Abismo estrutural: Presidente da Federação, Noveletto cancela início da divisão de acesso gaúcha

Panorama dos clubes gaúchos, e de tantas partes do Brasil, é preocupante e abre espaço para debate sobre o tema

Abismo estrutural: Presidente da Federação, Noveletto cancela início da divisão de acesso gaúcha
Estádio Edmundo Feix, do Guarani de Venâncio Aires, participante atual da divisão de acesso do Rio Grande do Sul (Foto: Henrique König / VAVEL Brasil)
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Por Henrique König

O abismo estrutural é uma expressão que bem designa o momento atual do futebol gaúcho e de tantos outros estados pelo vasto Brasil. A modernização das arenas, recentemente, acentuou a disparidade, a desigualdade entre as maiores agremiações e as outras centenas que sobrevivem à margem das transações milionárias e dos padrões visualizados entre os colossais da Europa.

No Rio Grande do Sul, a Arena e o Beira-Rio despontam na capital Porto Alegre. São estádios ditos de primeiro mundo, de última geração, mas a realidade das demais canchas pelo estado é extremamente preocupante. Por conta disso, com o vencimento do prazo de entrega dos laudos dos estádios e com nenhuma manifestação positiva por parte dos clubes, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Noveletto cancela o início de duas competições: a Divisão de Acesso, que dá vaga à primeira divisão gaúcha, e a Segunda Divisão.

"Estamos suspendendo o início dela. No momento que tiverem todos os laudos das 16 equipes (da divisão de acesso), a gente volta a marcar uma data para iniciar", declarou Noveletto à Rádio Gaúcha. O começo da divisão de acesso estava previsto para o dia 6 de março. Já a segunda divisão era prevista ao mês de abril.

A polêmica decisão destaca alguns parenteses a serem abertos. Noveletto, ao mesmo tempo, afirma ser culpa dos clubes, mas considera a exigência dos bombeiros severa demais. Requisitos recentes são as barras antiesmagamento, como sugeridas no estádio Cristo Rei, em São Leopoldo, que foi liberado parcialmente para Aimoré e Internacional, partida da primeira divisão.

Estádio Bento Freitas, do Brasil de Pelotas, está em capacidade reduzida em função de obras. Parte da arquibancada cedeu em jogo contra o Flamengo, pela Copa do Brasil 2015 e, hoje, o clube busca a modernização da casa.
(Foto: Henrique König / VAVEL Brasil)

Se clubes da elite, como Aimoré e Brasil de Pelotas, que passa por obras no estádio Bento Freitas, já apresentam dificuldades, o panorama financeiro e estrutural dos clubes das divisões abaixo são ainda mais preocupantes. Ao voltar à primeira divisão, um grande desafio ao São Paulo de Rio Grande foi reestruturar o Aldo Dapuzzo. Precisou contar com diversas colaborações em campanhas de material junto aos torcedores e empresas locais.

Ainda na zona sul do estado, outros casos merecem ser destacados. O Grêmio Atlético Farroupilha, de Pelotas, realizou campanha semelhante para adquirir materiais de construção para reformas em vestiário e passou boa parte de 2015 sem contar com o estádio Nicolau Fico, vivendo de empréstimos da Boca do Lobo, do Esporte Clube Pelotas. Quando houve a volta à casa, foi em liberações parciais, limitando capacidade e participação do público.

Estádio do Farroupilha possui grande parte das arquibancadas vetadas para uso
(Foto: Henrique König / VAVEL Brasil)

O futebol do interior brasileiro sobrevive em condições precárias. O repasse das federações é pouco para o mantimento dos clubes, o produto dos campeonatos tem sido de pouco atrativo, seja pela baixa flexibilização de horários ou pela concorrência de outras atrações da sociedade atual. Os próprios torneios estrangeiros televisionados roubam espectadores que poderiam estar na construção de uma representação mais forte de seu bairro ou de sua cidade.

"O repasse das federações é pouco."

O debate hoje paira sobre os pontos da flexibilização da liberação das estruturas dos clubes. Eles deveriam condizer com a realidade de investimentos possível e, ao mesmo tempo, obedecer às normas de segurança avaliadas pelos serviços públicos, do policiamento e dos bombeiros. Somente o alinhamento desse bom senso tornará possível a sequencialidade das disputas. Por ora, Divisão de Acesso e Segunda Divisão Gaúcha estão adiadas.

O futebol precisa se reinventar, pois as portas dos clubes rangem por fechar.