Técnico do atual campeão espanhol e do finalista da Uefa Champions League, Diego Pablo Simeone pode ser considerado o treinador em melhor fase no futebol europeu. Clássico volante raçudo, o terceiro jogador que mais vestiu a camisa da seleção argentina consegue colocar em seus jogadores a garra que possui dentro de si e que o marcou durante os clubes que passou, jogando ou treinando. Não é a toa que suas equipes são conhecidas pelo impressionante poder de marcação, sempre pressionando o time adversário, além de um ataque competente tanto na pressão quanto no contra-ataque.

Depois de quase 20 anos de carreira dentro do campo tendo passagem de destaque pela Europa com as camisas de Internazionale, Lazio e do Atlético de Madrid, 'Cholo' pendurou as chuteiras em 2006 para dar início à carreira de treinador no Racing. Após boa impressão deixada na Argentina quando também passou por Estudiantes, River Plate e San Lorenzo, Simeone teve sua primeira grande oportunidade no Catania e livrou o time italiano do rebaixamento naquela temporada. O ótimo trabalho deixado fez o treinador voltar ao Atlético de Madrid, agora sendo comandante. E depois de quase três anos à frente do Atleti, Simeone pode levar os colchoneros ao inédito titulo da Champions League em cima do arquirrival, o Real Madrid de Cristiano Ronaldo, Carlo Ancelotti e cia.

Fim no campo, início no banco: Os primeiros passos de Simeone como técnico na Argentina

Já com carreira feita e títulos conquistados tanto pelos times que passou em seus país e na Europa quanto pela Seleção Argentina, Simeone chegou ao Racing em 2005 para vestir a camisa do clube do seu coração e seu último time como jogador. Jogou apenas um ano pelo time argentino, mas logo após sair de cena como atleta profissional, tornou-se técnico da equipe onde foi comandante pelo resto daquele ano. Apesar dos elogios recebidos pelo trabalho feito com o uniforme de La Academia, Simeone não teve seu contrato renovado, deixando a equipe.

Mesmo com sua saída do Racing, Diego não ficou muito tempo desempregado. Assumiu logo em seguida o Estudiantes de la Plata e já conquistou seu primeiro título como treinador em cima do Boca Juniors. Estudiantes e Boca terminaram o Torneio Apertura de 2006 empatados com 44 pontos, o que acarretou um jogo desempate. Com gols de Jose Sosa - que hoje trabalha com Cholo no Atleti - e Pavone, a equipe platense bateu os xeneizes de Palermo e conquistou um título após 23 anos de espera. Ao longo dos 19 meses que ficou a frente do comando do Estudiantes, Simeone dirigiu o time em 60 partidas, com 34 vitórias, 15 empates e 11 derrotas.

O bom retrospecto dos platenses fez o treinador assumir o lugar deixado por Daniel Passarella no comando do River Plate no final de 2007. E Simeone correspondeu às expectativas, conquistando o Torneio Clausura de 2008 com Los Millonarios. Entretanto, o trabalho de Simeone começou a cair no River, e após uma série de jogos sem vitórias e uma eliminação na Copa Sulamericana para os mexicanos do Chivas Guadalajara, Cholo desligou-se do clube com apenas 20 vitórias em 44 jogos como treinador. E ao contrário das ultimas oportunidades, o técnico argentino ficou um tempo fora dos gramados e só retornou em 2009 para treinar o San Lorenzo. Mesmo com as 21 vitórias, as 18 derrotas sob o comando do clube pesaram e Simeone logo caiu no início de 2010.

A frente do River Plate, 'Cholo' foi campeão do Clausura, em 2008 (FOTO: Getty Images)

'Cholo' na Europa: De 'técnico-bombeiro' na Itália para treinador de ponta na Espanha

Após uma alternação entre bons e maus resultados nas equipes que treinou na Argentina, Simeone foi convidado para treinar o Catania na temporada 2010/2011. O desafio era grande e a missão do argentino era pesada: tirar o time rossoblù do rebaixamento na Serie A. Com apenas um turno para reverter a situação, Diego teve mais derrotas do que vitórias, é verdade - oito contra sete - mas em seus quatro meses de trabalho colocou o time italiano na 13ª colocação do calcio, dez pontos a frente da Sampdoria, primeira equipe na zona de descenso. Missão cumprida com sucesso.

Contudo, após a campanha a frente do Catania, Simeone recebeu no final de 2011 a grande chance de voltar ao Atlético de Madrid, time na qual foi campeão espanhol na temporada 1995/1996, mas agora na função de técnico. O panorama não era como o do Catania na Serie A, mas a campanha mediana dos colchoneros em La Liga incomodava seus torcedores.

Apesar da estreia ruim e um empate sem gols contra o Málaga, a história da equipe mudou. Depois de Simeone assumir o time, o Atleti decolou. Emplacou seis jogos sem perder e voou para a parte de cima da tabela do campeonato espanhol terminando na quinta colocação naquela temporada. De quebra, o argentino levou a equipe colchonera a conquistar seu segundo título da Europa League em três anos com uma vitória dominante sobre o Athletic Bilbao do experiente técnico Marcelo Bielsa, seu compatriota. Naquele 9 de maio de 2012, Falcao García brilhou, marcou duas vezes e deu vantagem para o Atletico. No segundo tempo, o meia brasileiro Diego completou o resultado e garantiu o troféu.

Cholo então seguiu em Madri. E na temporada seguinte, comandou o Atleti em mais duas conquistas brilhantes: a goleada na Supercopa da Uefa sobre o Chelsea, atual campeão da Champions League na época, com outra grande exibição de gala de Radamel Falcao García, autor de um hattrick. Depois, outro feito brilhante, este pelo tamanho da rivalidade. A vitória de virada sobre o Real Madrid no Santiago Bernabeu que deu o titulo da Copa del Rey aos colchoneros na prorrogação. Naquele jogo, Falcao pode não ter aparecido com tanto destaque, mas Diego Costa apareceu na hora certa e marcou o gol de empate ainda no primeiro tempo (Ronaldo já havia feito para os merengues). No tempo-extra, brilhou a estrela do zagueiro brasileiro Miranda, que subiu mais que todo mundo e fez o gol do título.

Colchoneros levantam Simeone na conquista da Copa del Rey sobre o Real (FOTO: Javier Soriano/Getty Images)

Na atual temporada, Simeone foi peça fundamental na conquista do Campeonato espanhol e na conquista da vaga para a final da Uefa Champions League. Fez a equipe brigar de ponta a ponta na competição nacional contra os dominantes Real Madrid e Barcelona e derrubou Milan, Barcelona e Chelsea no torneio continental para chegar ao Estádio da Luz, em Lisboa, palco da final.

No campeonato espanhol, Simeone foi responsável por botar seu time na briga desde o início da competição. Os 50 pontos conquistados no primeiro turno mostraram a força coletiva do time que Simeone tinha em mãos, e a disputa pelo título espanhol foi ganhando emoção sempre com os dois times de Madri e o Barcelona. Na ultima rodada, restaram Atleti e Barcelona. Num Camp Nou com mais de 96 mil pessoas, parecia que nada daria certo aos colchoneros. Primeiro Diego Costa, depois Arda Turan. Dois dos principais jogadores do time saindo por lesão ainda no início de partida. Para completar, Alexis Sanchez recebeu de Messi e marcou um golaço, botando o time blaugrana na frente.

Normal seria o abatimento da equipe com o grande numero de problemas em apenas 45 minutos. Seria. Com um poder mental impressionante e forte concentração (ambas qualidades passadas por Simeone), o Atlético voltou outro para a segunda etapa. Voltou a ser o Atlético de toda a temporada. E com seu estilo de jogar já conhecido, se impôs dentro do campo e conseguiu o empate graças ao gol de cabeça de Godín. Gol de um uruguaio que possui a raça que Simeone tem e gosta. Gol que deu La décima. Mas para o Atleti. Festa para os 447 torcedores colchoneros presentes ao estádio do Barcelona.

Já na Europa, Cholo colocou seu time na final da Champions League depois de 40 anos de forma justa e invicta, impondo seu estilo de jogo seja dentro ou fora de casa. Venceu todas as partidas que disputou no Vicente Calderón. Na fase de grupos, bateu em Porto e Austria Viena tanto na Espanha quanto nos países dos adversários. Ganhou também do Zenit em casa, empatando seu duelo na Rússia.

Na fase de mata-mata, neutralizou Milan no San Siro e graças ao gol de Diego Costa, venceu os rossoneri em Milão. Na volta, goleada tranquila com mais dois gols do hispano-brasileiro: 4 a 1 sem pena. Com sua característica marcação forte, conseguiu segurar Messi e o Barcelona nos dois jogos das quartas de final. Aliás, Simeone conseguiu parar Messi nos últimos sete jogos que teve seu compatriota como adversário. Garantiu um empate no Camp Nou com um golaço de Diego Ribas e sufocou desde o início o time de Tata Martino na segunda partida. O gol de Koke no início da primeira etapa foi suficiente para garantir a vaga nas semifinais.

'Cholo' levou a melhor sobre Mourinho no reencontro entre os dois (FOTO: Reuters)

Simeone então voltou a encontrar José Mourinho, desta vez no Chelsea. No jogo de ida, um duelo de xadrez entre os dois treinadores e um empate sem gols na Espanha. O resultado era bom para o time inglês e muitos já davam o Chelsea como grande favorito para a final. Engano. Mesmo com o doloroso gol sofrido por Fernando Torres, ex-Atleti, Adrian López, Diego Costa e Arda Turan calaram o Stamford Bridge e botaram o time espanhol na grande final.

Ao todo, foram 25 gols marcados na Champions League em 12 jogos. Já em toda a temporada, foram 60 partidas disputadas com 42 vitórias, 12 empates e apenas seis derrotas, com 115 gols a favor e 41 sofridos.

No sábado (24), Diego Simeone tem a grande chance de dar mais um passo importante na sua carreira. Mais do que isso é poder ter a oportunidade de cravar seu nome em definitivo na história do Atleti. Ou, quem sabe, apenas confirmar o que a torcida colchonera já sabe sobre o argentino.