e Gervinho abertos pelas pontas e Yaya Touré assumindo a função de armador das jogadas. Outra possibilidade é avançar Didier Zokora para a posição de volante, levando em conta sua idade avançada, com Souleymane Bamba assumindo o posto da zaga.

Sabri Lamouchi arriscou ao deixar Gosso, Romaric e Doumbia de fora, perdendo valiosas alternativas para confrontos de maior dificuldade. Resta ao treinador montar uma equipe competitiva, capaz de alcançar o objetivo da inédita classificação para as oitavas de final.