Tite elogia segundo tempo do Brasil, mas critica criatividade da equipe: “Está devendo”

Treinador comentou sobre sua queda no gol, pressão em cima de Neymar, sofrimento dos jogos, além de descartar poupar alguém na última rodada

Tite elogia segundo tempo do Brasil, mas critica criatividade da equipe: “Está devendo”
(Foto: Pedro Martins/MoWA Press)
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Por Yann Rodrigues

O Brasil sofreu, penou, mas conseguiu vencer a Costa Rica na manhã desta sexta-feira (22), em São Petersburgo. Philippe Coutinho e Neymar fizeram os gols da vitória brasileira, que encaminhou a classificação para às oitavas de final da Copa do Mundo.

Nenhuma seleção teve vida fácil ainda. Espanha sofreu contra o Irã, Alemanha perdeu para o México, Uruguai penou diante da Arábia Saudita e do Egito, França contra Peru e Austrália. Tite fugiu das comparações e admitiu não ter assistido os outros duelos. 

“Não posso falar dos outros. Não assisti a nenhum jogo e poucos gols eu vi tamanha é a tensão, responsabilidade, alegria de equilibrar tudo. O impacto da necessidade de vencer dá uma dimensão grande. Assisti a muito pouco dos jogos para avaliar. Tem um componente emocional muito forte, concentração, não desesperar, botar volume, volume, volume, avaliar por vezes desgaste do adversário ou não ou queda para ganhar tempo. Volume ou queda para ganhar tempo. Pensei que era 95 e deu 97. Essa capacidade mental que essa competição exige”.

Quanto à etapa final da seleção, o técnico rasgou elogios, não só a seus comandados, mas também ao goleiro adversário, Keylor Navas. Para ele, a entrada de Douglas Costa e Firmino deu opções, e Fagner não comprometeu, apesar do receio. 

"Grande segundo tempo. Deu aula. Três vezes: grande segundo tempo. Conseguiu botar volume, precisão, Navas jogou muito. Primeiro tempo não, início nervoso, errando passe. Segundo tempo retomou, errando passe. "Domina bem pra passar bem, e aí vai poder criar as oportunidades". Douglas tem amplitude na direita e na esquerda, com a entrada do Firmino a gente tem o Fagner construtor e cinco mais enfiados. Outra coisa que eu preparei foi: "Vou ter problema com o Fagner, boto Marquinhos e Fernandinho pra fazer a função. Não precisou". Não imaginava que ia acontecer isso com o Danilo, no último lance do treino".

Uma das emblemáticas cenas da comemoração do primeiro gol brasileiro, foi a queda de Tite. Sim, ele caiu. O gaúcho explicou o que aconteceu e falou que não deu para ir lá confraternizar com os atletas. 

"Me fisgou. Não é contratura. Fisgada também não é. Rompeu a fíbia. Não consigo andar direito na hora da comemoração, estávamos criando volume, toda uma situação. Time focado, criava, oportunidades, tudo que queríamos desde o primeiro tempo. No segundo tava acontecendo não é possível, tudo que a gente está fazendo e não sair gol, o Navas tirando tudo, a gente não acredita! Quando saiu o gol, o Ederson me bateu, aí quando eu vi o Cássio me bateu também, aí ferrou. Eu ia lá comemorar junto, mas não deu".

Neymar tem recebido duras críticas por parte da torcida e o treinador saiu em defesa do craque, considerando injusta toda essa responsabilidade toda somente em cima dele e que tudo depende do coletivo, até o individual. 

"Toda a individualidade aparece se o conjunto estiver forte, é desumano colocar a responsabilidade em um atleta. Eu tenho que assumir a minha responsabilidade, o Sylvinho, o Douglas Costa para a individualidade surgir. O Neymar ficou três meses e meio parado e a partida anterior foi a primeira. Ele é um ser humano, precisa de tempo para retomar o padrão alto. Mas antes de um padrão alto, precisa de um time forte, de não ser dependente“.

(Foto: Pedro Martins/MoWA Press)
(Foto: Pedro Martins/MoWA Press)

A preocupação do técnico brasileiro não é em ser primeiro, mas sim crescer, evoluir. Ainda sim, ele admitiu que falta algo a mais, a precisão, e criticou a criação e construção das jogadas até o atual momento. 

"A busca de ser primeiro não está em pauta. Vejo a equipe consolidar e crescer, vai se construindo ao longo da competição. Eu como técnico tenho que ficar observando para oportunizar a construção dessa equipe. Se fosse uma equipe que nos dois jogos teu goleiro fez duas defesas, tu quer que tenha essa consistência defensiva? Sim. Quer a atuação ofensiva dos dois jogos? Sim. Mas quer a precisão desses dois jogos? Sim! A bola passou no meio das pernas do Navas, então bota aí a precisão. Em termos criativos e de construção, (a Seleção) está devendo. Precisa ser mais equalizado, equilibrado".

Mais polêmicas envolvendo o árbitro de vídeo e o Brasil ocorreram neste jogo, após um pênalti ser marcado e após a visualização do vídeo, ser anulado. Tite não criticou, afirmou não precisar desse tipo de ajuda, mas pediu igualdade para todos nas marcações. 

"Tanto pode dar como pode não dar. Eu, Adenor, não o Tite técnico. Com uma pitada a mais do que o Gabriel, que eu falei que era de interpretação. Se sou eu o árbitro, cal. Se sou eu, não volto. Mas respeito porque é passível de interpretação. Não precisamos de arbitragem para vencer jogo, queremos que seja justa. Tal qual foi olhado agora, que tivesse sido olhado antes. E interpretem da forma que quiserem, mas olhem, sejam iguais para todos. Para mim, Adenor, é pênalti. Aquele do Gabriel eu até não daria. O Brasil não quer auxílio, os atletas e o técnico não querem. Quer ganhar sendo mais competente".

Philippe Coutinho, autor do gol que desafogou 200 milhões de brasileiros, foi pauta, e Adenor citou equipe ao falar do camisa 11, além de elogiar a dupla de zaga brasileira que fez uma partida impecável. 

"Quando você fala de Coutinho, fala de equipe. Quando fala que vem dois caras dar entrevista coletiva, é porque é uma equipe de trabalho. Esse é o desafio do futebol: encontrar individualidades que se potencializem, inclusive Coutinho, Neymar, os dois zagueiros que jogaram muito e outros que surgirem ao longo dos jogos".

Sobre o sofrimento para encontrar o caminho da vitória, o comandante ressaltou que é Copa. Citou com normalidade as vitórias por placares e quer o emocional forte nessa evolução durante a competição. 

"A gente explica que é Copa do Mundo, parceiro. A margem de erro é muito pequena. Ontem, as três equipes favoritas venceram por 1 a 0 em jogos importantes. O que eu trago para o Brasil é essa consolidação e crescimento, a equipe se forma campeã. É confirmar e crescer, mas o grau de dificuldade exige, o aspecto emocional é bastante forte".

Poupar jogadores para o último jogo, diante da Sérvia, não está em pauta. Tite afirma que a necessidade é do jogo, mas em Mundial não se preserva: "A necessidade do Neymar, assim como a do Coutinho, do Douglas Costa, é da circunstância do jogo. Mas não é pra poupar ninguém, na Copa do Mundo não se poupa ninguém", finalizou.