Alemanha: excesso de lesões não a impede de ser candidata ao título

Lesões, clima e desconfiança gerada nos últimos amistosos não abalarão os comandados de Joachim Löw na busca pela quarta estrela

Alemanha: excesso de lesões não a impede de ser candidata ao título
brunosecco
Por Bruno Secco

Mais uma vez a Alemanha vai para uma Copa do Mundo com problemas no plantel. O problema que afeta o plantel de Joachim Löw é o mesmo de 2010: as lesões. No último Mundial, realizado na África do Sul, Michael Ballack e Simon Rolfes acabaram sendo cortados da lista final pelo mesmo problema, que eram lesões no joelho. Hoje, a situação é ainda pior: nomes que vinham em uma crescente na Nationalelf e que se machucaram faltando poucos meses para a Copa acabaram ficando de fora e, desta vez, não foram apenas dois.

Holger Badstuber, Mario Gómez, Ilkay Gündogan, Lars Bender e, recentemente, Marcel Schmelzer. Todos estes cinco, que tinham grandes chances de integrarem o time principal da seleção alemã, tiveram o sonho de disputar uma Copa do Mundo (ou mais uma, no caso de Gómez e Badstuber) despedaçado. Além deles, Marco Reus sofreu uma lesão no amistoso contra a Armênia e também é desfalque.

O caso de Badstuber é de longa data. O defensor do Bayern de Munique se lesionou ainda em dezembro de 2012, em partida contra o Borussia Dortmund e, desde então, não tem pisado nos gramados. O zagueiro bávaro completou, neste mês de junho, 18 meses longe do futebol.

Existiu a possibilidade de Badstuber retornar aos gramados entre as temporadas 2012/2013 e 2013/2014, porém, sua lesão (no joelho direito) se agravou e, desde então, ele tem feito tratamento intenso para voltar a atuar pelo Bayern. Curiosamente, Badstuber se lesionou em uma dividida com Mario Götze, hoje seu companheiro de Bayern.

Mario Gómez, por sua vez, teve uma série de problemas assim que saiu do Bayern para a Fiorentina. Suas lesões - todas no joelho - o tornaram membro honorário do departamento médico da Viola. Gómez esteve tanto tempo lesionado que, na última temporada, atuou em apenas nove jogos pelo Campeonato Italiano.

Em entrevista ao Bild, concedida em maio deste ano, Gómez garantiu que estaria bem para a Copa do Mundo. "Eu vou estar de volta e estarei mais forte do que nunca. A Copa do Mundo é o meu grande objetivo. Estou fazendo tudo o possível para estar lá. Eu quero estar lá para ajudar minha equipe. Eu não posso me contentar em ficar em casa e assistir aos jogos pela televisão", disse. O atacante, inclusive, segue em estágio final de recuperação, mas Joachim Löw preferiu não investir no destaque da Alemanha na Eurocopa de 2012.

O caso de Ilkay Gündogan pode ser comparado ao de Badstuber, no quesito tempo fora dos gramados. O volante está fora de combate desde agosto de 2013. Sua última partida foi no dia 14 daquele mês, quando enfrentou, justamente com o time de Joachim Löw, os selecionados do Paraguai. Na ocasião, a Alemanha jogou em casa e empatou por 3 a 3 contra o adversário sul-americano e Gündogan saiu de campo aos 27 minutos do 1º tempo, lesionado em terminais nervosos da coluna cervical.

Em meados de abril, Gündogan era cogitado como possível reforço para o Dortmund no final da temporada e também, por consequência, da Alemanha de Löw. Porém, Klopp foi à público acabar com os boatos e, ainda por cima, garanti-lo fora da Copa. “Ilkay não jogará a Copa do Mundo. É muito difícil para ele lidar com isso. Sua presença seria ótima, tudo de bom, mas é preciso tempo para ele se recuperar completamente. Nós apenas temos que esperar”, disse, em coletiva de imprensa.

A recuperação, inicialmente, era prevista para algumas semanas, porém, o progresso foi muito lento e o volante teve diversos problemas neste período, que o fez perder toda a temporada até então e o deixará fora da Copa. O Borussia Dortmund e também a seleção alemã deverão voltar a contar com o jogador apenas na pré-temporada.

Lars Bender não foi alvo de lesões no joelho, mas um estiramento sofrido na coxa direita enquanto treinava pelo Bayer Leverkusen e foi cortado da Copa do Mundo. Rudi Völler, diretor executivo do Leverkusen, lamentou a ausência de Bender no Mundial: "É um duro golpe para Lars [Bender], me sinto triste por ele. Mas tenho certeza que ele irá jogar uma ou duas Copas pela Alemanha no futuro. Quando ele se recuperar, continuará sendo um dos jogadores-chave do Bayer Leverkusen" afirmou, confiante em uma rápida recuperação do volante.

Löw também fez questão de comentar a baixa, elogiando Bender e, ao mesmo tempo, lamentando a perda. "É decepcionante para todos quando um jogador importante se lesiona dias antes de um Mundial. Sinto muito por Bender e sei que ele queria vir ao Brasil. Ele é um exemplo dentro e fora de campo" disse, em coletiva. Bender é outro que deverá retornar aos gramados apenas no início da próxima temporada, pouco mais de um mês após a Copa do Mundo de 2014.

Talvez a decepção maior dos cinco que ficaram de fora seja de Marcel Schmelzer, lateral esquerdo do Borussia Dortmund. Já pré-convocado por Joachim Löw, o lateral esquerdo do Borussia Dortmund, após lesão no joelho, não conseguiu chegar perto dos 90% fisicamente - exigência de Löw - e, recentemente, foi cortado pelo comandante da Mannschaft. Para seu lugar, foi chamado o jovem Erik Durm, de 22 anos e que também atua no Borussia Dortmund.

Faltou pouco para que o número não aumentasse

São cinco jogadores que ficaram de fora, mas a conta poderia ser ainda maior. Outros selecionados de Löw passaram muito perto de perderem a Copa do Mundo, novamente por conta de lesões. Nomes como Manuel Neuer, Bastian Schweinsteiger, Sami Khedira, Per Mertesacker e até o do capitão Philipp Lahm foram cogitados a perderem o Mundial.

Destes cinco que quase ficaram de fora, Khedira pode ter sua situação considerada como "mais tranquila", embora tenha passado por um susto e tanto. O volante do Real Madrid sofreu uma lesão no joelho direito, em amistoso da Nationalelf contra a Itália e, desde então, passou a ser considerado por muitos como desfalque para o Mundial do Brasil.

Mostrando uma ótima evolução no decorrer dos meses, juntamente com o departamento médico do Madrid, Khedira conseguiu reverter a lesão e, contrariando previsões, voltou a atuar pelo seu clube ainda na última temporada, tendo começado inclusive como titular na final da Champions League, onde seu time enfrentou o Atlético de Madrid e conseguiu, depois de 12 anos, conquistar a tão sonhada "La Décima".

Neuer, Schweinsteiger e Lahm tiveram suas lesões recentemente. Schweinsteiger, para falar a verdade, teve uma temporada recheada de lesões, que acabaram atrapalhando seu desempenho pelo Bayern de Munique no decorrer da mesma. Os problemas no tornozelo de Schweini o fizeram perder momentos importantes do Bayern nesta temporada de 2012/2013, como o Mundial de Clubes, onde o Gigante da Baviera se sagrou campeão ao vencer o Raja Casablanca na grande final por 2 a 0.

Contra o Stuttgart, já no final da Bundesliga - vencida pelo Bayern com sete rodadas de antecedência -, Schweinsteiger retornava aos gramados, mas acabou saindo dele antes do apito final. Saiu da Allianz Arena com uma lesão no joelho e, desde aquele 11 de maio, a mesma vem o incomodando, fazendo-o, inclusive, perder a final da DFB-Pokal, contra o Borussia Dortmund - onde o Bayern também venceu, por 2 a 0.

Neuer, praticamente intocável no elenco do Bayern, também foi vítima de lesão recentemente. O goleiro do Bayern e da seleção alemã machucou o ombro na final da Pokal contra o Dortmund e vem trabalhando pesado com o Dr. Müller-Wohlfahrt, tentando estar 100% para o Mundial.

Nos amistosos que a seleção alemã disputou recentemente - contra Camarões, empatado em 2 a 2, e contra a Armênia, vencido por 6 a 1 - o dono das metas alemãs foi o goleiro aurinegro Roman Weidenfeller.

Lahm, assim como Neuer, também se machucou contra o Borussia Dortmund. O hoje volante do Bayern sofreu ainda no primeiro tempo uma pancada no tornozelo esquerdo e, desde 17 de maio, vem fazendo tratamento intenso para poder disputar a Copa do Mundo.

O capitão da Nationalelf foi dispensado por Löw - junto com Neuer e Schweinsteiger - para tratar de sua lesão em Munique, enquanto a equipe seguiu para Mönchengladbach para disputar amistoso contra Camarões.

Lahm está praticamente 100% e dificilmente será problema para Löw. O capitão da Alemanha deverá estar entre os onze iniciais de seu time na primeira partida germânica em terras tupiniquins, contra a seleção de Portugal.

Susto de Marco Reus às vésperas da Copa

No último amistoso da seleção alemã antes da Copa do Mundo, contra a Armênia, Marco Reus foi para uma dividida com um jogador da seleção adversária e acabou levando a pior. Saiu de campo mancando e reclamando de muitas dores. O jogador foi encaminhado para o hospital mais próximo das imediações da Coface Arena e, pela noite, foi constatada uma ruptura dos ligamentos do joelho. A Federação Alemã de Futebol (DFB) confirmou, horas depois, o corte do jogador, que disputaria seu primeiro Mundial.

Com o desfalque de Reus, o meio de campo da Alemanha deverá ser formado por Podolski - que teve uma bela atuação contra a Armênia, marcando um gol e distribuindo três assistências -, Özil, que, mesmo não estando em boa fase, continua sendo o principal articulador alemão, e Müller, na ponta direita, caso não seja usado como falso nove por Joachim Löw.

Klose vem para a Copa com a missão de quebrar recorde de Ronaldo

O artilheiro polonês naturalizado alemão Miroslav Klose, de 35 anos, vem para sua última Copa do Mundo com a missão de quebrar de vez o recorde de Ronaldo Fenômeno, que é o de maior artilheiro de todos os Mundiais.

Atualmente, o autor dos dois gols do pentacampeonato brasileiro tem 15 tentos anotados, enquanto Klose tem 14. O veterano terá sua missão facilitada, afinal, além de ter mais três jogos (no mínimo) para tentar marcar dois gols, também acabou sendo o único avançado a ser convocado por Löw.

Mario Gómez, que seria o provável 'adversário' de Klose pela posição, não foi chamado para integrar os 23 do técnico alemão, pelo excesso de lesões que sofreu na Fiorentina e também pela total falta de ritmo que se encontra às vésperas do certame.

Zaga continua sendo dor de cabeça de Löw

O comandante da seleção alemã ainda não conseguiu encontrar um antídoto para acabar de vez com seus problemas na zaga. Com Hummels mostrando certa irregularidade e também com a lesão recente de Höwedes, a dupla de zagueiros que Löw tem apostado é Boateng e Mertesacker.

Diferentemente do que muitos pensam, ambos, muito cornetados no passado, têm realizado temporadas excelentes em seus respectivos clubes (Bayern e Arsenal) e despontam como candidatos a uma posição no time de Löw - ou até os dois podem ser titulares, caso o comandante alemão resolva improvisar Boateng em alguma das laterais, levando em conta a baixa de Schmelzer.

Caso Löw queira investir em ambos, o provável quarteto defensivo da seleção alemã será formado por Lahm, Hummels, Mertesacker e Boateng, este último ocupando a vaga deixada pelo lateral esquerdo do Borussia Dortmund.

Promessas acabaram ficando de fora

Em 2006, a seleção alemã foi para a Copa do Mundo, em casa, recheada de promessas. Nomes como Schweinsteiger, Lahm, Jansen e Podolski começavam a despontar no futebol internacional naquela época. As apostas de Jürgen Klinsmann deram certo, e os donos da casa terminaram em 3º lugar, perdendo a semifinal para a Itália apenas no segundo tempo da prorrogação, onde a experiência acabou pesando.

Agora, oito anos depois, promessas que começaram a despontar nos últimos campeonatos nacionais acabaram não recebendo oportunidade de integrar o time de Löw. Kevin Volland, do Hoffenheim, Pierre-Michel Lasogga, do Hamburgo, e Shkordran Mustafi, da Sampdoria, acabaram ficando de fora da Copa no Brasil.

Claro que nem tudo está perdido. Como dissemos acima, Reus rompeu seus ligamentos e muito provavelmente não irá se recuperar a tempo de jogar a Copa. Quem garante que um destes dois jovens não pode receber uma chance do chefe? A sorte está lançada.

Großkreutz pode cair como uma luva no decorrer da Copa

Kevin Großkreutz, 'teórico' defensor do Borussia Dortmund, já atuou em todas as posições possíveis no futebol - até de goleiro ele já jogou. E não foi mal em nenhuma delas. Caso apareça um buraco no time de Löw durante a Copa, o zagueiro aurinegro poderá aparecer como uma solução.

Por ser o coringa da equipe alemã, Großkreutz também tem grandes chances de garantir a posição deixada por Schmelzer na equipe principal. Basta Löw colocar Lahm na lateral esquerda - onde ele não gosta de jogar mas sempre executa um excelente trabalho - e deixar o coringa aurinegro no flanco direito, onde jogou no BVB boa parte da temporada e foi bem.

Em plena forma física, Kießling deixou de ser lembrado

Este talvez seja um dos jogadores mais injustiçados da seleção alemã. Stefan Kießling, atacante do Bayer Leverkusen, sequer foi relacionado por Löw na lista dos sete que foram cortados do Mundial. Muito bem fisicamente, o avançado poderia ser utilizado como um possível substituto de Klose lá na frente, caso ele canse durante determinada partida - afinal, ele não é mais nenhum jovem.

Porém, Löw resolveu investir em meias - trará, ao todo, 12 jogadores que atuam nesta posição do campo. A Alemanha é a seleção que mais levará meias para o Mundial de 2014. Klose cansou? Que a tática mude e que um falso nove entre em campo, seja Müller ou Götze, já testados na posição por Pep Guardiola, no Bayern de Munique.

A única Copa do Mundo disputada por Kießling foi a de 2010, na África do Sul, onde foi pouquíssimo aproveitado, tendo sido ofuscado por Mario Gómez - que na época vivia boa fase no Bayern. Aos 30 anos, o avançado poderá ter uma última chance em 2018, na Copa da Rússia. Isso se o treinador da Mannschaft não for Löw, que tudo indica que não gosta muito do futebol do jogador dos aspirinas.

De 2010 para cá, a Alemanha mudou e não deve ter vida fácil na Copa

Passaram-se quase quatro anos desde o terceiro lugar na África do Sul e a seleção alemã teve mudanças consideráveis no seu elenco e também na sua postura dentro de campo. Poucos jogadores foram testados por Löw neste meio tempo e os raros que conseguiram mostrar bom futebol, hoje são intocáveis - caso de Götze, por exemplo.

A Copa tem tudo para ser sofrida para a Alemanha. A começar pelo clima. Não é fácil uma seleção, acostumada com o frio e que já se sente desconfortável com temperaturas que beiram os 25ºC, jogar no calor do Nordeste brasileiro. Os três jogos serão lá. O tempo para a aclimatação não será muito longo, apenas de uma semana.

Os adversários na fase de grupos não serão fáceis. Os alemães terão pela frente Estados Unidos, que vêm em uma constante crescente, Gana, que a cada Mundial tem se mostrado ainda mais valente, e Portugal, que conta com o craque e melhor do mundo: Cristiano Ronaldo.

As lesões também são outro empecilho, outra pedra no sapato de Löw e de sua seleção. A ruptura dos ligamentos de Reus abalou o técnico e também o elenco, que viajam para o Brasil no domingo (8). O ponta do Dortmund é o jogador alemão que estava em melhor fase, tendo sido, inclusive, o melhor atleta da última Bundesliga, desequilibrando jogos e tendo marcado gols importantíssimos para seu time.

Desconfiança, lesões e clima podem ser mais adversários que a seleção alemã terá de enfrentar durante a Copa do Mundo. Mas, mesmo assim, ela ainda não deixa de ser favorita ao título. Pela excelente campanha, pela história em Copas, pela tradição, grandes nomes do passado e o peso da camisa, a Nationalmannschaft, mesmo com as adversidades, vem ao Brasil com um único e exclusivo objetivo: voltar para casa com a quarta estrela no peito.