Neymar não é vilão por sair da zona de conforto

Maior transferência da história do futebol, Neymar terá novos desafios na capital francesa; A busca pelo protagonismo é um grande passo rumo à desejada Bola de Ouro

Neymar não é vilão por sair da zona de conforto
marcelloneves
Por Marcello Neves

Maior transferência da história do futebol. Neymar foi apresentado nesta sexta-feira (4) como novo reforço do Paris Saint-Germain, dando fim à novela que tomou conta do noticiário nos últimos meses. Cerca de 222 milhões de euros pagos ao Barcelona para definir sua saída. Viverá o maior desafio de sua carreira na capital francesa e cria o debate sobre sua decisão: acerto ou erro?

A discussão ganha contorno com a mudança de cenário – e talvez esse seja o principal fator que desencadeou a transferência. O Neymar que entrou em 2012 não é o mesmo Neymar que sai em 2017. E a repercussão midiática mostra o óbvio: Neymar tem o tamanho de Messi, tem o tamanho de Cristiano Ronaldo. E agora decide escrever individualmente sua história para buscar a grandeza dos dois.

E o que há de errado nisso? Acima do projeto profissional, Neymar opta por seguir seu desejo pessoal – ser protagonista e buscar o prêmio de melhor do mundo. Dinheiro foi fator determinante? Também, claro, mas ninguém larga um clube como o Barcelona e companheiros como Messi e Suárez se não quiser viver um novo desafio. Neymar saiu da zona de conforto. Ele quer mais.

Os argumentos são plausíveis de ambos os lados. Quem apoia sua decisão, diz que ele será protagonista único em Paris. Quem é contra, diz que perdeu a chance de jogar ao lado de Messi, companheiro que poderia ajudá-lo a chegar ao topo. A questão é que a decisão final coube a Neymar. Ele quis, foi um desejo do mesmo. Você pode não concordar, mas não dá para condená-lo.

A dor do torcedor do Barcelona é legítima, mas Neymar não é um vilão. O torcedor pode não concordar com as atitudes tomadas pelo craque - desde o silêncio até as polêmicas recentes - mas não pode dizer que houve desrespeito de sua parte. Até na carta de despedida, onde cita a Catalunha três vezes e nenhuma a Espanha, demonstra respeito pela instituição. Não é errado querer buscar novos objetivos.

É a dor do torcedor que se sentiu trocado. "Como alguém pode não querer ficar no melhor clube do mundo que é o meu?" Esquece-se porém que nem todos pensam assim. Os blaugranas não odeiam Neymar, apenas estão com raiva dele. Ele não é como Figo. Ronaldo Fenômeno estava entrando no auge quando deixou o clube após a Inter de Milão pagar sua multa. É o cenário que mais se aproxima.

A escolha é questionável, mas não condenável. Neymar cria um novo desafio em Paris. E tem tudo para conquistá-lo. Trata-se do projeto mais ambicioso da carreira do craque, mais até que a saída do Santos para o Barcelona. E sabemos que ele tem futebol para desenvolvê-la com sucesso. O primeiro grande passo para a Bola de Ouro foi dado.

Comentários:

- O burburinho não explícito em Madri é que, dependendo do andar da carruagem, Neymar pode estar no Real Madrid em quatro, cinco anos. Caso aconteça, aí sim as comparações com Figo serão aceitáveis.

- Barcelona precisava urgentemente de um meia para ser armador, coisa que Iniesta e Rakitic não conseguiram ser na temporada passada. Agora, precisa também de outro atacante. Meu palpite: Coutinho e Mbappé, mesmo não julgando ideal para o esquema tático do clube. Como Verratti é impossível, iria de Eriksen e Dybala.

- A mudança tática de Neymar no PSG não interfere tanto na Seleção Brasileira. A única preocupação de Tite será com a cabeça de Neymar. Será o rei de Paris, mas quando tentou ser o rei da Seleção Brasileira, viveu sua pior fase. Seu melhor período foi quando dividiu a responsabilidade com os companheiros, assim como era no Barcelona.