Frente ao atrevido e lutador Tondela, o Benfica arrancou a Liga 2016/2017 aos soluços, apesar da vitória final por 0-2, cortesia dos golos de Lisandro López e de André Horta. Sem conseguir domar o adversário (tarefa que se expectava, dado o diferencial valorativo entre as equipas), os encarnados porfiaram durante os 90 minutos para levar de vencida a formação orientada por Petit, só respirando de alívio após a fabulosa gincana individual de Horta, que terminou em golo.

Com o peso de igualar os triunfos dos rivais no tiro de partida da Liga, o tricampeão entrou hesitante no jogo, permitindo que as investidas madrugadoras do Tondela agitassem os minutos iniciais e perturbassem o plano de controlo que Rui Vitória teria gizado para a partida. Incapaz de encostar o Tondela à sua própria área, e, por isso, falhando na tarefa de reclamar a posse de bola de forma segura, o Benfica viveu momentos de insegurança táctica.

Num jogo de parada e resposta - nada do agrado dos treinadores que pretendem dominar técnica e tácticamente uma partida - as Águias sentiram-se sempre acossadas pelo atrevimento tondelense, sofrendo para estancar a fluídez das saídas para o ataque e vendo o seu meio-campo ser volátil demais para a descomplexada pressão executada pelo ataque e linha intermédia da equipa da casa. Vitória percebeu a pecha e emendou a tempo.

Mas, não fosse o fraco instinto goleador da equipa do Tondela, tais alterações tácticas poderiam ter chegado tarde demais; vendo a sua equipa sufocar na fase inicial de construção (com André Horta, Fejsa e Pizzi constrangidos pela pressão adversária), Rui Vitória, já em vantagem, lançou Samaris e edificou a equipa num 4-2-3-1 com o grego a juntar-se ao sérvio na batalha do meio-campo. O jovem Horta subiu no terreno, ganhando laivos de médio ofensivo.

A partir dessa substituição, o meio-campo encarnado (com maior auxílio central de Pizzi) amenizou os ímpetos do Tondela, estancando o desenvolvimento das suas jogadas e condicionando as movimentações do miolo do terreno adiante. Sem controlar, o Benfica estabilizou o jogo e colocou água na fervura de um Tondela que até então explorava as pechas tácticas do miolo das Águias: o permeável 4-4-2 não ofereceu qualquer sensação de consolidação táctica.

Por que razão? Provavelmente, porque o miolo encarnado sofreu uma alteração de fundo importante, a saída do 'box-to-box' Renato Sanches (e a ausência da sua elevada capacidade de recuperação de bolas) e está ainda a assimilar as mudanças provocadas pela inclusão de um novo jogador (com diferentes características) no processo de construção das jogadas. Ademais, a ausência de Gaitán poderá também enfraquecer a veia criativa encarnada, estancado o jogo a meio-campo.

Ora, enquanto a equipa absorve as introduções de André Horta e Franco Cervi no onze, é natural que a mecânica do jogo sofra contratempos; tanto Renato como Gaitán ofereciam à equipa (cada um da sua particular forma) soluções de construção que permitiam maior eficácia e segurança: Renato com o seu poderio físico empurrava o conjunto para a frente, Gaitán com a sua batuta orquestrava saídas pela via da técnica e da visão de jogo apuradas.

Posto isto, não é de estranhar que seja o Pizzi o elemento que mais tem brilhado neste arranque de temporada: apresentando-se a bom nível, o médio português tem sido o jogador que mais tem contribuído para o desenvolvimento do jogo do Benfica, pautando o ritmo, oferecendo boas soluções na circulação de bola e servindo os colegas com passes meticulosos que resultaram em dois golos (um diante do SC Braga e outro contra o Tondela).

Para atenuar a falta de consolidação deste 4-4-2 (que muitas vezes deixa o miolo desprotegido e parece mutar-se para um 4-2-4), Rui Vitória sentiu a necessidade de lançar mais um centrocampista no jogo, com o objectivo de segurar as ambições adversárias. O tempo dirá se a evolução das integrações de Horta e Cervi (sem esquecer a hipótese de Danilo) permitirá o domínio do 4-4-2 (como em 2015/2016) ou se Vitória terá de reprensar o sistema para o futuro.