Identidade vencedora que garante Corinthians novamente como melhor time do Brasil

Poucos técnicos, estrutura defensiva sólida, organização e superação; a forma de jogar que levou o Timão a mais um título brasileiro

Identidade vencedora que garante Corinthians novamente como melhor time do Brasil
Foto: Rodrigo Rodrigues/VAVEL Brasil
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Por Diego Luz

Organizado e letal. São duas possíveis e ótimas palavras para definir o novo campeão brasileiro de futebol. O Corinthians, longe de ser o maior favorito, seguiu o roteiro clássico que adotou desde seu rebaixamento para novamente mostrar que a organização, a calma, a força defensiva, tudo isso aliado ao apoio da Fiel, fazem da equipe a maior vencedora dos pontos corridos.

Não é o time mais caro. Não é o time com mais medalhões, mas a entrega, a disposição tática e a inteligência do elenco limitado corinthiano fez a diferença na caminhada de 38 rodadas neste Brasileirão 2017. A equipe será o campeão com mais tempo na liderança.

E todo esse sucesso dentro das quatro linhas não surgiu do acaso. A equipe se reestruturou depois do vexatório rebaixamento, em 2007, para criar uma identidade e uma forma de jogar que já tem quase dez anos de uso. O curioso é notar os poucos treinadores trocados nesse tempo e que alguns deles foram demitidos exatamente por quebrar essa estrutura da equipe.

A revolução Mano Menezes

A terra arrasada deixada pelo rebaixamento em 2007 era o cenário perfeito para uma reconstrução quase do zero. Muitos jogadores da péssima campanha foram embora e outros tantos, alguns de qualidade discutíveis, chegaram.

A campanha na Série B formou um time sólido, com pegada defensiva interessante, mas a força foi além do baixo nível da competição. Naquele ano, o Timão foi vice da Copa do Brasil apresentando solidez tática e intensidade que já se mostrava identidade da equipe.

Mano seguiu mostrando que era um bom técnico. Em 2009 recebeu Ronaldo Fenômeno e a missão de acabar com dúvidas daquilo que a equipe poderia fazer contra os grandes do país. No entanto, a equipe ainda melhorou e os títulos de Paulistão e Copa do Brasil consagraram o novo esquema de jogo do Corinthians. 

O centenário da equipe teve Mano como comandante. A equipe tinha a mesma base, mas o ano não foi vitorioso. O Timão competiu e seguiu extremamente forte, liderando o Brasileiro, quando o treinador foi chamado para ser técnico da Seleção Brasileira.

Era Tite I

Sem Mano e com um fiasco passageiro de Adilson Batista, o Corinthians repatriou Tite, com quem já teve passagem interessante em 2004/2005.

O Corinthians estava em crise, mas ainda na briga pelo título em 2010 e Adenor chegava com a tradicional calma e a alcunha de retranqueiro. O comandante fez o simples, herdou a formação tática de Mano Menezes, brigou até o fim, mas perdeu o título na última rodada, mesmo invicto nas últimas sete rodadas.

O começo de 2011 mudaria tudo. Na pré-Libertadores e sem tempo para preparação, o Timão enfrentaria o Tolima. A história já é bem batida, mas Tite balançou forte, seguindo no comando graças ao presidente Andrés Sanchez, bancando o técnico.

Dali em diante, tudo é história. Tite perdeu medalhões do quilate de Ronaldo e Roberto Carlos, e começou a era mais vitoriosa do Corinthians. Sem estrelas, sem craques, mas com a mesma intensidade, força tática e frieza vistos de anos atrás.

O Timão foi frio, calculista, constante para brigar com o Vasco até o minuto final do Brasileiro 2011. O penta coroou a nova velha filosofia corinthiana, com entrega e inteligência em campo.

Já em 2012, o time seguiu o mesmo roteiro. Poucas mudanças, um meio de campo sólido, uma defesa com boa saída de jogo, laterais firmes na defesa e um centroavante inteligente. A campanha invicta da Libertadores mostrou a força da equipe como coletivo, com vitórias emblemáticas e apenas quatro gols tomados em toda a campanha.

No Mundial, a consagração do sucesso da filosofia. Já com algumas mudanças, mas sem perder o DNA, o Timão bateu o Chelsea sem dar dúvidas e conquistou o mundo pela segunda vez. Tite se tornava o maior técnico da história alvinegra, mas com dedo de Mano Menezes, que iniciou a nova cara corinthiana.

A temporada da renovação

Após um 2013 melancólico (com eliminação absurda da Libertadores e vários empates no Brasileiro), Tite sentiu que sua hora no Corinthians tinha acabado. O treinador tirou o ano de 2014 para aprender, viajar e se especializar.

Coube então a Mano Menezes a nova reestruturação corinthiana. Ninguém melhor do que o treinador que iniciou a nova filosofia para reiniciar e limpar o elenco alvinegro, dito por muitos como acomodado e sem ambição após vencer tudo anos atrás.

Mano, então, limpou o elenco sem o menor pudor. Paulo André, Alessandro, Alexandre Pato, Emerson Sheik e outros nomes deram adeus e o novo velho treinador trouxe alguns nomes. Além disso, o Corinthians passou a jogar com um novo sistema de jogo, utilizando nomes como Gil, Renato Augusto e Guerrero. O camisa 9 se tornou indispensável e um dos melhores da equipe na temporada. 

A mediana, mas muito forte taticamente, equipe do Corinthians beliscou uma vaga na Libertadores no ano em que sua arena foi inaugurada. Mas Mano não seguiria para 2015, já que a eleição alvinegra mostrava mudanças e a sombra de Tite aparecia.

O novo Tite

Depois de muita briga, o Corinthians venceu concorrentes e trazia Tite novamente. Agora sem algumas das peças que lhe rendeu títulos internacionais e com uma nova casa, cabia ao treinador a pressão de mostrar aquilo que aprendeu no Europa.

Rapidamente, o Corinthians uniu a tradicional força defensiva com uma ofensividade poucas vezes vistas. No 4-1-4-1, o Timão dominou o país e mostrou um futebol envolvente, bonito, vistoso e que agradava demais aos amantes do futebol.

Com velocidade, trocas de posição, mas sem perder a força defensiva, o Timão não só conquistou o hexa como fez a melhor campanha da história dos pontos corridos, dominando todas as estatísticas, desde melhor ataque ao melhor visitante. 

A campanha em 2015 alçou Tite ao posto de treinador da Seleção Brasileira no meio de 2016, quando novamente reestruturava o Corinthians após desmanche sofrido no começo do ano.

O pupilo Carille

Muita entrega e organização na defesa. Essa foi a promessa tantas vezes repetida por Fabio Carille, o eterno auxiliar corinthiano que foi efetivado após algumas negociações frustradas e técnicos que quebraram o DNA do Corinthians.

O jovem comandante era a esperança de um Timão renovado, mas poucos reforços, sem dinheiro e sem expectativa, o torcedor quase não sabia o que esperar, mas o alvinegro voltou a ter o estilo tradicional.

Muito forte na defesa, um ataque letal que aproveitava a chance e a conquista improvável do Paulistão. Ainda assim, poucos imaginavam um primeiro turno invicto e quase perfeito no Brasileirão, vencendo nomes pesados e elencos mais caros.

O resultado de sua promessa tanta vez falada: o hepta, a conquista impressionante do Corinthians. O pupilo, estagiário e auxiliar da fase mais vitoriosa ficou quieto, trabalhou e hoje se coloca como um dos grandes nomes no comando de um time de futebol no Brasil.