Da inatividade para capitão na Chape e destaque no América-MG: Rafael Lima fala sobre carreira

Jogador ficou quase dois anos sem clube e quase se aposentou, mas oportunidades no futebol catarinense deram-lhe novos rumos; neste sábado, pode ser campeão da Série B com o Coelho

Da inatividade para capitão na Chape e destaque no América-MG: Rafael Lima fala sobre carreira
Rafael Lima é o capitão do América (Foto: Mourão Panda/América-MG)
isabelly-morais
Por Isabelly Morais

Vinte anos após o volante Pintado levantar a taça do América-MG na Série B do Campeonato Brasileiro de 1997, o zagueiro Rafael Lima terá a chance de repetir o feito. Desta vez, caberá ao defensor e capitão do time um momento que poderá se eternizar na história do clube alviverde. Para isso, basta que o Coelho vença o CRB neste sábado (25), às 17h30, ou torça por um tropeço do Internacional.

O ano de 2017 pode terminar de maneira muito especial para Rafael Lima, principalmente pela forma como encerrou a última temporada. Atleta da Chapecoense até o fim de 2016, o defensor não viajou com o grupo rumo à Colômbia por ter perdido espaço ao longo do ano, e, por isso, ficou de fora da tragédia que vitimou quase todo o elenco do Verdão do Oeste. O zagueiro perdeu inúmeros companheiros.

Rafael Lima quase deixou a carreira de jogador de futebol por volta de 2010/2011, quando ficou sem clube. No entanto, encontrou na Chapecoense a oportunidade de retomar sua carreira, trajetória que agora pode ser coroada com um título no América. Em entrevista à VAVEL Brasil, o zagueiro contou sobre sua carreira, a expectativa para este sábado, os bons números de 2017, entre outros assuntos. 

Sem clube, Rafael Lima quase se aposentou 

Se Rafael é capitão de uma das melhores equipes da segunda divisão, há alguns anos a situação para o atleta não era tão boa. De 2010 para 2011, o zagueiro ficou sem clube, momento no qual pensou em seguir outra carreira. No entanto, uma passagem pelo modesto Hercílio Luz, de Santa Catarina, no segundo semestre de 2011, foi antecedente de uma nova oportunidade: a Chapecoense.

O defensor chegou ao Verdão do Oeste em 2012 e por lá ficou até o fim do ano passado. Ao todo, foram 206 jogos pelo time catarinense e cinco gols marcados."Eu passei 1 ano e sete meses desempregado e fui para o Hercílio Luz, que subiu para a primeira divisão do Campeonato Catarinense. Depois fui para a Chapecoense achando que era a última oportunidade da minha carreira, estava na Série C e tinha um ano de contrato", relembrou.

Foto:  Friedemann Vogel/Getty Images

"Conversei com minha esposa e com minha filha que, se não desse certo, faria um curso de educação física para ingressar no futebol em comissões técnicas. Mas a Chapecoense me deu uma oportunidade muito maior que esperava, porque pude fazer mais de 200 jogos com a camisa do clube. Foi uma retomada na minha carreira", afirmou.

Rafael acompanhou a Chape em seus acessos divisão por divisão, sendo, inclusive, capitão da equipe por um tempo. A porta aberta no Verdão concretizou a oportunidade de cravar seu nome na história do clube, no qual ficou de 2012 a 2016. O zagueiro relembrou os profissionais que foram fundamentais para sua retomada há cinco anos.

"Tive dois grandes amigos, que tinha passado por lá [Chapecoense] e me indicaram: Jean Carlos, atacante que ficou muito tempo no time, e Pedro Ayub, um volante. Mas, quem me levou e tirou informações de quem eu era dentro e fora dos campos foi o Cadu Gaúcho, gerente de futebol que infelizmente estava no voo. Ele foi o grande responsável pela minha ida a Chapecó", comentou.

Após temporada instável, zagueiro encontra regularidade no Coelho

No ano passado, Rafael perdeu espaço na Chape, o que se complicou ainda mais por uma lesão sofrida. A instabilidade em 2016 deu lugar à regularidade encontrada no América, tendo ótimos números no time mineiro. Se entrar em campo contra o CRB neste sábado, como deve acontecer, Rafael completará 37 jogos no Brasileirão, tendo se ausentado apenas um duelo, contra o Londrina, na 18ª rodada, por suspensão depois de levar o terceiro cartão amarelo.

"Tive algumas lesões que me atrapalharam no ano passado, e este ano não tive nenhuma lesão. No sábado, faço meu 37º jogo na Série B, porque fiquei de fora apenas de um e por suspensão. Desde que cheguei no América, fui muito bem tratado. Desde minha chegada, ainda no Mineiro, Enderson já tinha me dito que seria um dos responsáveis pela faixa de capitão", pontuou.

Foto: Mourão Panda/América-MG

Taça nas mãos do capitão alviverde?

Experiente, Rafael carrega a braçadeira de capitão do América aos 31 anos e é um dos jogadores mais regulares do elenco. O zagueiro é o atleta com o maior número de atuações pelo Coelho na Série B, além de fortíssimo candidato à seleção do campeonato. "Tive o prazer de ser capitão da maioria das equipes por onde passei. Carrego comigo uma liderança nata, de falar, de passar boas ideias", afirmou.

Com 36 partidas já realizadas na segunda divisão de 2017, Rafael  atuou nos 90 minutos de 35 jogos, sendo substituído em outro e ainda no seu fim. Se atuar contra o CRB, como deve acontecer, terminará a Série B com 37 de 38 partidas na conta - 97% de participação. "Essa incumbência de carregar a faixa é uma responsabilidade extra. Quem carrega a faixa tem que dar exemplo, para que o grupo possa se espelhar no capitão", pontuou.

Rafael Lima (à frente) é o capitão do América (Foito: Mourão Panda/América-MG)

Time menos vazado e duelo com juventude

Considerando as duas principais divisões do Brasileirão, o time que possui melhor marca em termos defensivos é o América. O Coelho sofreu 25 gols em 37 jogos, em estatística que tem um top 3 com Internacional em segundo (26 gols em 37 partidas), além de Corinthians e Paraná em terceiro (27 tentos sofridos em 36 e 37 duelos, respectivamente). 

Esses bons números, para Rafael Lima, são méritos de todo o grupo americano e não especificamente da defesa. "Não tivemos a defesa menos vazada, e sim o time menos vazado, porque a marcação já começa com o Bill, com os homens da frente, e muitas vezes a bola nem chegou na defesa. É bom dar o mérito para todos que se empenharam, que fizeram um campeonato excepcional", disse.

Aos 31 anos, Rafael teve ao seu lado, durante boa parte do Brasileirão, o companheirismo de Messias na zaga do América. Aos 23 anos, o jovem defensor veio da base do Coelho e fez sua melhor temporada da carreira até então, com a titularidade e boas atuações. Promissor, Messias recebeu elogios do capitão americano.

"O Messias é um atleta que nos próximos anos vai estar disputando as grandes ligas do futebol mundial, o espanhol, o inglês, o alemão, pelo nível de jogo e pela cabeça, porque, apesar de garoto, já sabe o que quer para a própria carreira", comentou. Messias fez 31 partidas no Brasileirão deste ano, 30 delas ao lado de Rafael Lima.

Messias foi o grande parceiro de Rafael Lima na zaga do América em 2017 (Foto: Mourão Panda/América-MG)

Semana decisiva para o Coelho

O Coelho já está encerrando a última semana antes do término da Série B e forma com o Internacional a dupla que ainda busca por algo no torneio. Todo o resto já foi decidido, entre rebaixados para a terceira divisão e classificados para a elite do Brasileiro. A única disputa em aberto é pela taça da Série B, que está entre Minas e Rio Grande do Sul.

"Nós já iniciamos a semana com todo o pique, com concentração. O Enderson já teve uma conversa com a gente, passando a importância de eternizarmos nosso nome dentro do clube. Já estamos marcados com o acesso, mas o título eterniza. Assim como os atletas de 97 estão sendo lembrados, talvez daqui a 20 anos se lembrem da gente também. Temos que nos preparar da melhor forma possível, mas respeitando o CRB, que vão dificultar nossa situação", afirmou.

Foto: Mourão Panda/América-MG

Manutenção de Enderson Moreira

No mercado rotativo do futebol brasileiro, completar uma temporada em uma equipe é algo raro. No caso do América, um dos pontos fortes da equipe foi justamente a manutenção do comandante Enderson Moreira, que está no cargo desde meados de 2016. Ele passou a ser o comandante mais longevo dentre as divisões nacionais após a saída de Cláudio Tencati no Londrina. 

+ Fim de uma era: Tencati deixa o Londrina após seis anos

O técnico alviverde chegou, inclusive, a receber proposta da Chapecoense, além de sondagens da Ponte Preta e do Atlético-GO. No entanto, mesmo com esses olhares de clubes da primeira divisão, Enderson preferiu seguir no Coelho, estendendo grande vínculo com o time. Rafael comentou sobre a permanência do treinador, julgando-a como fundamental para o retorno do América à Série A.

"Nós só subimos pela manutenção do Enderson, que conhece profundamente o elenco. Ele foi o responsável, juntamente com a diretoria, da montagem do grupo. Mesmo nos momentos difíceis do ano, foi fundamental a manutenção de toda a comissão técnica para que a gente conseguisse o acesso e esses números expressivos", disse.

Enderson Moreira é o técnico mais longevo das primeiras divisões do Brasileiro (Foto: Mourão Panda/América-MG)