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#EquipesF1: a volta por cima da Mercedes após maior tragédia do automobilismo

Depois de conquistar o bicampeonato na Fórmula 1, a equipe alemã se retirou da categoria e voltou, de fato, só em 2010, conquistando o hexacampeonato a partir de 2014

#EquipesF1: a volta por cima da Mercedes após maior tragédia do automobilismo
Equipe Mercedes comemorando o título de Hamilton em 2019 (Foto: Reprodução/F1)
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Por Leonardo José

Nem sempre as trajetórias das equipes de Fórmula 1 estão frescas nas memórias do fã da principal categoria automobilística do planeta. Há 70 anos havia o primeiro campeonato mundial de F1, mas de lá para cá muita coisa mudou, entre elas as equipes, que hoje compõem o grid. Hoje, dez construtoras brigam pelo título, entretanto você conhece a histórias de todas elas?

Assim, VAVEL Brasil relembra os principais momentos de Alfa Romeo, Alpha Tauri, Ferrari, Haas, McLaren, Mercedes, Racing Point, Red Bull Racing, Renault e Williams. Serão duas semanas de publicações, esta primeira terão as cinco primeiras citadas acima. Em seguida, as outras cinco da ordem alfabética. Agora, é a vez da atual hexacampeã de construtores:

Mercedes

A Mercedes-Benz é uma montadora alemã que compete na categoria automobilística Fórmula 1 como Mercedes-AMG Petronas Formula One. Atualmente tem sua sede na cidade de Brackley, Northamptonshire, no Reino Unido. Na década de 10 dos anos 2000, a equipe deu as cartas no campeonato de pilotos e também no de construtores. Mas no início da Fórmula 1, o argentino Juan Manuel Fangio levantou dois títulos de pilotos guiando uma Mercedes, assim tanto em 1954 quanto em 1955 a montadora alemã entrou na história da categoria ao ser a terceira equipe a conquistar um bicampeonato de condutores — Alfa Romeo e Ferrari foram as primeiras a conferir o feito.

Para um jovem amante da velocidade, a Mercedes é sinônimo de soberania quando se trata de Fórmula 1. No entanto, aliás, longe disso, a equipe alemã nunca esteve no topo do campeonato de pilotos desde o bicampeonato conquistado por Juan Manuel Fangio, em 1954 e 1955. E quando se trata do mundial de construtores, o buraco é mais embaixo, pois só em 2014 a taça da principal categoria foi para as mãos da Mercedes, com o alemão Nico Rosberg e o britânico Lewis Hamilton como condutores. Mas vamos por partes.

Na Mercedes, tudo começou no Campeonato Europeu (competição automobilística pré-F1) antes da Segunda Guerra Mundial, vencendo três títulos, o que o fez ganhar confiança e ampliar os horizontes para disputar a temporada de 1954 da Fórmula 1, o quarto ano da categoria. E tudo deu certo no início. Entretanto, por conta do desastre na corrida 24 horas de Le Mans a Mercedes se retirou do automobilismo.

A tragédia das 24 horas de Le Mans em 1955

Espectadores na tragédia de Le Mans em 1955 (Foto: Domínio Público)
Espectadores na tragédia de Le Mans em 1955 (Foto: Domínio Público)

Esse episódio é marcante na história da Mercedes no automobilismo. Naquela edição o próprio Fangio representava a equipe alemã, e fazia frente à Jaguar, guiada por Mike Hawthorn. Na batalha pela vitória na corrida mais difícil da época (Mercedes com freios a tambor e Jaguar com freios a disco), a mais segura Jaguar de Hawthorn precisou frear numa curva, fazendo com que o piloto Macklin, da Austin-Healey, desviasse à esquerda. Sem velocidade na frenagem, Pierre Levegh, condutor de outro carro da fábrica Mercedes, colidiu na traseira de Macklin e voou em direção ao muro, que desintegrou a “Flecha de Prata”. O eixo dianteiro da Mercedes de Levegh foi em direção ao público. Espectadores foram decapitados e também esmagados, matando 83 pessoas, além do próprio piloto Levegh. O fogo também queimou algumas vítimas. Literalmente um desastre, o pior do automobilismo.

Após tudo isso, a corrida seguiu, pois os pilotos e as equipes não tinham noção da gravidade do fato. Tempos depois, o companheiro de Levegh, John Fitch, falou sobre a decisão de abandono da prova por parte da Mercedes mesmo com Fangio na liderança de tal.

“Quando eu estava no telefone, um jornalista que eu conhecia estava falando com um jornal e disse que as informações indicavam que 65 pessoas estavam mortas. Fiquei chocado, pois não sabíamos, estávamos nos boxes. Sabíamos que tinha sido terrível, não tanto. Desci para os nossos boxes. Falei com Rudolph Uhlenhaut, diretor da Mercedes, e falei o que tinha acontecido. Disse: ‘Rudy, talvez não seja a minha área, mas pensando no que aconteceu na guerra, a Mercedes não deve ganhar essa corrida em cima dos corpos de não importa quantos franceses. Não é bom para as relações, não é bom para a Mercedes, não é bom para ninguém'. Ele foi ligar para a cúpula, voltou e disse que os diretores ficaram horrorizados. E então disse que ficou decidido que eles iam se retirar. Moss ficou furioso comigo, pois ele e Fangio estavam na liderança e ele achava que eles iam vencer. Mas superou, hoje somos amigos.”

A Mercedes sugeriu à Jaguar que abandonasse, mas a equipe inglesa continuou e venceu com Hawthorn e Bueb, que comemoraram com champagne, gerando bastante polêmica na época. Mas, até hoje, a Mercedes lamenta a tragédia mas se orgulha pelo fato de não ter corroborado com o espírito competitivo acima do espírito humano, ainda mais quando se tratava de um período recente após as Guerras Mundiais em que a Alemanha, país sede da Mercedes, era vista ainda como nazista pelo mundo.

Ao fim de 1955, a Mercedes largou o automobilismo, mesmo sendo campeã na Fórmula 1. Só retornou, de fato, apostando grande na competitividade, no final da década de 1980, quando já não tinha riscos de ter seu nome atrelado de alguma forma ao nazismo.

Contexto da volta

Nos anos 70, a Tyrrell era forte e venceu o mundial de pilotos com Jackie Stewart em 1971 e 1973. Em 2000, com novos donos, o nome foi mudado para British American Racing (BAR), ficando assim até 2005. Um ano depois, a Honda assumiu a montadora. Mas em 2009, o então chefe da equipe, Ross Brawn, deu origem à famosa Brawn GP, que venceu o campeonato de construtores e o de pilotos com Jenson Button. Logo, em 2010, a equipe foi comprada pela Mercedes, que já fornecia os motores em 2009 para a Brawn. Vale ressaltar que, como fornecedora de motores, a Mercedes abocanhou o título de pilotos com o finlandês Mika Hakkinen, na McLaren.

O retorno, de fato

Michael Schumacher no GP do Canadá em 2010 (Foto: Reprodução/F1)
Michael Schumacher no GP do Canadá em 2010 (Foto: Reprodução/F1)

Em 2010, a Mercedes voltava de vez a competir com o próprio nome na Fórmula 1. Junto a ela, voltava a lenda Michael Schumacher, que tinha como parceiro o também alemão Nico Rosberg. Porém, o dinheiro da equipe e a inteligência de Ross Brawn não foram suficientes para bater a potente RBR de Sebastian Vettel, campeão em 2010, 2011, 2012 e 2013. Mas os ares tomaram forma da equipe alemã a partir de 2014.

Depois de três temporadas com a dupla Michael Schumacher e Nico Rosberg, a Mercedes promove a estreia de Lewis Hamilton em 2013 após aposentadoria de Schumacher. Já em 2014, começa a era de ouro do time alemão.

Equipe Mercedes comemorando o título de Hamilton em 2019 (Foto: Reprodução/F1)
Equipe Mercedes comemorando o título de Hamilton em 2019 (Foto: Reprodução/F1)

Desde 2014, a Mercedes é campeã do mundial de construtores e também do mundial de pilotos. Uma superioridade jamais alcançada por tanto tempo assim na F1. 2014, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019 foram anos totalmente dominados pelos Flechas de Prata.

O britânico Lewis Hamilton levantou o troféu em 2014, 2015, 2017, 2018 e também em 2019. Só não fez a sequência de seis títulos seguidos porque Nico Rosberg foi melhor em 2016. E logo depois do título inédito em sua carreira, Rosberg se aposentou das pistas e deu lugar ao finlandês Valtteri Bottas na Mercedes.

Dessa forma, a Mercedes tem seu espaço cativo ainda maior na história recente da Fórmula 1. E para 2020, tudo indica que a superioridade do time alemão se estenda por mais um ano.