Bulgária: Ludogorets agora é hexa

Na primeira semana de maio, na casa do Lokomotiv Plovdiv, após vitória por 3 a 0, o Ludogorets Razgrad sagrou-se campeão nacional, com cinco rodadas ainda por fazer. O desfecho do campeonato é o mesmo desde 2012. Já são seis títulos consecutivos, a segunda maior sequência da história do Búlgaro – a primeira é a do CSKA, ênea entre 1954 e 1962. Pela facilidade com que os alviverdes dominam a tabela, esse recorde pode ser pulverizado nos próximos anos. A não ser que os gigantes de Sofia acordem.

A edição 2016/2017 da Primeira Liga teve 14 times, contra 12 da anterior. Esse incremento, somado a regras financeiras mais rígidas para obter a licença de participação, resgatou o outrora endividado CSKA Sofia, que disputara, e vencera, a terceira divisão em 2015/2016. O Neftochimic e o Vereya, 12º e 8º na segunda divisão passada, também não esperavam alinhar na elite neste ano. O certame teve duas fases: a primeira em dois turnos, com 26 rodadas; a outra, um hexagonal, também em dois turnos.

O Ludogorets assumiu a liderança apenas na 13ª jornada e não saiu mais. Com apenas uma derrota na fase regular, foi para o hexagonal com larga vantagem de 16 pontos sobre o Levski. Precisou então de breves cinco partidas para confirmar o título, o terceiro sob o comando de Georgi Dermendzhiev. No elenco, o número de atletas brasileiros (9) rivaliza com o de búlgaros (14) – e um destes é o naturalizado Marcelinho, maior goleador da história do clube. O romeno Claudiu Keșerü é o artilheiro do time e da liga. Os brasileiros Wanderson, ex-Portuguesa, Jonathan Cafu, ex-Ponte Preta, Renan, ex-Botafogo, Natanael, ex-Atlético Paranaense, e Cicinho, ex-Santos, fazem parte da engrenagem principal.

Clubes búlgaros tentam superar crises e recuperar terreno

A história das Águias como protagonista do futebol búlgaro é recente, apesar dos 72 anos de fundação e 16 da refundação. Em 2009, estavam no terceiro nível e, até 2011, jamais superaram as séries de acesso. Tudo muda quando o milionário Kiril Domuschiev olha para Razgrad, município de 30 mil habitantes, e compra o clube em 2010. Os investimentos não demoraram a dar retorno: em sete anos, foram sete campeonatos nacionais, um da segunda divisão e seis da primeira, duas tríplices coroas e duas participações na fase de grupos da Champions League. Juninho Quixadá, hoje na reserva, Marcelinho, Minev e Dyakov fizeram parte de todos os elencos do hexacampeonato. O próximo objetivo de Domuschiev é ampliar em 50% o acanhado estádio, que passará a ter 12 mil lugares.

Na última década, enquanto o bem administrado Ludogorets consolidava sua hegemonia e pujava seus cofres com prêmios e bônus da UEFA, alguns dos grandes clubes do país naufragavam em débitos. O CSKA, maior vencedor, com 31 troféus, e em jejum desde 2008, foi rebaixado da primeira para a terceira divisão há dois anos. Hoje, com novos donos, entre eles o lendário Hristo Stoichkov, tenta se reerguer. O Litex Lovech, vencedor em 2010 e 2011, seguiu o mesmo caminho e, agora, está próximo de ascender para o segundo nível. Já o Lokomotiv Sofia fechou suas portas em 2015 – um clube homônimo foi fundado por ex-jogadores para amenizar essa perda.

Levski e Slavia, sem conquistas desde 2009 e 1996, respectivamente, saíram ilesos de tal turbulência, mas não mostram forças para enquadrar as Águias. O futuro do Levski é promissor: seu novo sócio majoritário, Spas Rusev, promete altos investimentos. Já o Slavia, o mais antigo clube esportivo em atividade na Bulgária, corre risco de queda – disputará nas próximas semanas o quadrangular da morte. O arrocho financeiro pode salvar o futebol búlgaro e ressuscitar o interesse por ele, tanto nos estádios quanto em frente à TV.