Legado Olímpico: Cidade do México 1968 foi marcada pelo preconceito racial

Pela primeira vez o controle antidoping foi adotado na competição, que viveu grande influência politica, como todo o ano de 1968

Legado Olímpico: Cidade do México 1968 foi marcada pelo preconceito racial
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Por Juliano Pelegrina

As olimpíadas de 1968 no México tiveram um impacto mundial enorme, principalmente pela influência politica sofrida durante ela os jogos, que foram realizados na Cidade do México entre 12 e 27 de outubro de 1968. Pela primeira vez os Jogos foram sediados na América Latina e a altitude de 2.300m acima do nível do mar da capital federal mexicana gerou controvérsias sobre os danos que o ar mais rarefeito poderia causar no desempenho dos atletas.

 A Cidade do México também foi o ambiente onde pela primeira vez a mulher conduziu a tocha olímpica. A escolhida para isso foi a velocista mexicana Norma Enriqueta Basilio Sotero

O mundo em caos

O cenário pelo planeta era de muita crise. Na França, estudantes estavam em choque com a polícia, os Estados Unidos, Martin Luther King, o líder negro que atuava para integração racial, havia sido assassinado. Robert Kennedy, pré-candidato à presidência dos Estados Unidos, também foi morto por um tiro fatal. Fora a Guerra do Vietnã e a invasão a Tchecoslováquia pela União Soviética. E no Brasil viviamos a Ditadura Militar e tempos bem complicados.

Essa crise mundial alcançou a Cidade do México. Cerca de 10 mil estudantes e professores fizeram um protesto contra o governo repudiando os gastos destinados à realização dos Jogos olímpicos, em um país com tantas necessidades sociais. A polícia reagiu e acabou matando mais de 300, no episódio que ficou conhecido como o Massacre de Tlatelolco.

O preconceito racial marcou as Olimpíadas de 68

Outro fato de grande impacto na realização dos jogos olímpicos foi o preconceito racial escancarado nas divisões dos atletas. A delegação norte-americana era dividida em duas: brancos e negros. Liderados pelo sociólogo e ex-atleta Harry Edwards, atletas negros ameaçaram um boicote aos Jogos. Acabaram voltando atrás, mas o clima de protesto continuou e entrou para história dos jogos. Um desses momentos aconteceu durante a cerimônia de premiação quando dois atletas negros norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, que conquistaram respectivamente as medalhas de ouro e bronze, nos 200 metros rasos, subiram ao pódio com luvas pretas e levantaram o punho esquerdo fazendo a saudação clássica do movimento radical Black Power.

 O Comitê Olímpico Internacional (COI) expulsou-os sumariamente da Vila Olímpica. Mesmo com a punição, outros atletas seguiram as manifestações nos dias seguintes, por exemplo, os três atletas negros Lee Evans, Larry James e Ronald Freeman, que subiram ao pódio com boinas pretas na cabeça, mas durante a execução do hino e o hasteamento da bandeira, os três tiraram as boinas. 

Cubanos também fizeram referências ao líder americano dos Panteras Negras, Stokeley Carmichael quando receberam as medalhas de prata no revezamento 4 x 100 metros.

Desempenho brasileiro nos jogos

Aproveitando a primeira disputa dos jogos olímpicos na América Latina, o Brasil conseguiu o seu melhor desempenho na década. Saiu da Cidade do México com uma medalha de prata e duas de bronze.

No atletismo, o salto triplo novamente rendeu medalha ao Brasil. Depois do bicampeonato de Adhemar Ferreira da Silva, foi a vez de Nelson Prudêncio conquistar a prata. Ele saltou 17,27 metros, novo recorde mundial. Na última tentativa, quando o brasileiro já comemorava a vitória, o soviético Viktor Saneyev atrapalhou a festa verde-amarela e saltou 17,39m, conquistando o ouro.

No boxe, Servílio de Oliveira conquistou a primeira e única medalha da modalidade, bronze nos meio-médios, após perder as semifinais pelo mexicano Ricardo Delgado.

A terceiro medalha olímpica daquele ano veio em uma modalidade que, no futuro, se tornaria a mais vitoriosa do país em Olimpíadas, a vela. Na classe Flying Dutchmann, Reinald Conrad e Burkhard Cordes ganharam o bronze.

O Brasil quase conquistou mais duas medalhas. No basquete, a seleção masculina foi derrotada na disputa pela medalha de bronze pela União Soviética, por 70 a 53. Na natação, José Silvio Fiolo terminou a prova dos 100 metros peito a um décimo de segundo dos soviéticos Vladimir Kosinsky e Nikolai Pankin, medalhas de prata e bronze respectivamente.

Ficha técnica da competição

Quando: 12/10/1968 a 27/10/1968
Países Participantes: 112
Atletas: 5516 (masc: 4735; fem: 781)
Participação do Brasil: 35º lugar
Primeiro Colocado: EUA com 107 medalhas (45 ouros, 28 pratas e 34 bronzes) 
Segundo Colocado: União Soviética 91 medalhas (29 ouros, 32 pratas e 30 bronzes)
Total de modalidades: 20
Total de medalhas distribuídas: 527