O 2016 do Botafogo começou sem grandes planejamentos, com corte na folha salarial, um elenco sem nomes de peso e que dificilmente conseguiria algo no Campeonato, terminou um pouco diferente. A desconfiança na transição de técnicos quando o time ainda estava na zona de rebaixamento, deu lugar a um sentimento inesperado, a esperança.

Se fosse possível resumir o ano alvinegro em uma palavra, seria superação. Após uma temporada arrastada na Série B em 2015, o Glorioso conseguiu superar toda desconfiança que rondava General Severiano do início até o meio do ano.

Sem muitas perspectivas no Carioca, conseguiu chegar à final, mas o torcedor botafoguense viu mais uma vez o vice-campeonato diante do Vasco. O começo no Brasileirão veio com certo descrédito. Até setembro quem ousasse pensar em Libertadores seria considerado insano. Em julho, a massa alvinegra comemorava a saída do Z-4, três meses depois a euforia era pela entrada no G-6. Após uma arrancada incrível, passou por cima de todas as especulações – até dos próprios torcedores – e conseguiu a sonhada vaga na Libertadores. Apesar da boa campanha no returno, ainda havia o risco de ficar de fora da competição internacional. A última rodada foi sofrida, mas a vaga estava predestinada.

Melhor momento da temporada

Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo
Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo

A impressionante arrancada nesta temporada, vai entrar para a história do Botafogo. Os primeiros passos ocorreram ainda no primeiro turno, com a ajuda da torcida que empurrou o time nas vitórias diante de Palmeiras e Grêmio. No entanto, a arrancada em si teve início na primeira rodada do returno, um singelo 1 a 0 diante do São Paulo, no Morumbi. Foi o suficiente para embalar um time que não impôs limites onde desejava chegar.

Esse foi o melhor momento do ano, não pelo resultado final, e sim pelo que ele representou. Voltando dois anos atrás e fazendo uma simbólica retrospectiva, o Alvinegro sofreu com uma gestão desastrosa que afundou o clube, venceu a segunda divisão e em 2016 montou o elenco necessário para não cair novamente. Já com uma nova gestão, mostrou que era capaz de se reerguer e superar cada desafio imposto. A Libertadores não foi o foco inicial daquele clube recém-chegado da Série B com um elenco “limitado”. A conquista da vaga foi apenas o arremate que faltava na incrível campanha feita por Jair Ventura.

Pior momento da temporada

O torcedor botafoguense tem cada vez mais certeza que não nasceu para a Copa do Brasil, mas a expectativa é inegável. Nem o mais pessimista torcedor botafoguense esperava a eliminação da forma que ocorreu. Foi o momento mais complicado do ano alvinegro.

O vexame foi a goleada sofrida na Arena Botafogo diante do Cruzeiro, por 5 a 2. Apesar de começar abrindo o placar, levou uma virada e conseguiu tomar 4 gols só no segundo tempo, com direito a gol contra e falhas defensivas em noite de apagão da zaga formada por Emerson e Renan Fonseca. A partida além de vergonhosa, expôs a fragilidade de um time que, até então, não tinha nenhuma perspectiva no Brasileirão.

A grande mudança de 2015 para 2016

Em 2015, o objetivo era voltar à elite e superar a crise financeira instaurada em General Severiano. Conseguiu em partes, foi campeão da Série B e se arrumou como pôde para disputar a Série A. O intuito era claro: não retornar à segunda divisão.

Mas ainda havia uma nova preocupação, enquanto em 2015 podia contar com o Estádio Nilton Santos, começou 2016 sem rumo em relação a nova casa após ceder o espaço para os Jogos Olímpicos. No Campeonato Carioca e no Brasileirão não tinha um estádio para chamar de casa, pulou de galho em galho, visitou o interior do Rio e até outros estados.

Após altos e baixos, a diretoria queria a torcida perto, nem que fosse por apenas alguns jogos. Diante disso, resolveu acolher o estádio da Portuguesa da Ilha, reformou e transformou na Arena Botafogo. O local foi facilmente abraçado pelos torcedores, que marcaram presença significante em todos os jogos e ajudaram na arrancada do time. Poucas partidas. Lucros sem muita relevância. Contudo, a intensidade dos laços criados por cada torcedor ali foi de extrema importância nessa campanha. Grande jogada de 2016.

Foto: Reprodução/Botafogo
Foto: Reprodução/Botafogo

Quem foi destaque: Sidão

Com o difícil desafio de substituir Jefferson, ídolo da torcida e melhor jogador do elenco, a contratação do novo goleiro foi contestada por muitos, mas se fez necessária. Chegou sob desconfiança e aos poucos foi abraçado pela torcida.

Sendo decisivo na maioria dos lances, o arqueiro fez 35 partidas com a camisa preta e branca, em 15 delas não sofreu gols. Além de fechar o gol, fez defesas milagrosas e protagonizou uma belíssima bicicleta certeira. O goleiro que já negociado com São Paulo para a próxima temporada, sai com a sensação de dever cumprido.

No returno o Botafogo sofreu apenas 9 gols, por isso é inevitável a menção à Joel Carli, grande surpresa e peça-chave no sistema defensivo. O capitão mostrou precisão nos passes e não só desarmou, como marcou gol e arrumou a defesa alvinegra. O estilo combativo lhe rendeu muitos cartões, mas é imprescindível falar sobre a boa fase da defesa sem mencionar o zagueiro.

Quem decepcionou: Salgueiro

O Botafogo trouxe Salgueiro com o objetivo de tornar o jogador craque do elenco. Chegou vestindo a camisa 10 e encantava devido a boa temporada no Olímpia. A intenção era repetir o sucesso do também uruguaio, Loco Abreu, mas a história foi um pouco diferente.

Salgueiro atuou em 29 partidas, marcou apenas um gol, contra o Flamengo, sendo uma das únicas boas atuações que fez. Além de não render, não se encaixou no esquema montado por Jair Ventura. Seu último jogo com a camisa alvinegra foi em setembro.

Os treinadores

Ricardo Gomes

Devido ao bom trabalho na Série B de 2015, teve o contrato renovado. Porém não conseguiu montar um elenco competitivo para a disputa do Brasileirão, apesar do bom rendimento no Carioca.

O desgaste no clube fez Ricardo Gomes mudar constantemente o esquema tático. Antes conseguia se virar com as peças que tinha e apesar de não manter uma força ofensiva, a defesa estava salva. Se queimou tentando encaixar novos jogadores em um esquema falho perdendo todo equilíbrio defensivo.

O treinador deixou o clube após negar uma proposta do Cruzeiro. Poucos meses depois reparou que a zona de rebaixamento não parecia confortável e o salário no São Paulo era mais atraente.

Jair Ventura

Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo
Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo

Se precisássemos responsabilizar apenas uma pessoa pela boa fase vivida, o escolhido seria Jair Ventura. Não à toa, foi eleito o técnico revelação do Campeonato e efetivado no comando da equipe com mais dois anos de contrato. Pela ousadia na escalação, a superação da desconfiança, a união com a equipe e por toda dedicação, a vaga conquistada foi mais que merecida.

Encontrou o time na 17ª colocação e era apenas um substituto, mas acabou dando certo e aos poucos ganhou créditos com a torcida e diretoria. Mesmo quando todos já sonhavam com a Libertadores, o técnico evitava tocar no assunto e focava em cessar as chances de rebaixamento. Foram apenas 5 derrotas em 20 partidas, com aproveitamento de 65% dos pontos disputados.

O que esperar para 2017

O Glorioso ainda não pode contar com uma alta folha salarial e a formação de um elenco renomado. No entanto, promete investir mais em contratações e seguir se reconstruindo para apagar as marcas da má gestão de Maurício Assumpção em 2014. Além das premiações por fase avançada, é possível pensar além, a visibilidade do clube deve atrair novos patrocinadores e reforços. Ainda pensando no lucro, pela primeira vez o clube vai disputar a Libertadores no Estádio Nilton Santos, diante disso é esperada maior adesão do programa de sócio-torcedor.

O Botafogo tem um grave problema a ser resolvido no próximo ano: o baixo rendimento do ataque. Para isso apostou na contratação de Roger, que estava em boa fase na Ponte Preta e fez a melhor temporada da carreira, com 22 gols em 35 jogos. Outro desafio a ser superado é a falta de goleiro. Com a saída de Sidão e a longa recuperação de Jefferson, o time acertou com Gatito Fernández. O Alvinegro ainda segue firme tentando trazer Montillo, que dividiria funções com Camillo e seria a principal peça em 2017.

Jair Ventura já mostrou ser pés no chão e no próximo ano não será diferente. O comandante deve adotar a mesma postura, orientando pensar no momento e não se perder em sonhos muito altos. Sendo assim, o foco será avançar em cada fase na Libertadores e focar na competição. O fortalecimento da equipe é fundamental, por isso a diretoria já vem preparando o planejamento de 2017, principalmente com as negociações já confirmadas de Diogo Barbosa e Sidão e a possível saída de Neilton. A permanência de Victor Luis é um desejo, porém há incerteza. O lateral pertence ao Palmeiras e o clube tenta a negociar a permanência do atleta por conta das poucas opções na lateral-esquerda.

O técnico trabalhou com as categorias de base e certamente vai incorporar atletas na equipe principal, principalmente após o bom rendimento do clube nas competições sub-20. Muitos treinam entre os profissionais e já foram relacionados para algumas partidas. O ideal seria mesclar com as novas contratações e equilibrar a idade do elenco.